quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Crônicas de um pai: cuidados médicos

Crônicas de um pai: cuidados médicos

as primeiras horas após a cirurgia foram de dúvidas, achei por bem poupá-la do joelho roto, das manchas e dos pontos. logo relaxamos, estendeu o seus dedos pequenos para tocar a minha dor. fez-se minha cuidadora ao me perguntar se estava melhor para em seguida me convidar para jogar bola. ensaboa os meus joelhos e se diverte quando coloco gelo. cheia de cuidados e de afagos e ao mesmo tempo pedindo que lhe faça cócegas.

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando

Ela pergunta sobre tudo e pede ajuda a todo instante para entender os ruídos e as conexões do mundo. Nega com a cabeça o que não lhe agrada ou lança os polegares para o alto em sinal de aprovação.
Caminha nas pontas dos pés e canta, ao mesmo tempo. Oferta sorrisos e, no meu caso, caminha junto aos meus calcanhares para trazer-me a bengala perdida noutro cômodo.
E, após uma jornada longa, leva as mãos aos olhos e diz que está 'soninho'. Mas, antes de se render quer 'pae'. Custamos a descobrir que ela queria comer pae (tone) perto de meia-noite. Ela cresceu e nos demos conta, por fim.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Crônicas de um pai: vou ao espaço, quero a lua

Crônicas de um pai: vou ao espaço, quero a lua

dia desses estávamos os três juntos quando lulu nos comunicou o seu desejo da hora: ir ao espaço conhecer a lua. eu e a mãe entendemos de pronto a vontade, levamos algum tempo para acreditar e, logo, conjecturamos que está na hora de mudar o repertório de desenhos. não, não e não, ou melhor, sim, sim ao seus sonhos, sim aos projetos que vais sonhar hoje e amanhã, simplesmente, sim. mas, cá entre nós, precisávamos começar pela lua? o que achas de ir ao parque visitar o escorregador antes de partir para alhures.



sábado, 15 de dezembro de 2018

Crônicas de um pai: joelhos

Crônicas de um pai: joelhos

Dias atrás operei o meu joelho, além do desconforto da cirurgia e das dificuldades de recuperação havia os cuidados com a pequena Luíza. Nas primeiras horas não a deixei ver o meu sangue, escondi bandagens manchadas dos seus olhos. Claro que um pai sangra, mas quando mesmo revelamos que nosso sangue assemelha-se ao carro dos bombeiros?

Ela ofereceu-me os seus cuidados de mocinha de dois anos, correu atrás de mim para entregar a bengala que larguei noutro cômodo, pediu 'cuidado, papai' pouco antes de me convidar para jogar bola em nosso quintal, ajudou-me a colocar gelo sobre a cirurgia e, ao mesmo tempo, convidou-me para pular na cama.

É verdade, não sabia o que lhe dizer a respeito da cirurgia, falei-lhe que estava machucado e que ficaria bom, no mais não poderia tomá-la em meus braços e erguê-la até os céus, não subiríamos escadas grudados, era necessário aguardar, dar tempo ao joelho.

Vany desespera-se e ameaça nos colocar de castigo, eu e Lulu nos mantemos firmes. A recuperação segue bem, estou cercado de cuidados e zelos. Maria Luíza ganhou lições a respeito da saúde de seus pais. Encarou tudo com curiosidade de quem quer saber mais sobre os pontos e as cicatrizes novas do meu corpo. Ajuda-me com seu dengo de mocinha de dois anos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Crônicas de um pai: 'que barulho é esse?'

Crônicas de um pai: 'que barulho é esse?'

É o liquidificador fazendo comida. 'Que barulho é esse?'
É a geladeira da nossa cozinha. 'Que barulho é esse?'
É uma motocicleta subindo a rua. 'Que barulho é esse?'
É a dona galinha cacarejando. 'Que barulho é esse?'
É o avião lá no céu. 'Que barulho é esse?'
É a bengala do seu pai quicando. 'Que barulho é esse?'
É a máquina de lavar roupas. 'Que barulho é esse?'
É o papagaio conversando. 'Que barulho é esse?'

'Papai, que barulho é esse?'

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Crônicas de um pai: As gatas e gatos da Arca de Noé

Crônicas de um pai: As gatas e gatos da Arca de Noé

Ainda busco fôlego, ainda rememoro as maravilhas das últimas horas experimentadas na festa de encerramento do berçário de Maria Luíza. O tema era a Arca de Noé e nossa filha vestiu-se de gata. Dançou e cantou o seu charme de mocinha de 25 meses de idade. Experiente e segura, sim, muito segura. Ao abrir a cortina do palco mostrou sua carinha de espanto com a quantidade de pais e convidados que havia no salão. Escancarou o ooohhh! Levou até mesmo a mão pequenina para esconder e declarar, ao mesmo tempo o seu assombro. Aos poucos ouviu a música e apresentou a coreografia. Divertiu-se, divertiu-se muito. Ao término ouviu os aplausos e os retribuiu.

beijo, luzinha

A Professora Rita a ajudou, grato grato grato.
(A irmã Iolanda de São José sorria feliz e realizada)

Crônicas de um pai: mamadeira? mamadeira, mesmo!

Crônicas de um pai: mamadeira? mamadeira, mesmo!

As primeiras horas não foram fáceis, mãe e filha não estavam certas do início da mamada, sabiam o que fazer, mas a ansiedade da primeira vez as atrapalhava. Era a madrugada do dia 27 de outubro de 2016. Por recomendação de uma enfermeira busquei em farmácia o que chamam de bico de silicone. 'Tomara que ajude!'. Não foi preciso, mal foi usado, ou melhor não foi usado. Mãe e filha entenderam-se e o céu escancarou-se em uma cachoeira de lágrimas.

O correr dos dias foi sereno. Cedo ela aprendeu a distinguir mamar no peito e na mamadeira. Lulu sabia o que queria e aprendeu a pedir. Ainda acorda de madrugada para mamar, mesmo com mais de 2 anos e depois de ter batido uma feijoada completa de entrada e degustado dois pratos de macarrão com brócolis. Lulu segue feliz.

Hoje pela manhã decidiu renomear o mundo. Perguntei-lhe se desejava 'tetê!? Respondeu-me de pronto que queria mamadeira. A cozinha de nossa casa mudou de cor no mesmo instante, Lulu cresceu, mais uma vez!

Crônicas de um pai: Papai, papai

Crônicas de um pai: Papai, papai

Os sinais estão sobre a cômoda de madeira antiga da sala. Lâmpadas coloridas, árvore de faz de conta e um Papai Noel. O presépio tudo assiste e reforça o dia da festa e o desejo de recomeço. Maria Luíza não cabe em si de tanto contentamento. O mundo veste-se e aguarda. Há tempo para assistir animação e para jogar bola, comer manga e pedir mais, correr descalça pela casa a buscar sorrisos largados pelos cômodos. 'Papai, Papai venha aqui, dá mão, calce os sapatos!

Dia desses quando voltávamos para casa esforcei-me o mais que pude para acompanhar as suas frases. Eram longas e tratavam de tudo que havia ao seu redor e de suas descobertas. Muitas vezes eu perdia o sentido da frase, permaneci o tempo todo fiel ouvinte, dei-lhe meus ouvidos e minhas mãos. Ganhei nomes, dei-me conta que para além do sentido da frase em todas eu era nomeado, chamou-me e cantou-me. Encantado, falei-lhe do meu amor.

'obrigada, papai!'

domingo, 2 de dezembro de 2018

Crônicas de um pai: 'só um pouquinho, mamãe!'

Crônicas de um pai: 'só um pouquinho, mamãe!'

Nossa mocinha, dia desses, brincava com os seus potes coloridos. Adora enchê-los de água e transferir de um para o outro o conteúdo. Ora silenciosa, ora cantarolando os seus sucessos de mocinha graciosa e feliz. Lulu permanece entretida longos instantes em seu mundo de faz de conta desde muito cedo. A mãe passava roupas, ou melhor, ocupava-se de um contêiner de roupas de Lulu e algumas peças nossas, acompanhava, ao mesmo tempo, as reinações dos potes coloridos de nossa filha. Vany perguntou: 'Lulu, você está molhando a minha cozinha?', ao que Lulu respondeu: 'só um pouquinho, mamãe!'. A mãe que tudo via sabia da extensão das águas, mas não resistiu e ficou a rir junto à nossa filha. Era linda tarde da primeira sexta de dezembro.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Crônicas de um pai: quero saber

Crônicas de um pai: quero saber

Ela segue disposta e se divertindo. Adora ouvir os versos de uma canção que diz 'quero saber'. Eu trato de ajudá-la o melhor que posso. Voa meu passarinho!

Crônicas de um pai: correr atrás de estrelas


Crônicas de um pai: correr atrás de estrelas

Maria sabe reconhecer o dia e a noite, aprendeu que a lua vem lhe dizer boa noite e pinta o chão seu quintal todos os dias. Agora pede para ver estrelas, pede colo para ficar próxima do céu. Põe-se a buscar os pontos pequeninos de luz. Apesar de ficar triste e algo decepcionada  com a raridade de pontos luminosos mostra-se atenta e alegre.
Outro dia chegava ao quintal em meus braços, agora corre ligeira e fica a chamar pelas ‘estêlas'. ‘Qué subi’ diz e lá vamos nós, os degraus ficam cada vez menores e as poucas estrelas crescem para nos receber. Lulu fica feliz e aponta o rumo que devemos tomar.

Crônicas de um pai: alfaces

Crônicas de um pai: alfaces

Lembro-me que era domingo, Lulu e Vany plantaram em duas jardineiras alfaces e tomates. Passaram parte da manhã preparando terra e sementes. Lambuzaram-se além da conta, sobretudo, fácil imaginar...a mãe. Disse-me que era para salvar as sementes ou as jardineiras, não me recordo mais. Pois bem, dias depois, após as chuvas e o sol forte, as jardineiras deram vida. Os tomates ainda crescem, mas os pequenos pés-de-alface já dão o ar de sua graça. Lulu ajuda-me a regá-los para enfrentar os dias quentes e, a cada vez pede a sua recompensa: uma folha diminuta de alface que come sem receios. A safra mal deu sinais e já está a acabar.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Crônicas de um pai: não, papai!

Crônicas de um pai: não, papai!

Já lhe disse, minha filha, sou chato, eu a aborreço quando está entretida assistindo desenho, ouço você dizer 'não, papai!' rindo de meu jeito tolo e franco. Consolo-me ao perceber que quando a deixo não se passam instantes e ouço aquele par de diminutos pés me procurando: 'pai, onde ce tá?'

Crônicas de um pai: quero saber

Crônicas de um pai: quero saber

Ela segue disposta e se divertindo. Adora ouvir os versos de uma canção que diz 'quero saber'. Eu trato de ajudá-la o melhor que posso. Voa meu passarinho!

Crônicas de um pai: picoca e bróque

Crônicas de um pai: picoca e bróque

Aos dois anos há pratos que Lulu adora, entre outros, estão as picocas (pipocas). Há mesmo um ritual de final de tarde, logo após o banho e o jantar, Lulu pede picoca. Lembro-me das primeiras vezes quando eu e Vany desmanchávamos as pipocas para que não houvesse risco para nossa filha. Era, lembro-me hoje, engraçado. As pipocas de Lulu ficavam à parte, pequeninas para que pudesse comer sem perigo e, no entanto, ela queria encher a mão com punhados generosos. Corríamos para manter o seu pote cheio e para lhe pedir que comesse de maneira calma, mas nada, ela sorvia picocas em ritmo frenético.
O bróque (brócolis), de igual maneira, some de seu prato. Não adianta colorir o seu prato com diversos alimentos, o bróque será o primeiro e, dependendo do dia, a refeição principal. Em nossa casa, mais de uma vez, o brócolis que deveria servir dois adultos e uma mocinha, muitas vezes, saciou apenas nossa filha.

Crônicas de um pai: cantar em árabe

Crônicas de um pai: cantar em árabe

Sentada no colo da prima Bianca, Lulu estendeu a mão para a avó Nadima. Divertiam-se as três gerações, entre o quase esquecimento dos versos por parte da avó e a neta que dizia feliz que eram os seus dedinhos: 'dedinhos, vovó'!. Bianca era a ponte generosa que ligava uma e outra, a que lembrou-se da brincadeira de versos em árabe para falar de mãos e dedos.

ps. não sei agradecer. A prima Giovanna mesmo doente foi nos ver, o primo Fábio aprendeu a fazer bolo de cenoura (o favorito de Lulu), o primo Fábio, esposo da Bianca, mesmo cansado, foi nos ver. Gratidão!

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: os pedidos

Crônicas de um pai: os pedidos

Dominando a linguagem e as situações surgem as demandas mais engraçadas e inusitadas. Nada a estranhar se em uma mesma frase Maria disser:

'Papai, mamãe quero irmãozinho e quero chocolate'.

é o poder ultra jovem....

Crônicas de um pai: de repente, 2

Crônicas de um pai: de repente, 2

Dois anos atrás estávamos em maternidade de São Paulo aguardando o nascimento de nossa primeira filha. Antes de nos internarmos visitamos Santa Teresinha que, nos últimos 70 anos, tanto atendeu minha família. Meus avós chegaram ao bairro ainda nos 40 do século passado e ali os seus filhos ganharam asas na metrópole.

Imaginávamos e esperávamos que o parto fosse natural, mas Lulu não queria dar o ar de sua graça. Esquivava-se e nos demos conta de que não era possível esperar mais. A mãe era exigida, estava no limite de suas forças, mas permanecia disposta.

Leopoldo, chefe da equipe de médicos seria o responsável por cuidar de minha família. Nos falamos enquanto nos preparávamos para entrar na sala de cirurgia. Vesti-me de atendente e aguardei. Os minutos eram longos e a expectativa densa. Lá estava eu aguardando a revelação ao mundo de uma filha. Soubemos apenas poucas semanas antes que seria uma menina. Lembro-me de que ao sair da clínica fiquei algum tempo olhando para o firmamento e liguei para a minha madrinha, tia Nadima, a primeira a saber que eu seria pai de uma menina.

Quando fui chamado à sala de cirurgia, Vany estava sob efeito da anestesia. Ela estava feliz e falante, mais do que o habitual. A cirurgia havia começado e ela não se dera conta. Sentei-me ao seu lado em um banco do tamanho de um prato de sobremesa. Estávamos emocionados e preparados. Dividia-me entre olhar e afagar a mãe e espiar por cima de lençóis para saber por andava a nossa Maria.

Ela surgiu, zangada e incomodada. 'O que estão fazendo?! Eu quero a minha mãe!'. Maria berrava, mostrou-nos os seus pulmões. A equipe julgou que ela queria ser cantora. Tão pequena e já decidida do que ser.

Foi pesada e aproveitou para fazer xixi no equipamento hospitalar. Chorava ainda quando a peguei pela primeira vez. Estava embrulhada e assustada. Ainda sentado naquele banco de crianças eu a tomei e a trouxe para junto da mãe. Ao se dar conta da voz de Vany ela serenou e deu-se conta de que não estava sozinha. Ela era linda!
Vany chorava tudo e algo mais.

As roupas ficaram curtas, as latas de leite foram embora, a expectativa deu lugar à certeza serena de que vamos bem. (As rosas brancas da entrada de nossa casa não cessam de nos lembrar de que os tempos são de ouro)

E, hoje, dia 26 ela completa 2 anos. (24 + 9 = 33 meses). Ela está bem, ainda acorda chamando por nós cheia de dengo. Ela pede abraços e diz o 'obrigada, papai' mais doce de minha vida. Toda menininha ganhou a sua primeira pulseira colorida depois de Vany se cansar de vê-la usar as suas maria-chiquinhas nos pulsos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: achar graça

Crônicas de um pai: achar graça

Não sabemos quando começou. Há tempos Lulu abriu espaço em seu repertório para desenhos e quadrinhos. Aos poucos compreende o que assisti e acompanha e, agora, aprendeu a achar graça. Ri do tropeção, ri da dissimulação, acha graça de uma cena, Maria aprendeu o sentido da graça, não mais aquela simples que buscava fazê-la sorrir quando bebê, falo daquela que pede discernimento. Ela é uma menina quase mocinha, sem dúvida.

Crônicas de um pai: hospitais

Crônicas de um pai: hospitais

Eu os detesto! A sensação desconfortável de que algo saiu da linha, de que uma bactéria está descontrolada e causando mal, de que ossos estão quebrados. Sim, dores dizem que há algo fora do lugar e que, de alguma forma, deixei a porta aberta ao risco. Ninguém dirá que está adoentada a pequena Maria querendo descobrir o que há além de cada porta de vidro.
Há a girafa, nome que domina bem, inclusive o fonema que tanto trabalho lhe dá. Quase noventa centímetros, 'Deus do céu! Quanta menina em meus braços!' A sala da pediatra de plantão nos aguarda, de tão atento me torno desatento ao suco que levo nas mãos e o deixo cair. Não chego a molhar a mãe e a médica. Nem uma, nem outra riem da minha situação patética, apenas minha Lulu, ela está bem. Medicada e de volta para casa.

ps. Adeus, hospital! Grato!

Crônicas de um pai: conversas com o pai

Crônicas de um pai: conversas com o pai

'papai, o que cê tá fazendo'

estou fazendo a sua mamadeira

'papai, o que cê tá fazendo'

estou fazendo a sua mamadeira

(ela tornará a perguntar com o mesmo gesto
de inquietação, parará apenas quando eu lhe oferecer
a mamadeira dizendo

'eeebaaa! qui delícia'

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: conversas com a mãe

Crônicas de um pai: conversas com a mãe


'Mamãe, quê ce tá fazendo?!'

lavo louças, minha filha

'dá mão, vem comigo'

do que precisa meu amor

'pega chave, passea'

filha, está chovendo

'pega meu chuva, cadê meu chuva'

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (3)

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (3)

Passo a ouvir 'papai' dezenas de vezes ao longo do dia e fico a lembrar das primeiras palavras e de como nos perguntávamos quando o vocabulário dela despertaria. Quando as meias encurtam e as marcas dos calcanhares ficam no meio da sola do pé, aliás, o macacão de dormir usado ainda ontem é bom exemplo: as pernas mal cobrem as canelas.
Quando ela segue o familiar hábito diário de chocolate e, de repente, diz 'chocolate, papai!, qué chocolate'! Outro dia, mamava e agora diz o que tem vontade de comer. Você se dá conta de que ela cresceu quando ela nomeia o mundo de acordo com os usos que lhe dá. O triciclo ora é 'velocípe', ora 'abacaxi'; sim, abacaxi, por que ela roda pela casa cantado 'piui abacaxiii'.
Sim, ela cresceu quando ao chegar à casa do Padrinho ela se põe a procurá-lo e lá pelas tantas levanta os braços e diz: 'cadê o padinho?!'

Crônicas de um pai: por que assim?

Crônicas de um pai: por que assim?

Não deixo de me surpreender com Lulu. O riso grande e farto, a disposição e a alegria para o que há além da porta de seu quarto, ela me comove. No dia de seu batizado ganhou um pequeno terço de sua madrinha, cada vez que pede para brincar em seu quarto, antes de iniciar as suas reinações solicita o tercinho para usar entre os seus dedos. Mãos levantadas e sorriso largo para exibi-lo e saudá-lo. Lulu está feliz, chama pela mão para brincar - dá mão!' -, quer todos juntos e ao seu redor. A vida é um milagre!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: a última viagem

Crônicas de um pai: a última viagem

A última viagem de minha mãe foi uma visita a Aparecida. Ela contava mais de 90 anos e a sua mobilidade estava comprometida. Caminhou feliz e sentou-se em bancos de tijolos como se fosse ainda jovem. Nada queria perder, tudo desejava tornar a fazer. Por razões várias, o dia da Padroeira é de Dona Nassima, também.

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (2)

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (2)

Após o banho do final da tarde ela se antecipa e lhe diz 'qué papa', ainda ontem você a chamava para comer, agora, algo mudou. Quando ao comer ela diz o nome de cada alimento, se deseja o que lhe é oferecido retribui com os polegares bem junto ao rosto em sinal de positivo, se não, virá o rosto e diz 'não'.
Você se dá de que ela cresceu quando leva para o banho a boneca e lhe pede sabão para lavá-la. Quando ela aprende a dizer que sente dor e diz como aconteceu o machucado. Quando ela reconhece caminhos e lugares. Sabe dizer quando entrou na rua de casa e quem são os amiguinhos que encontrará em sua escola.
Quando ela entra no banho e se coloca a dizer 'qui delícia' e você se lembra dos primeiros dias quando dava banho em uma menininha que ficava apoiada sobre o seu braço o tempo todo de tão pequenina.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: thumbs up

Crônicas de um pai: thumbs up

Agora é assim, o quibe abriu a refeição de Lulu. Ganhamos o primeiro thumps up da noite, depois disso, o espaguete rendeu-nos o segundo. Não estou certo de como tudo começou, mas estamos nos divertindo. Ela traz os polegares bem junto ao rosto e sorri.

Crônicas de um pai: mudanças

Crônicas de um pai: mudanças

O apetite cresceu e mudou. Afinal não é possível esperar que aos dois Lulu banqueteie-se tal como fazia seis meses atrás. Ainda é boa de garfo, mas agora alterna boas refeições e outras sofríveis. O problema são os pratos cozidos, há dias em que diz não frango e ao arroz, no entanto, frutas e legumes a salvam. Fico a imaginar aquela pequenina e as mudanças todas que enfrenta. Outro dia mal andava e agora caminha pulando. Não é fácil crescer, não é fácil ouvir as sinapses estalando estrelas e fogos.

Crônicas de um pai: o jacaré

Crônicas de um pai: o jacaré

A paixão da vez são as canções que trazem jacarés. Galinhas e corujas, cães e sapos estão fora do jogo. E lá vamos nós procurar as canções, saltamos páginas e no caminho bloqueamos alguns entulhos. Descoberta a canção do jacaré que come o dedão do pé a farra está feita. Ela ri satisfeita e feliz. (Eu rio feliz com a alegria dela.)

sábado, 6 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: receita certa, as panquecas da mãe

Crônicas de um pai: receita certa, as panquecas da mãe

Os últimos dias foram exaustivos, afinal criar cardápios não é tarefa simples. Lulu sempre foi boa de garfo, comia de tudo e pedia mais. Cremos que o resfriado que persiste a deixa incomodada a ponto de alterar o seu apetite. O jantar de ontem foi uma dessas ocasiões nas quais tentamos e tropeçamos. Do prato inicial, Lulu não deu a mínima ao seu amado brócolis que ficou perdido no meio do prato. Voltou-se para o ovo cozido que devorou. No entanto, o sucesso que habilitou, uma vez mais, a cozinha foi a receita de panquecas de carne moída de Dona Vany. Ufa!!! Pobre Vany, dormiu a pensar na mistura de hoje..

Crônicas de um pai: quase dois

Crônicas de um pai: quase dois

Em breve serão dois anos, dois anos em sua companhia, dois anos de aventuras luluzianas, dois anos nos quais eu e Vany aprendemos e, agora sei, nos tornamos ainda mais próximos, mais amantes, afinal, criamos a nossa pequena grande família.

Crônicas de um pai: areia e aveia, em casa

Crônicas de um pai: areia e aveia, em casa

Refeita das reinações em seu tanque de areia, alimentada e banho tomado é hora de dormir. Descansa e de tão fatigada sequer vira de lado, dorme sono profundo e distante agarrada à ovelha fiel. Ao acordar Lulu é manhosa. Ronrona ao sentar-se na casa, pede colo, solicita mais do travesseiro e da cama. Levantar-se é processo lento e preguiçoso. Calçada e no chão, há muito a fazer, percebe os rumores da cozinha e caminha aos pulos para saber o acontece em sua casa. Dona Vany prepara um bolo de aveia. Lulu fica confusa com as palavras, tão parecidas e diferentes. Digo-lhe que pode comer, que deve experimentar a textura da aveia. De forma lenta a pequena mão acaricia e experimenta a aveia. Empolga-se e sorri para as suas reinações.

Crônicas de um pai: areia e aveia

Crônicas de um pai: areia e aveia

Já houve tempo em que Maria caminhava pelas nossas mãos até o gramado do parque. Ela gostava de sentir os pés descalços roçando a grama úmida do sereno da manhã. Sentava-se no chão e procurava 'fozinhas' (florzinhas). Criava pratos imaginárias e fartava-se de tanto comer e dar de comer aos pais. Agora, tudo mudou. Na última vez em que chegou ao parque havia em seus gestos uma terna resistência. Quando se percebeu descalça começou a caminhar para sair do parque e buscar o tanque de areia. Não houve conversa, queria 'binca nareia'. Não havia choro de manha, apenas a expressão de uma vontade, a necessidade de correr na areia e criar as suas construções (criar e desmanchar). Eu e Vany mudamos os planos, deixamos a grama e fomos para a areia. Fomos felizes, nossa menina-quase mocinha de forma espontânea nos contava do que precisava.

ps. francamente, por que não percebemos antes? afinal, quando dirigíamos até o parque nossa Lulu de sua janela favorita reconheceu a paisagem dos caminhos que levam ao parque e gritou 'binca nareia'.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Crônicas de um pai: o meu coração

Crônicas de um pai: o meu coração

Há razões desconhecidas e caminhos novos, há que se seguir. Aprumar-se e dizer sim.

Crônicas de um pai: casulos e pupas

Crônicas de um pai: casulos e pupas

Maria toca o meu rosto pedindo que eu me vire. Ela afaga meus cabelos ao mesmo tempo em que os deixa em desalinho. Volto-me para ela e vejo o seu sorriso de quem se diverte comigo. Insiste para que eu torne a virar e ajeita meus cabelos ainda molhados. Ri feliz, ri a sua vida e a minha em um instante. Peço que me conte sobre as borboletas que ainda vivem em casulos e que moram em sua escola. Fala-me de pupas e crisálidas de seu mundo de menina. Conta-me que anda incomodada e disposta, incomodada com todas as mudanças que anda a viver e disposta para o mundo que se apresenta frente aos seus olhos.

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando

Ela já calçada volta ao quarto em busca de outras sandálias e lhe diz 'essa aqui ô'.
Quando ela usa a maria chiquinha não para segurar o cabelo, mas no braço como se fosse pulseira. (As tentativas de tirar do braço para colocar no cabelo trazem tempestades de verão)
Quando você diz que vai sair e ela volta do quarto carregando uma bolsa de mão com cara de urso branco e ela lhe pergunta 'cadê a chave?'

Crônicas de um pai: espaço pequeno

Crônicas de um pai: espaço pequeno

Dia desses, Maria dormiu em nossa cama. Ela havia tomado vacina e para melhor monitorar possíveis reações - febre e choro - dormiu entre nós. Quando ela se dá conta que dorme entre nós, os movimentos durante o sono mudam. Cabeça, braços e pernas buscam ligar pai e mãe. Acordei com dificuldades para respirar, dei-me conta de que a cabeça de Maria estava sobre o meu pescoço ao passo que as suas pernas sobre o peito da mãe. Ela dorme assim e ressona, não importa se o espaço é pequeno ela encontrará meios de o ocupar e de assinalar a sua presença entre nós. Felizmente a noite foi tranquila - na medida do possível - e Maria acordou disposta para as suas reinações de menina-quase mocinha.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Crônicas de um pai: dá mão!

Crônicas de um pai: dá mão!

Dia desses Vany perguntou-me se havia aprendido a brincar com uma menina, na hora nada respondi, fiquei pensando. Sim, aprendi a vestir bonecas e, aos poucos, aprendo a pentear e desembaraçar cabelos. (Mas isso não aconteceria também se menino fosse?). Aprendi a pintar com minha filha e a fazer das mãos carimbos para colorir. Aprendi porque Maria está ali para me ensinar. Ofereci-lhe uma kombi rosa da qual fez morada de pedras de cânfora. Francamente, é como se permitir levar pela água. Se a colher de pau da cozinha ou o alicate da mala de ferramentas servem aos seus jogos, eu a acompanho, se o bicho de pelúcia ou o livro de ilustrações dos palhaços são nomeados, lá vamos nós. Aos 23 meses de idade ela guarda o repertório e a sequência de seu roteiro de brincar. A energia inesgotável para buscar exaure as minhas pernas cansadas, a disposição para sorrir e se alegrar ao me ver devolvem-me o alento.
('venha me dar a mão, pequeno milagre!')

Crônicas de um pai: o zigurate da Santa Teresinha

Crônicas de um pai: o zigurate da Santa Teresinha (aula de história antiga)

A lateral externa da Igreja estava em reformas, sábado último, início de novena, foi aberta aos que chegavam. Maria Luíza esquadrinhou e pulou, subiu e desceu o zigurate (sim, era isso mesmo, de tão grande e alto, era obra da Velha Mesopotâmia) que dava acesso à lateral da nave. Ela não caminha, saltita, pula e sorri. (Estava feliz)

Crônicas de um pai: eu amo a minha vida

Crônicas de um pai: eu amo a minha vida

Feliz por estar aqui, vivendo com quem vivo e fazendo o que faço. Ouvindo meu pequeno tesouro pedir colo enquanto abre os braços para me receber. O passado no qual chovia é tão distante que custo a crer que existiu um dia. Todavia, há saudades e desejo. Não, não eram chuvas apenas, havia aqui e ali momentos luminosos, saudades deles, saudades de quem os criou e cultivou. Feliz por estar aqui, amo a minha vida.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Crônicas de um pai: dueto

Crônicas de um pai: dueto

Maria ama tomar banho, escolhe quem a acompanhará; será a sua boneca ou o gato de borracha, a kombi ou a tartaruga amarela?

Agora secar-se ganhou nova dimensão em sua vida. Antes sair do banho significava deixar brinquedos e a água para trás. Dona Vany descobriu maneira de consolá-la: elas cantam.

O dueto é afinado, muito afinado. Maria não apenas cantarola as canções, conhece os versos e os canta, de fato.

Crônicas de um pai: os ipês amarelos de minha rua

Crônicas de um pai: os ipês amarelos de minha rua

Eles estão floridos, carregados e coloridos. A rua ao redor dos troncos fica alegre, colorindo de amarelo o cimento cinza e o asfalto negro.

Maria lembrou-me a sua avó Nassima, minha mãe era mulher atenta aos sinais da natureza. Amava plantas e dedicava parte de seu dia ao cultivo. Ao acordar saudava as suas amigas.

Dia desses, Maria mostrou-me as flores amarelas de nossos ipês, tal como a sua avó, despertou-me para o que estava à minha frente e eu não me dera conta.

(Os ipês de Nassima e de Maria estão em flor, minha mãe na semana que passou faria 95, Maria, em breve, chegará aos 2 anos; apesar de separadas pelo tempo, estão juntas)

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Crônicas de um pai: cadê o passarinho ?

Crônicas de um pai: cadê o passarinho ?

Dias atrás, ela bateu pernas atrás de passarinhos em uma chácara. Divertiu-se observando e descobrindo os segredos do voo. Encantou-se com o ninho e muito mais. Acordou cedo apenas para ouvi-los chamar pelo seu nome.
De volta a São Paulo, Maria me pergunta cadê o passarinho e eu engasgo para explicar que a cidade grande na qual ela nasceu, não é boa para os passarinhos e eles estão a fugir para outros morros.

Crônicas de um pai: certo dia

Crônicas de um pai: certo dia

Certo dia a pequena Maria tomou em seus braços a sua amiga de brincadeiras e a ninou. A sua linguagem bebê servia-lhe para acalentar a fiel escudeira. Ficamos encantados com a cena de um bebê embalando de forma carinhosa a pequena ovelha Cacá. Eu e Vany nos demos conta que havia ali um salto. Os dias e as cortinas voam, Maria cria frases cada vez mais longas, períodos completos. Os jogos de ninar são acompanhados de declarações e de votos, Maria é uma menina, pequena e encantadora. Reúne brinquedos e objetos para viver as suas cenas. Teatro de criança, teatro no qual ensaia e sonha a sua vida. Fico ali, sou parte de seu palco: ‘dá mão’, ‘senta', ‘abriu, pufavô', ‘onde se vai?'. Ausentar-se não é o meu desejo e se a máquina de lavar chama por mim Maria deixará tudo para estar ao meu lado. Ouvirei os seus passos de menina que dança ao caminhar embalada pelas suas canções infantis, nadando como o peixinho dourado ou girando como as rodas do ônibus. Não preciso voltar para trás para saber que o pequeno milagre que nasceu em minha casa está bem ali, sorrindo a sua felicidade de menina que caminha no novo mundo. Quando paro dou-me conta de que já está junto às minhas pernas, ela quer colo. Como o marinheiro da gávea aponta – ‘pra cá!’ – as direções que devo tomar em nossas navegações. Lá vamos nós! Ela se despede de mim todos os dias, vai mais longe, caminha mais segura. Vivo do sorriso que me oferece quando chego ao berçário para buscá-la. Abre os braços e sorri minha vida inteira!

Os cabelos são longos, ainda vejo o rosto da menina que segurei, certo dia, na sala de cirurgia de um hospital de São Paulo. Pouco mudou, ainda aperta os olhos em suas saudações. Eu a vejo caminhar rua acima, antes de dobrar a esquina volta-se para acenar o seu até logo. Ela cresceu e não a vejo mais, agora, ela voa.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Crônicas de um pai:o apelo

Crônicas de um pai:o apelo

Noutros dias ela chorava, abria a boca e chorava sentida como quem acredita que foi abandonada, agora, ela sabe onde está, conhece a casa e os seus ruídos, percebe os movimentos e as rotinas. Sabe mais dos seus pais.

Ela chama, chama de forma serena pelos pais. O som chega suave aos nossos ouvidos, não há resmungo da parte de Maria, apenas o apelo, pede a chance de curtir os últimos instantes da madrugada junto aos pais, quer ouvir os primeiros pios dos sabiás conosco.

Alguém dirá que é preciso 'educar', preferimos cambalear de um cômodo ao outro e trazê-la. Breve, não chamará mais, falta pouco, sentiremos saudades.

Crônicas de um pai: o triciclo do tio Farid

Crônicas de um pai: o triciclo do tio Farid

Sentada em seu triciclo ela segue determinada na trilha que abro entre a sala de visitas e a cozinha, igualmente permanece atenta ao que está ao seu redor. Dirige olhando em todas as direções. Buzina, brinca de buzinar, pela casa; lá pelas tantas olha para a pequena caçamba para saber se a sua amiga de todas as horas - a ovelha Cacá - está em segurança e apreciando a viagem de reconhecimento dos cômodos. Desce e sobe de seu triciclo diversas vezes, ela redefiniu as distâncias entre os espaços de nossa casa.

Lembro-me, enquanto ela viaja pela casa do meu primeiro triciclo. Posso ver a combinação de madeira, metal e borrachas. A cor esmaecida pelo tempo e pelo uso. Lá estou eu andando de um cômodo ao outro evitando pedalar e usando a ponta dos dedos pés como apoio para me deslocar. Gastava as pontas de meus calçados. Tudo mudou graças ao Tio Farid.

Certo dia chamou-me para mostrar três triciclos reformados; fazia isso pelas crianças de seu bairro. Eu deveria deixar o meu velho triciclo e poderia escolher um novo. Foi assim que comecei, de fato, a pedalar, havia espaço para as pernas e o movimento agora era possível. Quando me vi montado avancei pela rua para brincar. Tentei, dias atrás, levar Maria a uma praça para pedalar, desejava vê-la feliz, mas não era hora. Maria divertiu-se mais correndo atrás das pombas que por ali pousavam e disputavam o espaço com o seu triciclo.

Crônicas de um pai: consolo

Crônicas de um pai: consolo

Dar ouvidos, prestar atenção e corresponder; dar ouvidos, prestar atenção e dar meia-volta. Não há regras, há apenas a certeza de que a inspiração e ouvidos atentos são tudo de que se precisa. O check-list ajuda, mas não serve para todas as ocasiões.

Maria ainda ri de minhas caras, tão boa a minha Maria, ri de minha falta de jeito, ri de minha falta de graça. Ela vê mais do que eu sou e vive a me consolar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Crônicas de um pai: 'cadê o meu papai?'

Crônicas de um pai: 'cadê o meu papai?'

'Cadê a minha mamãe?; tá molhado!; qué toma bãinho!;  cadê a Cacá?

Agora é assim, a cada frase ouvida há uma repetição. Há esforço e habilidade. A capacidade de compreender dá saltos.

Ao acordar com os passarinhos que antecipam a chegada da Primavera dirá: 'passainho cantando'.

Dias atrás, irmã Iolanda ensinou-lhe saudar em sueco e não é que dias depois ao encontrar a irmã retribuiu-lhe falando bom dia em sueco?

Diverte-se enquanto aprende.


Crônicas de um pai: fuligem

Crônicas de um pai: fuligem

A arte que tomei como minha foi a da ciência da História. Ciência, que, desgraçadamente depois da Segunda Guerra serviu e, ainda serve, mais aos idiotas do que aos homens de bem. Ciência desconstruída para servir aos arautos da demagogia. Acompanhei, infelizmente, a arte da História servir à desonestidade intelectual.

A perda de um acervo consumido pelo fogo é a nossa cara, os comentários das últimas horas reforçam a nossa cultura do descaso e a sanha de culpar o vizinho. Somos uma sociedade pequena, quantas das vozes das últimas horas não estão entre os responsáveis pela tragédia?  Nossos índices de educação se comparados com os de outros nações caem de forma regular e, ainda assim, nos vangloriamos. (do que mesmo?)

Fico a pensar em como lhe dizer tudo isso, minha filha, como contar sobre a mediocridade do mundo no qual nasceu?. Melhor trabalhar, melhor permanecer na senda e mostrar que o talento serve ao nosso propósito. Já lhe contei da biblioteca de livros raros da Universidade de Santiago de Compostela?

Venha vou lhe falar de minhas aventuras naquelas terras. Conheci, certa vez, um geógrafo de Trasalba que falava da perda de uma velha senhora. Mulher que reunia em suas roupas as histórias e falares de imensa área rural. Mulher que sabia cantigas de Santa Maria de cor e a todos reverenciava em sua língua dos interiores da Galiza. Ao morrer o mundo ficou menor, mas quem se dava conta?

Nossa história é cinza, não porque foi incinerada em nossas tragédias, mas sim porque é o quanto valemos todos nós.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: meditação

Crônicas de um pai: meditação

Sempre esteve lá, ando a procura desde há muito. ficava em silêncio e procurava, procurava. o vale da meditação habitado pelos pássaros de farid attar ou o do poeta místico. do livro revelado ou o do jamais escrito.

Tantos são os chamados das buzinas que, muitas muitas vezes, a voz interior fica perdida. a paternidade, bem ao seu modo, rearranja tudo e cria, com suas caras e sorrisos, a câmara atapetada ideal para uma tarde de meditação.

Crônicas de um pai: a caixa de brinquedos (em expansão)

Crônicas de um pai: a caixa de brinquedos

maria descobriu a sua caixa de brinquedos. durante semanas a caixa ficava no canto, silenciosa como quem aguarda visita. pois bem, ela chegou. maria aprendeu a revirar a sua caixa de brinquedos, busca pelo fundo para saber quem está a sua espera. não, não é simples vasculhar uma caixa de brinquedos. fica ali a lembrar de suas reinações e dos seus campanheiros de bagunças.

a caixa de brinquedos, agora, alinha-se ao universo de caixas e de gavetas, malas e mochilas. 'o que é? ' ouvimos sempre. ela deseja saber, ela precisa saber. martelos, alicates, escovas e cremes alinham-se ao lado de trenzinhos e de bonecas. a todo instante estamos a guardar  colheres e cadernos e, ao mesmo tempo, ela os convoca para o centro da sala.

estamos frente a fenômeno que não tem fim! (ainda bem!)

Crônicas de um pai: bom dia! (o primeiro de nossas vidas)

Crônicas de um pai: bom dia! (o primeiro de nossas vidas)

Não há mais segredos em nossas conversas, não há mais silêncios. Desde quando era bebê busquei por Maria desejando-lhe um bom dia. Eu saudava o dia ao seu lado. falei-lhe mesmo dos firmamentos. De tanto me ouvir, hoje, pela primeira vez ela me disse bom dia.

Definitivamente, ela é uma menina-quase mocinha. Conta-me do frio e dos pássaros que voam pela casa. Solicita ajuda e nas últimas horas surpreendeu-me ao revelar que entendia o que era 'dormi'. Agora, saúda-me.

Eu a vejo crescer!

Crônicas de um pai: mamá e mamão

Crônicas de um pai: mamá e mamão

O brincar de fazer de conta precisa de linguagens de todos os tipos. Maria conversa com as suas amigas reais e imaginárias, recria o que vive e aprende. Cacá, a fiel e estimada ovelha, troca fraldas e é alimentada, toma 'bãinho' e usa cotonetes, tudo acompanhado de frases e afagos. Pai e mãe fazem parte do universo de brincadeiras, encenam histórias e sentam-se para pintar.

Dias atrás, Vany perguntou-lhe se desejava comer mamão. Ainda pequena Maria nos revelou que o mamão estava entre as suas frutas favoritas ao lado das uvas e bananas. Lembrando disso, ofereceu-lhe mamão, todavia, Maria cresceu e nos diz do que tem fome e vontade. Recusou o mamão e pediu mamá. Ao se dar conta da semelhança fonética ficou a brincar de repetir as palavras, demonstrou o quanto havia aprendido dos nomes: mamá, mamão, mamá, mamão, mammãe.

ps. Vany chorava quando me contou isso

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: Cacá, a bomba de encher bolas e a caneta

Crônicas de um pai: Cacá, a bomba de encher bolas e a caneta

Agora está lavrado, todos os dias, depois de jantar, Maria Luíza diz o seu 'dá mão!' e me conduz para o quarto. Muitas vezes ela deseja partir antes do jantar e resmunga. Nada que não se ajeite, no final, ela aceita jantar antes de brincar no seu quarto favorito. Sim, o quarto em seu universo é lugar de enormes alegrias. Ouvirá as suas canções - do pirulito que bate ao sítio do seu lobato - acalentará a sua ovelha Cacá e muito mais. As combinações do que deseja levar para a cama-parque são as mais inusitadas. Por que vai levar a bomba de ar? A culpa foi minha, eu sei. Retirei a bomba para encher a bola de minha filha e, antes de tornar a guardá-la mostrei-lhe como funcionava, encantou-se com o movimento, achou graça e, agora, tem com o que se divertir. Há tempos ela sabe o que é o 'faz de conta' e fica ali construindo os seus mundos. Eu, pouco perspicaz aos modos de imaginar de minha filha, procuro aprender. Aproveito para também lhe oferecer algo do meu 'faz de conta'. Caramba! É divertido brincar assim! 'Filha, vamos trazer um tapete da próxima vez e o pote de doce maçãs!'.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: 'você é meu papai'

Crônicas de um pai: 'você é meu papai'

Não sabia o que dizer ou o que sentir, fiquei ali tolo e feliz ouvindo minha filha sentada ao meu lado dizer quem eu sou na vida dela. A frase era grande, cheia de palavras. Estava lá o verbo e o pronome diria o gramático. Aos meus ouvidos estava ali a menina-quase mocinha que nos últimos 21 meses e 20 dias trouxe alento ao meu mundo. Revirou vasos de flores e cultivou floradas em terras sem vida. Lá estava ela fazendo do simples algo grandioso, fazendo do gesto pequeno uma revoada de pássaros de arribação.

Sim, eu sou seu pai, seu pequeno e grande papai. Faço-me dois, três ou quantos necessários para lhe dar meu fôlego e minha carne, minha certeza de que tudo vai pelo bom caminho, há a senda da chuva e da brisa, do afago e do 'cuxo', do abraço e do regalo. Sim, eu sou, todos os dias, eu sou o seu pai.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: saudades

Crônicas de um pai: saudades

dia desses, quando voltávamos para casa, falei-lhe de minhas saudades (cheguei mesmo a falar do significado da palavra), contei-lhe algo do meu dia e pedi que me contasse do seu. a cabeça de menina-quase mocinha pendia e com enorme esforço falou-me de suas brincadeiras e de sua fome. antes mesmo de chegarmos em casa ressonava em sua língua de anjo.


Crônicas de um pai: Dia dos Pais

Crônicas de um pai: Dia dos Pais

(ela é o meu maior presente)

achegou-se e abraçou-me. sorriu a sua boca cheia de dentes e ficou a esperar que tornasse a fazer do cobertor uma cabana para as suas reinações. paralisada, aguardava o meu gesto, mantinha a felicidade em estado de suspensão. quando, por fim, viu-se coberta gargalhou e fez do quarto inteiro a alegria de uma vida.

Crônicas de um pai: quem cuida de quem

Crônicas de um pai: quem cuida de quem

Houve um tempo em que acreditei que os pais eram os cuidadores, os grandes e principais responsáveis pelo crescimento de uma criança. De fato, somos. Todavia, dei-me conta de é ela quem cuida de nós. Maria nos faz ver a vida sob perspectiva que, no final, abre os nossos olhos, nos faz repassar e reescrever as nossas vidas. Não, ela não nos redime de nossas tragédias pessoais, ela nos faz ver que a tragédia é passada e que o porvir chegará com o sol da manhã. Ela nos mostra as chaves para as portas das saudades e do amor maior. Ela nos faz lembrar, lembrar de quem somos, lembrar de nossos propósitos e de nossos encantamentos abandonados e carcomidos ao longo dos anos. Maria já não é mais uma bebê-quase menina, isso é passado, vive hoje o seu tempo de menina-quase mocinha. Maria cuida de nós, ainda que façamos o seu prato e troquemos as suas fraldas, ela redimensiona tudo sob diapasão afetivo. Não, não significa que ela comanda as ações de uma casa, ela apenas as perfuma. Tampouco quer dizer que ela faz o que quer, ela nos dá ouvidos e aceita os nossos convites e as nossas danças. Sexta última, por exemplo, aceitou viver a sua primeira Bienal do Livro de São Paulo. Divertiu-se correndo e pulando como toda menina-quase mocinha faz em sua idade. A vida é um milagre, aprende-se a meditar vendo uma menina-quase mocinha dando ouvidos e sorrindo para os pais enquanto zela pelas nossas vidas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: ópamim

Crônicas de um pai: ópamim

Não há dia sem surpresas. Ontem depois de jantar muito bem, Maria Luíza pediu 'banana'. Acreditei que não caberia mais uma fruta, mas deixei que ela mesma decidisse. Come, come e não é que lá se foi a fruta quase inteira! Deixou apenas um naco da banana e tomou a decisão que mudaria as nossas vidas, uma vez mais, disse-me 'ópamim' - 'olha pra mim' - e quando me voltei levou a banana à minha boca. Ela já havia em muitas outras oportunidades dado de comer aos pais, mas agora pedia que olhássemos para ela e abríssemos a boca. Já vivemos as situações mais inusitadas na hora de comer, a de ontem, no entanto não tem paralelo.

('ópamim' é demais!)

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: O casamento da Bianca e do Fábio

Crônicas de um pai: O casamento da Bianca e do Fábio

Dia de festa, dia de celebrar o casamento da prima Bianco e do, agora, primo Fábio. Maria Luíza tinha tarefa importante, deveria levar a avó da noiva ao casamento, deveria levar a sua tia-avó Nadima. Sábado de chuva, sábado frio que convidava a ficar mais tempo na cama, mas era preciso sair, havia cuidados e tarefas antes do casamento dos primos.

Maria Luíza já havia provado o vestido e os sapatos novos de festa. Cheia de expectativa por rever a sua tia-avó adormeceu após o almoço, parecia pressentir que a noite seria mais longa do que o habitual e não desejava perder nada. Dormiu serena e fiquei a velar pelo seu descanso.

Vany preparava a mala de passeio de nossa pequena, que, algumas vezes  parece ter tudo que se precisa para um período não menor do que 72 horas. Detalhes, acertos e ajustes que pediram atenção.

Os últimos dias foram de lembranças e de votos, lembrei-me de minha família, lembrei-me dos meus, tudo isso misturado àquela mudança de andar representada pelo casamento. Tudo mudava, uma vez mais.

Já no casamento, minha filha quis conhecer tudo. Explorou passagens, nomeou objetos e pessoas. Caminhou e correu decidida e curiosa. Não é exagero dizer que ouvi a cerimônia mais do que a assisti. Senti-me no lugar dos pais da Bianca e do Fábio em diversos momentos, imaginei-me levando minha filha ao altar. Afinal, no tempo devido será a hora dela partir, a hora dela sonhar e criar uma família.

Bianca e Fábio estavam lindos. Havia aquela tensão nas mãos, mas, ao mesmo tempo, havia serenidade, aquela serenidade que se tem quando se sabe qual caminho se está a tomar.

Queridos primos, saibam que levaram nossa Maria Luíza a brincar como nunca, ela agradece e pede para que sejam felizes em suas viagens de Kombi.

Do altar ao jardim, da mesa ao salão, entre afagos da tia-avó, dos pais e dos primos seguimos felizes.

Crônicas de um pai: observar

Crônicas de um pai: observar

Fico a observar o meu bem e os seus jeitos. O que está a pensar? Por que cria rotinas de caminhos e os repete e repete? Por que as abandona para criar outras? Por que algumas canções persistem mais do que outras em seu universo de mocinha? Por que deixa o que está a fazer para pedir colo como se estivesse a dizer: 'estou carente, quero afago'. Por que chora como se estivesse sozinha e depois ri?

Venha, me dê a sua mão, vamos andar em seu triciclo vermelho e azul, a chuva já passou.

Crônicas de um pai: Dançar no casamento da Bianca e do Fábio


Crônicas de um pai: Dançar no casamento da Bianca e do Fábio

A pista de dança era apenas das crianças, havia jogo de luz que salpicava o chão de estrelas que rodopiavam de maneira incessante e colorida. Não tive dúvida, levei minha filha que adora cantar 'brilha, brilha estrelinha'. Eu que sempre fui tímido até os ossos, estava disposto a não permitir que minha filha padecesse dos mesmos males de seu pai.

Levei-a para passear no caminho das estrelas. Ela ficou ressabiada e me pediu alguns instantes para pensar. Ficou junto às minhas pernas, duvidosa do que se passava e aos poucos começou a caminhar, depois, correu. Após correr, olhou para o alto para descobrir a luz, julgava que as estrelas estariam no alto, mas 'por que andam tão baixo?'

Instantes depois, colocou em prática todo o seu repertório de danças de crianças. Coreografias, mãozinhas e sorrisos. Ela se divertiu, por fim, mostrou-me como é que se faz e a minha timidez, apesar de tudo, estava ali, mas não resisti e bailei com minha filha.

Houve tempo para tudo, inclusive para uma dança a três; pai, mãe e filha, ou, marido, mulher e filha. Devemos mais uma aos primos Bianca e Fábio.

Crônicas de um pai: 'ôba, escola!!'

Crônicas de um pai: 'ôba, escola!!'

Ontem, ao chegarmos à escola, Maria reconheceu o lugar e exprimiu um sonoro ôba!!, hoje, igualmente ciente do que acontecia ofereceu um êê!! Acreditamos que ela gosta da nova escola e está preparada para andar mais longe. Outro dia, era um bebê de colo e agora que ganhar o céu.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: beijo de boa noite

Crônicas de um pai: beijo de boa noite

Dei-me conta apenas agora que ganho beijo todas as noites de minha filha. Ela estava em nossa cama e me viu ajeitar o travesseiro, cansado pela jornada deitei-me e fechei os olhos. Maria que estava no colo de sua mãe aproximou-se, mexeu em meu ombro para saber se estava de fato dormindo e como não reagi deu-me um beijo de bons sonhos. Como agradecemos ao carinho de um pingo de gente de 1 ano e 9 meses?

terça-feira, 31 de julho de 2018

Crônicas de um pai: Feliz Aniversário, Vany!

Crônicas de um pai: Feliz Aniversário, Vany!

'Meu querido diário: ontem, segunda-feira, comemorei pela primeira vez o aniversário de minha mamãe. Não consegui memorizar quantos anos ela fazia, meu pai bem que tentou me ajudar, mas depois da terceira mão espalmada para mostrar o tanto de tempo que minha mamãe completava, eu desisti. O bolo favorito de minha mãe estava sobre a mesa e cantei, cantei parabéns. Minha mamãe resolveu me homenagear e cantou meu nome, foi divertido.

Gostaria de lhe falar sobre o que sinto. Você acha que apenas a procuro para mamar, não é verdade. Busco pelo seu peito para ouvir o seu coração, que, desde há muito me lembra dos meus primeiros dias. Era pequenina e parecia que estava em uma viagem espacial, havia estrelas e células por todos os lados. O som do seu coração e do sangue banhando tudo são minhas lembranças mais antigas. Eu nasci ali. Voltar para junto do seu peito é viver isso uma vez mais, estar de volta ao lugar no qual tudo começou faz muito bem. Sinto-me amada e em minha casa. Ouço o seu peito bater e, agora, ganho sorrisos e juras sem fim. Agora que já sou mocinha e sei andar peço a sua mão para bailar comigo sobre o meu tapete de borracha colorida e espero que cantarole a canção que ouço. Venha, mamãe, vamos brincar!!!

Não, não sou o grude do meu pai. Se peço que faça a minha mamadeira espero dar descanso à minha mamãe, se chamo pelo colo dele desejo, de fato, dar descanso aos seus braços, afinal, ele precisa fazer algo, não acha?

Obrigada, mamãe! Feliz Aniversário!!'

ps. posso lembrar de longe o meu pai, mas sou mesmo a sua parceira!

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Crônicas de um pai: 21 meses (21 + 9 = 30 meses)

Crônicas de um pai: 21 meses (21 + 9 = 30 meses)

Não há mais choros difíceis de serem decifrados, agora, Maria nos diz do que se trata. O 'ai' não é apenas de dor, há o 'ai' de dengo, aquele que recolhe a cabeça e esconde o sorriso de menina. Todos os cremes disponíveis são testados em toda a extensão, isto é, o de cabelos serve para lambuzar as mãos e os joelhos, o de pés serve, também, para a testa e a franja. Maria rearranja e redistribui os usos e papeis de cremes e pomadas. Às vezes deseja comer sozinha, recusa a ajuda que lhe é oferecida e insiste que sabe usar colheres e garfos. Ama ovo cozido e macarrão, tomate e brócolis, feijão e frango, mexerica e manga. Muitas vezes pede para trocar a refeição por um prato de uvas. Ama queijos e iogurtes e, sobretudo, ama mamar no peito de sua super mãe. Escolhe o que deseja calçar, afinal, gosta de olhar para os próprios pés e descobrir as meias e os tênis que está a usar. Sabe dançar, gosta de dançar, inclusive com a própria sombra. Sorri a minha vida em sua boca cheia de dentes

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Crônicas de um pai: O Zoológico

Crônicas de um pai: O Zoológico

Dia desses passeamos no Zoo. A coleção de animais conhecidos foi alargada e eu e Vany tivemos a chance de passear longe do caos da cidade. Maria Luíza combinou alegria e decepção. Não é de hoje que fico intrigado com a representação de animais, de forma particular, as maneiras como os estampamos e os apresentamos para as crianças.

Ursos e coelhos, galinhas e gatos, muitas vezes estão longe dos modelos reais, parecem corresponder a certo imaginário e repertório de livros de imagens. Luíza domina bem as passagens, reconhece cães e gatos, galinhas e pássaros sem grandes dificuldades; anda encantada com as formigas que marcham pelo seu quintal e grita de felicidade ao descobrir uma anãnô (aranha). Da ilustração e do boneco ao mundo real nossa filha não enfrenta grande dificuldade, exceto por dois animais: jacarés e ursos.

Na semana última jacarés passaram a ser imitados em nossa casa. Punhos juntos e as palmas da mão abrindo e fechando são a maneira de nossa filha chamá-lo tudo acompanhado do nome perfeito do bicho: jacaré. Lulu o conheceu pessoalmente, mas não ficou empolgada, decepcionou-se com o jacaré de verdade. Encantou-se e aplaudiu apenas o jacaré que aparecia estampado em lata de lixo. Eu a vi correr e quando me dei conta ela queria me mostrar o jacaré que decorava e informava aos usuários o tipo de lixo a ser recolhido. 'Aqui, papai, olha o jacaré!'.

Os ursos, de igual maneira, nada lembram os que ela conhece em livros e bonecos. Encantou-se mesmo com macacos e girafas, araras e tamanduás. Bem parecidos com os animais que ela já conhece. 'O que é aquilo, mamãe?!', 'É uma anta brincando na água!', 'êba!, vamos brincar na água com a anta, mamãe?!'.


terça-feira, 24 de julho de 2018

Crônicas de um pai: exercícios vocais

Crônicas de um pai: exercícios vocais

Que ela adorava ouvir música eu sabia, mas há algo novo. Ouvir e mexer o corpo eram expressões dela, maneiras que encontrava para se divertir. Demorei, mas percebi o quanto os seus movimentos imitam e reproduzem as coreografias. A aranha que sobe paredes ou a dança de peixes, ou ainda, o jacaré que é sucesso nas últimas 24 horas são interpretadas com esmero por Maria. Se deseja ouvir e brincar a dança do jacaré, dá-lhe o nome 'jacaré' e reúne os pulsos para abrir e fechar as palmas de suas pequenas mãos. Eu e Vany ficamos abismados com a impressionante capacidade de comunicação. Maria ainda sorri de minha cara sem graça tentando ajudá-la a dançar, tentando ajudá-la a brincar. Maria me ensina e eu tento, tento fazer direito, tento. Vivemos com um milagre em nossa casa que agora diz o próprio nome e nos ensina. Ensinou-me que entre os bichos que estampam o seu travesseiro há um 'cacaco', eu de tanto olhar não via que, de fato, havia um macaco. Maria chamou-me a atenção para o que eu não sabia mais. Acompanhar o crescimento de uma criança é, na maior parte das vezes, reaprender a ver. Cores, flores, carros, cacacos e tudo mais ganha nova vida. Não, Maria não apenas imita, ela é inventa o seu mundo. Rogo que saiba fazer o que é certo e o que é bom.

Crônicas de um pai: 'Por que não pode?'

Crônicas de um pai:  'Por que não pode?'

Dia desses, lendo sobre corridas de automóveis, soube que a esposa de um piloto envolvido em acidente de pista teria respondido a críticas feitas ao esposo. Ela esbravejou algo como 'se é para chorar vá fazer balé' em uma rede social. Não sei o que era pior se a confusão de pista ou o depois. O machismo do comentário me leva a conjecturar de que alguém o escreveu no lugar dela. Não posso crer, embora saiba que exista, mulheres adotando comentários machistas.

O acidente de pista aconteceu, esquivar-se de responsabilidade dá ideia de nossa pouca sinceridade. É mais fácil justificar a bobagem do que assumi-la. Tudo ficou pior quando alguém melou a situação com doses de preconceito. Lembro-me de amiga bailarina, lembro-me de seus esforços. Lembro-me dos dedos de seus pés, eternamente machucados. Tortos de tanto bailar, de tanto desafiar a gravidade.

O idiota que escreveu na rede fazendo-se passar por outra teria força para fazer balé?

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Crônicas de um pai: a prateleira de brinquedos

Crônicas de um pai: a prateleira de brinquedos

Chegamos tarde, dentro de poucos minutos a noite chegaria e com ela o frio. Eu precisava adiantar o trabalho da prateleira de brinquedos, decidi que faria isso no chão de nossa sala. Precisava tão somente medir e riscar a madeira. Os cortes seriam feitos em outro momento e ao ar livre. Em virtude da hora adiantada medir e riscar era tudo o que poderia fazer. Decidi-me também a fazer isso dentro de casa pois sabia que Lulu estaria ao meu lado. Não me deixaria sozinho com um monte de ferramentas legais.

Havia a madeira, as réguas, a trena e o lápis. Tudo simples. Então Lulu reordenou tudo. Tomou o lápis de minha mão e começou sem trena ou medições a riscar a madeira sob os seus pés. Isso depois de tornar as folhas de papel nas quais eu rabiscara o desenho e as medidas da prateleira impossíveis de serem decifradas. Mas, francamente, apesar disso, o projeto redesenhado ficou perfeito: radical e simples. Senti falta, por fim, de uma ferramenta que naquelas circunstâncias seria imprescindível: a borracha. O meu traço e o de Lulu na madeira, por vezes, coincidiam e apesar das cores diferentes - eu usava grafite e ela o azul-marinho - havia relativa confusão. Não bastasse isso ao sentar e brincar sobre a madeira os traços esmaeciam.

Levantei-me e percebi o caos simpático de sinais. Minha filha que tanto pede para fazer arte encantou-se com a sua tela gigante. Decidi-me a trazer-lhe uvas. Ela adora uvas e acreditei que poderia ficar ao meu lado e ao mesmo tempo ocupar-se das uvas. Teria tempo para adiantar e concluir as medições. Enganei-me. Eu a sentei na extremidade da madeira, ela ficaria longe da trena e da régua, desta forma poderia retomar as medições e riscar a peça. Quando se viu com uvas em seu colo, sorriu e começou a devorá-las. Passo seguinte, com a boca cheia, pôs-se a escorregar sentada. Pote de uvas em uma das mãos, a segunda mão apoiada sobre a madeira Lulu deslizou sobre a peça e, assim, borrou um pouco mais as linhas já castigadas.

Lulu parou apenas quando o seu pé apoiou-se sobre a régua de riscar. Ela estava de volta ao trabalho. No final, nos salvamos. A madeira, apesar de tudo, exibe as marcas necessárias para a segunda etapa do trabalho: o corte. Lulu está satisfeita, feliz, afinal, comeu uvas e fez arte em uma tela que não tinha fim. Descobriu a textura do lápis azul e do grafite sobre a madeira. Não bastasse isso, fez de minha trena um cachorrinho a levar pela coleira.

Dona Vany não está nada satisfeita, disse que pagou pelo serviço de marcenaria e nada está pronto. Respondi-lhe dizendo dos imprevistos na oficina, mas não arredou pé de ter a prateleira pronta. A vida segue bem em nossa casa sem prateleira de brinquedos e Dona Vany sorri contente. Apenas o lápis azul-marinho não sorri, perdeu a boca, perdeu a ponta de tanto riscar, mas isso tem conserto. Noutro dia, noutra hora será a vez da serra trabalhar. O que vou fazer com a Lulu ainda não sei?

Crônicas de um pai: os meus nomes

Crônicas de um pai: os meus nomes

A família cria nomes. Há o de batismo, há o de afagar, há o de dar bronca e por aí vai. São os nossos nomes, por eles somos conhecidos e damos sinais do nosso humor e do momento de nossas vidas. Há aqueles que usamos em casa e aqueles que damos ao mundo. Dito isso, Lulu fez das suas. Deu-me novo nome, ou melhor, aprendeu a me chamar pelos nomes que a mãe me dá. Dou risada, mal posso acreditar ao ouvi-la me chamar.

Outro dia tentei lhe dizer o meu nome, perguntei-lhe do nome de sua mãe, falei-lhe de seu próprio nome. Aos seus olhos o mundo ganha nova luz. O aprendizado da linguagem é etapa extraordinária na vida de uma criança. Nada fica no lugar depois disso.

terça-feira, 17 de julho de 2018

Crônicas de um pai: a chave

Crônicas de um pai: a chave

Ela sabe qual é a função de uma chave, sabe mesmo diferenciar qual chave abre a porta de nossa casa. Outro dia ela me conduzia pela mão, parou de súbito e deu meia volta. Lembrou-se que havia se esquecido das chaves da casa e sem elas não poderia sair, voltou e apontou para o local em que ficam guardadas: 'chavi'.

Crônicas de um pai: dá mão!

Crônicas de um pai: dá mão!

Nos últimos dias, há uma nova estratégia. Minha filha estende a sua mão para pedir a minha. Ela quer que eu a acompanhe. Curvo-me para segurar, ou antes, para que segure meu dedo e me conduza. Sou levado ao que ela deseja. Lá vamos nós pela casa, lá vamos nós pelo mundo.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Crônicas de um pai: pai aos 53

Crônicas de um pai: pai aos 53

Sou um pai velho, velho e babão. A idade machuca, faz os ossos doerem e deixa, muitas vezes, o aperto de que estou perto demais da plataforma de partida. Ao me dar conta de minha família, deixo as dores de lado e faço o que se espera, vou brincar de rolar no chão com os meus.

(O porvir é certo)

Crônicas de um pai: o coelho que vive na serra

Crônicas de um pai: o coelho que vive na serra

Sábado último passamos o dia em um chácara na Serra da Cantareira, na divisa de Mairiporã e Atibaia. Perdida, encantadoramente perdida ao lado da estrada havia um caminho cascalhado, três quilômetros depois um lago. Foi ali, junto ao lago que reinamos. Longe da Voluntários ou da Engenheiro Caetano tínhamos um céu azul sem nuvens. Cozinha do interior e animais aos montes. A Dona Pavoa não quis se mostrar em sua realeza, mal consegui descrever para minha filha a beleza de suas penas. Os coelhos, sim os coelhos ocuparam e povoaram a sua imaginação. Foi a primeira vez que Maria Luíza os viu. Encantou-se, encantou-se mais com o coelho do que com o pequeno cavalo ou mesmo a Dona Porca que mais lembrava um hipopótamo de tão grande. Dia de reinações em família. Há um lugar perdido na Serra da Cantareira que nos cativou. Há um coelho branco que, hoje, tantas horas depois, um passarinho me contou, anda a suspirar de saudades de uma menina que por ali brincou.

Crônicas de um pai: a amiga Mel (família)

Crônicas de um pai: a amiga Mel (família)

Ontem, domingo à tarde, visitamos a amiga Sônia, amiga dos tempos de colégio. A casa estava feliz com a chegada da neta - sim, a Sônia é vovó!! - Melissa, a Mel.

Mel e Malu - ou Manu, como chama a si mesma - divertiram-se. Fizeram de tudo um pouco: brincaram de bonecas, comeram bolo e ouviram música. Correram e riram como crianças felizes.

Passados tantos anos, lembrei-me dos dias de crianças quando eu e Sônia estudávamos, lembrei-me das vésperas das provas, dos exercícios de matemática e de história. Foram dias felizes, cheios de esperança (e de algum desespero com as teorias a serem aplicadas na resolução de equações). Mel e Manu estão a brincar, espero que sejam boas amigas e que vivam para se lembrar e para contar aos seus sobre as suas famílias.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Crônicas de um pai: diálogos assustadores

Crônicas de um pai: diálogos assustadores

Aos 20 meses, alguns dos diálogos mantidos nas últimas horas, subimos mais de um degrau.

'Alguém me chamou?', 'chamei!'

'Você está bem?', 'Tô bem!'

'Quer mamadeira?', 'Não, tumati!'

'Quer banana?', 'Não, mixica (mexerica)!'

'Quer se deitar?', 'Não, passêa!'

'Caiu ou você jogou?', 'Joguei!'

Não bastasse isso, há novos gestos. Ontem, lavei e cortei o tomate cereja de que tanto gosta.
Depois de comer os três pequenos tomates, tomou o prato nas mãos e o colocou sobre a pia da cozinha. Após saborear uma mexerica inteira, cansou-se de mastigar o último gomo. Não teve dúvida, retirou o resto da fruta da boca e o colocou na lata de lixo.

Definitivamente entramos em um outro patamar, há até declinações de verbos. Convenhamos conjugar verbos na língua portuguesa é tarefa demais.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Crônicas de um pai: eu perguntei e ela me respondeu

Crônicas de um pai: eu perguntei e ela me respondeu

Eu arrumava os parafusos que comprei na quinta última, pensava mesmo que o feriado seria o dia de montar a estante planejada. Razões várias adiaram o projeto de uma estante para guardar os brinquedos, facilitaria a vida de Maria Luíza e a nossa; praticidade e arrumação eram a nossa meta.

Lá estava eu domingo pela manhã separando e guardando as ferragens que usaria quando ouvi vozes. Acreditei que Maria me chamava, caminhei na direção de seu quarto e quando próximo perguntei: 'Alguém me chamou?' Lulu, de pronto, respondeu: 'Chamei'. Aos 20 meses e 10 dias ela estava fagueira e serelepe, sábia que eu estava de pé e pedia a minha presença.

Lulu tem uma maneira própria de avisar que eu já estou acordado, ela levanta o indicador e diz 'óó!!' Ela sabe reconhecer os ruídos, ouve com atenção os passos dos moradores de sua casa. Acompanha tudo com atenção e dedo alerta. 'Então meu pai está reinando no quintal junto às ferramentas e aos parafusos e não me levou? Venha me buscar, papai! Quero brincar com o alicate e a chave sextavada, quero pescar parafusos com a ponta magnetizada da chave de fenda!! Venha logo!'

Por ora, ela não me disse tudo isso, foi apenas o 'chamei', mas não duvido que até o final de semana próximo a frase tenha crescido em complexidade, a atitude e o gesto já estão ali, agora faltam apenas um ou outro nome. Falta pouco.

(Eu e Dona Vany não estamos preparados, mas estamos nos divertindo)

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Crônicas de um pai: a kombi faz 'vruumm'

Crônicas de um pai: a kombi faz 'vruumm'

Sentada, a cabeça descansava sobre a mão esquerda enquanto observava o que se passava ao seu redor. Súbito decidiu-se por nova brincadeira, era hora de pular, ela dizia algo que eu não entedia, assemelhava-se a uma canção, havia ritmo e fonemas que iam e vinham. Compartilhei de sua dança e quando nos demos conta já estávamos em nossa quintal, mal chegamos e ela buscou pelas vassouras, ela adora varrer e, mais ainda, quando tem companhia. Algumas vezes senta-se no degrau da escada e põe-se a apontar: aqui, aqui. Tão pequena e já toma decisões. Entre as artes do quintal está a de regar as plantas. De fato, tanto quanto regar as plantas, Maria aprecia o movimento da água no chão, os caminhos e as poças. Encanta-se com a poça e pratica a sua arte de sapatear. Ri e sapateia. Molha os pés feliz e encantada com tudo quanto há ali, não há o escorregador do parque, mas inventa com os objetos que ele estão ao seu alcance. Roupas molhadas e um sorriso estampado em suas feições, há que se trocar meias e calças e lá vamos nós. Aproveita-se a situação e a fralda também é trocada. Maria resmunga, não gosta de interromper as suas reinações para as trocas, 'estou a perder tempo'. O repertório muda a todo instante, os brinquedos e a forma de brincar, também.

Relaxa não sem antes espernear um pouco, agradam-lhe as cócegas nos pés feita com lenço umedecido. Sossega ao perceber que é acarinhada. Pronta para novas brincadeiras busca o chão. 'Não, lembre-se de como descemos, de costas, desça escorregando o corpo, descer de frente vai machucá-la'. Ela me ouve e suspende o movimento, dá-me ouvidos e escorrega do sofá para o chão. Agora é preciso correr, correr da cozinha para a sala e da sala para o quarto. Ela resmunga, tudo o quer quer, tudo o que pede é 'deita', que, em seu léxico é pedido para ocupar o berço. Ela deseja ouvir as suas canções e brincar com os bichos de pelúcia. Cacá, a ovelha, a fiel escudeira é a primeira a chegar. Aproximam-se Pingo, o elefante, Tatá, o urso, Ararara, a arara, Lota, a ursa branca e quem mais couber no berço de dois alqueires. Encontrou o mosquiteiro e interessa-se pela maneira como toca a sua pele, Maria cobre o próprio rosto como se o seu mosquiteiro véu fosse - receio que ela se machuque, mas está tudo bem - e ri, ri sincera e satisfeita. Quanto de sua vida e experiência não estão cheias de contentamento sincero? Recolho parte de seus amigos e os reconduzo aos outros  cômodos com o propósito de liberar espaço em seu campo de brincar e de faz de conta, a kombi rosa está em suas mãos para que brinque e faça 'vrruummm'. Ela a deixará cair displicente no chão para que venham brincar com ela. De brinquedo em brinquedo, de invenção em invenção ela leva horas de felicidade a todos que estão ao seu redor.

(a pedagoga visionária que dizia blá blu assessora o gato russo que prevê resultados da copa de futebol, estão bem ouvi dizer)

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Crônicas de um pai: a casa dorme

Crônicas de um pai: a casa dorme

Eram quase 4 da manhã quando ela me chamou, estava sentada em seu berço. Levava em seu colo a fiel amiga Cacá, a ovelha. O cobertor verde estava distante, temi que estivesse com o corpo frio. Ao se dar conta que eu atendia ao seu pedido sorriu para mim, ainda tonto de sono retribui-lhe abrindo os braços. Abraçou-me e deitou a sua cabeça em meu ombro esquerdo. Recolhi o cobertor e a cobri junto ao meu peito. Fomos para a cozinha preparar a primeira mamadeira do dia.

Permaneceu silenciosa e amorosa junto ao meu peito, levantou uma única vez para saber em que pé estava a nossa operação tetê da madrugada. Mamadeira pronta voltamos para o quarto, deitei-a no berço, ajeitei a Cacá e a cobri. Ela tinha os olhos fechados quando lhe ofereci a mamadeira, ao se dar conta do que lhe era servido mamou sem rodeios e ruidosa. Terminada a refeição, virou-se no berço a buscar pela grade, agarrada a Cacá dorme o sono da madrugada.

Permaneço alguns instantes ao seu lado, sinto vontade de afagar a sua vasta cabeleira, mas temo que acorde. Quero beijar-lhe as bochechas rosadas, mas temo que fique incomodada. Desisto de tantos senões e beijo-lhe o rosto. Lulu sorri, talvez não esteja dormindo ainda, não sei, digo-lhe apenas 'boa noite, minha vida!'. Ao voltar para cama quero tudo contar a Vany, no entanto, ela está fatigada. Desisto de pensar nos senões e a beijo, ela sorri tal como a filha.

(A casa dorme)

Crônicas de um pai: ouvir as conversas alheias

Crônicas de um pai: ouvir as conversas alheias

Tempos não há segredos, melhor, jamais houve segredos em casa, quando muito o tom de voz mudava para que nossa filha dormisse bem. As conversas de pai e mãe, agora, contam com assídua participação de Lulu. Ouve tudo e, aqui e ali, dá o seu pitaco. Repete o que lhe convém, seja para tomar parte e nos ajudar na decisão, seja porque gostou da sonoridade da palavra. Outro dia resmungava e agora quer dizer ao que veio com sujeito, verbo e predicado.

Crônicas de um pai: venha cá, minha pequena!

Crônicas de um pai: venha cá, minha pequena!

Venha ver as orquídeas do nosso quintal, elas estão recuperadas. Elas foram plantadas tempos atrás, foram acarinhadas e quando quem delas cuidava partiu ficaram mudas. Aos poucos graças a Dona Vany elas estão de volta. Houve temporada em que mais de 50 botões floriram, não havia dia que ao chegar em casa não ouvisse de sua avó que deveria ver os novos botões abertos. Era a alegria do dia de sua avó, a maneira dela celebrar os pequenos e quotidianos milagres.

Venha ver como estão bonitos, o nome do mimo é sapatinho holandês. Não sei o porquê de tal nome, será que que queriam falar de diminutos tamancos de madeira? Honestamente, não sei. Os pássaros que tanto lhe agradam e que vivem a cantar para você gostavam de passear por aqui, aos poucos estão voltando para comer em suas mãos. Venha ver minha pequena o presente do mês de julho sob a janela do seu quarto de dormir.

(sei que tudo está aí em sua cabecinha, sei que está a me ouvir, você vez por outra me dá provas de que ouve com enorme atenção; rogo em minhas preces que o mundo lhe ofereça mais orquídeas do que arranhões)

Crônicas de um pai: dengo

Crônicas de um pai: dengo

Não sei como começou, certo dia Maria resmungava. Perguntei-lhe o que era e Vany respondeu pela filha: 'dengo'. Ri da situação, mal sabia das consequências do meu gesto. Agora ao me ouvir perguntar quando resmunga, muitas vezes, Maria responde 'dengo' e se põe a rir. Ela sabe o que é fazer dengo, mas não, ela não é dengosa, não é uma menina que joga com as emoções alheias, ela apenas brinca de dizer dengo.

Crônicas de um pai: passêa di carrim

Crônicas de um pai: passêa di carrim

Mãe e filha curtem as férias, Lulu quer passear, mas não de qualquer forma, ela deseja andar de carrinho. Curioso, acreditávamos que os dias de carrinho de bebê ficaram para trás, no entanto, eles voltaram. Talvez seja a sua maneira de se despedir ao se dar conta de que está crescendo e deixando um quarto cheio de experiências para trás. Quer andar pelo bairro e acenar aos que passam. Exclamar e nomear quem lhe cruza o caminho.

(Nessas horas adoraria ser mais expectador e acompanhar as suas disposições, no entanto, ela pede minha ajuda e meu braço, pede minha atenção e as palavras que lhe ofereço)

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Crônicas de um pai: o tremor (de pai para filha)

Crônicas de um pai: o tremor (de pai para filha)

Começa com um tremor e uma alegria silenciosa, quando você se dá conta está rindo por dentro de contentamento e as suas sinapses estão brilhando ao seu redor. Certa vez, quando ouvia a abertura Coriolano dei-me conta que havia general romano homônimo. O encarte do disco confirmou a direção escolhida. Para minha felicidade eu já tinha na biblioteca as obras de Plutarco - presente de Benedito de Moura - e me mantive na busca. Ao final de instantes, a abertura Coriolano havia mudado de sentido, ou melhor, deixou de ser conjunto de claves e de notas para ser a biografia trágica de um romano em peça musicada. Plutarco acreditava na história como magister vitae e redigir biografias de gregos e de romanos aos pares era a sua maneira de oferecer aos seus leitores ensinamentos a respeito da vida pública. Coriolano era, aliás, apresentado ao lado do grego Alcebíades.

Não, não quero lhe falar da história como magister, mas sim, lhe contar sobre alguns dos caminhos do aprender. Não, não quero lhe contar nada do pensamento germânico do XIX e as suas paixões pela filosofia e literatura clássicas, muito menos falar de compositores que nada ouviam e, ao mesmo tempo, derrubavam notas aos borbotões de suas partituras. Quero lhe falar de aventuras! Você encontrará as que deseja viver, quero apenas lhe falar do tremor do aprendizado.

ps. só de imaginar que já faz das suas, que já descobre ao seu jeito eu estremeço de alegria

Crônicas de um pai: pintá

Crônicas de um pai: pintá

Lápis de cor, giz de cera e tinta estão entre os momentos mais felizes de nossa filha. Ela reconhece os seus cadernos de desenhar e pintar, apesar disso, registra a sua arte em lugares outros. Sexta última cuidou de repintar diversas páginas do caderno de anotações da mãe. Noutras vezes, lugares improváveis se transformam em painéis, foi assim com a tela da tv, a geladeira e a caixa de chaves de fenda.

Se nas primeiras vezes ela dividia-se entre mão esquerda e direita, agora a direita é a sua favorita. Capricha nas cores e aprende. Não sei se verde é a sua cor favorita, mas certamente é a que aprecia chamar pelo nome. Adora oferecer lápis e giz aos que estão ao seu redor e diz: 'venha se divertir, olhaaaa só o que eu pintei!'

Crônicas de um pai: espacate

Crônicas de um pai: espacate

Ai, meu Deus! Ela brincava no tapete de borracha quando pediu ajuda para tirar o tênis. Passo seguinte, levantou-se e apenas de meias começou o espacate. Maria Luíza é adepta do 'vi, aprendi e quero fazer'. Chamei a mãe e ouvi que na véspera ela já executará alguns movimentos de espacate, aos meus olhos tudo era novidade. 'Como assim?'

No colégio em que estuda, sabemos ensina-se balé. Fácil imaginar que em algum momento outro toquinho de gente tal como ela se pôs a brincar de dançar, nossa Luíza gostou do que viu. Lulu aprendeu e agora, em nossa casa, brinca de abrir as pernas como se fosse uma boneca de articulação infinita.
(Definitivamente não estamos preparados para isso, é rápido demais!)

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Crônicas de um pai: testar o berço

Crônicas de um pai: testar o berço

Meses antes de nascer nossa filha, eu e Vany compramos um berço. Nós o levamos para casa cheios de cuidados, nos dias seguintes ensaiamos a montagem. Separamos peças, colocamos o manual de montagem no centro do futuro quarto de Maria Luíza. As paredes estavam pintadas, demorou mais do que desejávamos. Eu chegava tarde em casa e havia pouco tempo para tantos afazeres. A parede do berço tinha cor diferente das demais, ela era rosa-bebê. Pintura concluída era a hora de montar o berço em seu espaço. Nos esmeramos na preparação e na montagem. Ferramentas, medições e, no final, ele ficou perfeito. Nos dias seguintes vivíamos a namorar o novo quarto e sonhar a chegada de nossa filha.
Hoje, 20 meses depois do nascimento de Lulu, o berço segue bem e firme. Confesso que muitas vezes ao longo do último ano e meio verifiquei cada parafuso e peça. Temia em silêncio que houvesse algo fora do lugar. Nada podia comprometer a segurança de sua moradora. Felizmente nos saímos bem. As últimas semanas foram a prova de fogo. Com mais de 11 quilos, todos os dias, nossa filha adquiriu o gosto de passar longo período brincando. Ela pede para 'deita' e, no entanto, tudo o que quer é uma sessão de diversão. Ao chegar ao berço pede um terço pequenino - presente de sua madrinha de batismo, a tia Dãni - que levará em seu tempo de diversão em sua mão direita. Está pronta para jogar peteca, ouvir música, solicitar cheia de charme cafuné e, o mais desafiador, pular. A ginasta e a bailarina que moram em seu peito fazem das suas e ela salta. O colchão e o berço estremecem, balançam ruidosos, mas estão firmes. Os corações dos pais seguem o balanço e gritam: 'cuidado, filha!'

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Crônicas de um pai: o cachorro

Crônicas de um pai: o cachorro

Não sei como começou, no início cachorro era au-au. (Não sei como surgem as onomatopeias em nossas vidas). Pois bem, não há mais au-au, agora há apenas 'caforro'. Maria aprendeu a separar o nome gato do miau do gato. Ela fala de tudo, enrola-se de maneira adorável e tem uma paciência encorajadora. Paciência pois muitas vezes não a entendo e peço que me ajude tornando a falar. Maria Luíza respira fundo e repete, uma, duas, dúzias de vezes se preciso for.  Não há alteração do tom de voz, afinal em seu mundo falar é uma diversão e lhe permite fazer conexões e, assim, ter mais do mundo e das pessoas que estão nele. Ainda bem que aos 20 meses ela já tem em sua biblioteca um dicionário para matar a sua sede.

Crônicas de um pai: revistaria do Mustafa e da Marise

Crônicas de um pai: revistaria do Mustafa e da Marise

Ontem ao cair da tarde, depois da padaria, Maria Luíza passeou na revistaria do bairro. Contei-lhe que meu primeiro 'emprego', se posso chamá-lo assim, foi em uma banca de jornais. Era pequeno e não sabia ler, meu trabalho era entregar os jornais que os leitores pediam. Folhas e diários estavam todos enfileirados e eu os retirava da ordem para entregá-los. Apesar de não saber ler, sabia distinguir os desenhos das letras. Meu pagamento? Sim, recebia muito bem pelo meu trabalho. Podia folhear e devorar quantos gibis houvesse nas prateleiras. Deveria tratá-los com cuidado e, depois, levá-los de volta ao lugar certo. (De quando em quando podia levar um gibi para casa).

Maria Luíza encantou-se com as prateleiras da revistaria do Mustafa e da Marise e reconheceu alguns dos personagens que a acompanham. Encontramos a Môinca, assim mesmo, há ditongo em sua linguagem. Deu olá a Dona Galinha, que agora, é galinha mesmo, cocó é coisa do passado. Divertiu-se e ganhou afagos. A revistaria de hoje é maior do que a banca de jornais nas quais reinei. Lulu tem pela frente um mundo inteiro e estarei ao seu lado para matar a sede de coisas legais. 'Olhaaaa!!!'

Crônicas de um pai: gol de quem?

Crônicas de um pai: gol de quem?

Vivi dias de jogador de futebol quando garoto, gosto do jogo, detesto o exagero que toma conta de torcedores fanáticos; abomino a falta de senso que nos assola, explica muito sobre a nossa precariedade como sociedade. Desabafo feito, os dias de jogos em casa são bem engraçados. Gostaria de estar sentado confortavelmente em meu sofá e analisar - sim, sou do tipo que fica mudo durante um jogo, buscando entender como jogam - a partida. Em tempos de reinações luluzianas não é possível assistir nada. Eu e Vany estamos sempre a fazer coisas e a cuidar da casa. A TV ligada em um cômodo e nós lidando com roupas e comidas, brincadeiras e fraldas, remédios e vassouras. Eu interessado na partida só sei dizer 'gol de quem?' e Vany responde sorrindo 'nem sei quem está jogando', Maria Luíza assiste a tudo e ri de nossa falta de jeito, por ora, já fala 'basil' e quer me consolar por não assistir nada. (Quem a deixaria para assistir jogo de futebol?)

Crônicas de um pai: as estrelas de minha roupa

Crônicas de um pai: as estrelas de minha roupa

Quando compramos uma peça de roupa para uma criança, nos preocupamos com as suas cores e as estampas que levam. Foi assim desde antes dela nascer, selecionávamos as que acreditávamos serem as melhores e as mais adequadas para a criação e a formação de uma menina. Nada de desenhos grosseiros e levianos, nada de cores berrantes ou exageradas, era preciso ser lúdico na medida que desejávamos. Pensamos nisso e, agora, nos damos conta de que nossa filha sabe o que usa.

Entre as peças que lhe demos, havia blusa de frio branca com o desenho de uma gata com fita na cabeça. Aos olhos de nossa filha é a blusa que tem um gato de fita, ela vê e apreende cada desenho, cada cor. Ontem ao buscá-la no berçário ela estava feliz com o macacão que usava, mostrava-o de forma insistente e me dizia 'bia, bia'. Esforcei-me o mais que pude para entendê-la, até que percebi que ela queria me dizer 'brilha'. As estrelinhas do macacão trouxeram a canção 'brilha, brilha estrelinha'. Quando ela percebeu que eu a entendia ficou ainda mais feliz. As estrelas de suas roupas nunca fizeram tanto sentido aos meus olhos: brilhe minha estrelinha!

ps. lembro-me do verso 'que a luz de sua face me ilumine'; milagre que é, Maria sabe do que falo e se põe a cantar 'bia bia' com mais charme.

terça-feira, 26 de junho de 2018

Crônicas de um pai: A Cacá

Crônicas de um pai: A Cacá

De súbito, ela para o que está fazendo e decide-se por nova brincadeira, é hora de chamar pela Cacá. Caminha de cômodo em cômodo a procurar pela sua amiga, quando a encontra sorri a sua boca rosada cheia dentes e de satisfação sincera. Cacá é uma ovelha, cujo corpo e cabeça devem somar pouco mais de 30 centímetros. Braços e pernas são estreitos e leves. Cacá é a fiel escudeira de nossa menina, andam juntas e passeiam. Maria Luíza vive a trocar as fraldas imaginárias de sua amiga, limpa-lhe o corpo com lenço umedecido, beija-lhe o nariz e a testa; esfrega-lhe o corpo com hidratantes e afins. (Cacá ganha mais afagos em uma tarde do que eu e Vany juntos em uma semana inteira). Aprendemos sobre nossa filha e as suas respostas aos estímulos que recebe. Ela está feliz, é uma boa anfitriã e terna amiga de sua ovelha. A pelagem branca de Cacá a leva à lavandeira a todo instante.
Grato Cacá! Não sei ver o que minha filha viu, mas estou certo que o seu coração há de saber cuidar de nossa Luíza.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Crônicas de um pai: qual o nome de sua mãe?

Crônicas de um pai: qual o nome de sua mãe?

'Mamãe, oras!
Mamãe ou mããnhê.
é sim, eu sei.
Mamãe...
não?!
como você se chama, mamãe?
você tem outro nome mesmo?
por que não me contou?
você mesma falava que era mamãe...'

Crônicas de um pai: bochechas rosadas

Crônicas de um pai: bochechas rosadas

Quero lhe contar sobre os pássaros que cantam sob a sua janela. Houve tempo em que vinham aos montes, acostumei-me a lhes dar de comer e eles, de igual maneira, sentiam afeição aos grãos e frutas oferecidos. Antes de ir ao quintal eu ouvia os pios e gorjeios impacientes. Aproveitavam para colocar as suas histórias em dia, atualizavam notícias e tudo mais que pássaros fazem antes da refeição matinal. Muitas vezes, ao longo do dia, pássaros retornavam ansiosos pela segunda e terceira refeições. Houve ocasião em que aves afoitas e famintas entraram dentro de casa em busca de alimento. A sua avó vivia a falar que a casa estava a receber visitantes. 'Venha, minha pequena! Vamos chamar a sua mãe, precisamos dar de comer aos sabiás que nos visitam'. 'O que comem?'; 'eles adoram mamão!'

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Crônicas de um pai: Copa do Mundo

Crônicas de um pai: Copa do Mundo

Interessa-lhe a caixa de lápis de cor, muito mais interessante, ela lhe diz algo. Lápis na mão aproxima-se da tela da TV e se põe a desenhar. Quando deixa tudo para brincar de outros jogos fica apenas o esquema tático na tela. Olhando com atenção é disposição revolucionária que há de recriar a maneira como jogamos futebol. Lembro-me de Coutinho, não do Philipe, daquele que foi treinador nos 70 é falava de 'ponto futuro' e 'polivalência'. Maria Luíza vive a Copa ao seu jeito. Voltando ao jogo, quem venceu afinal de contas?
Lembro-me da minha experiência durante a Copa do México (70), de minha vontade de jogar bola e de como, estranhamente, as ruas ficavam vazias. 'Que coisa mais chata', dizia eu para a minha bola de capotão.

Crônicas de um pai: 'passêa'

Crônicas de um pai: 'passêa'

Agora é assim, o código, a senha para entrar no mundo que está além da casa, o mundo da rua, o mundo de cães e gatos, o mundo da ´paia' (padaria) que lhe oferece sorrisos e pães de queijo, o mundo das motos e dos 'minhões' (caminhões), o mundo de sua escola e dos jogos no 'paqui' (parque). ' Passêa' é o passaporte para o mundo de suas descobertas e reinações. Quer andar, quer, também, andar em seu carrinho de bebê - serão saudades dos tempos de pequena ? - e acenar para os que passam. Dizer oi aos que caminham pela rua. Dia desses fomos a consultório médico e na sala de espera Maria Luíza encontrou dois casais que levavam os seus filhos. Eram crianças pequenas, crianças de colo e nossa filha não titubeou: 'olha o nenê!'. São assim os dias em nossa casa e por onde caminhamos com ela. Descobre a diferença entre jogar e cair e diverte-se ao usar um ou outro verbo enquanto joga peteca em seu quarto de menina-mocinha. Um dia não é igual ao outro. Dias atrás levava tempos no jardim da frente da casa, usava o seu pequeno regador para molhar vasos e vasos, para molhar o chão aos seus pés e, depois, sapatear feliz. Agora ampliou um pouco mais o seu leque de diversões. Ela está bem, já nos chama e aponta para o molho de chaves da casa. Sabe que sem eles não podemos sair, desta vez quer levar o 'pafu', o guarda-chuva para a sua caminhada, o sol está alto e as cores do 'pafu' ficam bem sob a luz.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Crônicas de um pai: notícia de jornal

Crônicas de um pai: notícia de jornal

Ela tinha 5 anos ao falecer. Pai e mãe estão presos em cidade do interior de São Paulo acusados da morte da filha. Durante depoimento o pai contou que batia em sua filha para corrigi-la, disse que dava tapas para educá-la, a boca da menina chegava a sangrar em virtude das agressões. A menina agora está deitada, não tornará a se levantar para fazer das suas, não oferecerá os seus olhos lindos aos que passam. (Não sei esquecer a foto que vi da pequena). Maria Luíza não a conhecerá, não a chamará para brincar. Pai e mãe da criança morta afirmam inocência, justificam-se pelo seu bárbaro gesto e pedem justiça. Triste mundo. Triste jornal do dia.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Crônicas de um pai: o móbile (ou o carrossel do meu berço)

Crônicas de um pai: o móbile (ou o carrossel do meu berço)

Ela era pequena, pequena de berço, quando compramos um móbile. Era daqueles que ficam no alto do berço e damos corda. Eu e Vany fomos ingênuos, acreditamos que a presença da música e dos bichos coloridos em carrossel auxiliariam nossa filha a relaxar. Nós acreditamos que ela dormiria serena. Quanta ingenuidade! Nos damos conta que, agora, o berço aos olhos de nossa filha é 'paqui', isto é, parque, aquele mesmo no qual brincamos e corremos. Ela pede o berço e o móbile; quer o berço para ficar a pular e o móbile para lhe servir de música de fundo. Levanta e aponta para a sua cômoda e para os seus brinquedos, nos diz o que deseja e com o que deseja se divertir em seu 'paqui' pessoal. Chama os pais, ela os quer ao seu redor, quer trazer Tatá, o urso, que é quase da sua altura, quer a ajuda de Pingo, o elefante, tão grande quando o seu travesseiro. Quer tudo, quer o vião - avião - que está junto à luminária do teto do seu quarto. Ela brinca e brinca. O móbile incansável, gira sem fim e a música de ninar embala os jogos de nossa pequena. A corda do brinquedo já vai acabar e Lulu pressente a mudança, abri a boca de sono, os olhos pesam mais. O móbile cansa de ser carrossel e emudece. Nossa filha deita-se em seu berço desalinhado. Fica em silêncio e, de repente, levanta e proclama: 'cabou'. De pé aproxima-se do móbile e estica a sua mão para lhe dar corda. Fico a olhar para a minha pequena, ela alcança o móbile que está no alto e aciona o mecanismo. A trilha do 'paqui' recomeça e  a felicidade que ela extrai de seus jogos ilumina o quarto. Noutro dia, era bebê deitado no berço que lançava para o alto os seus pés para tocar o móbile, hoje, é a menina que usa as mãos para acionar o engenho do carrossel de seu berço.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Crônicas de um pai: papi, papai, papul

Crônicas de um pai: papi, papai, papul

Muitas vezes, ela nomeia o mundo simplificando, assim, por favor, vira 'pufa'. Noutras, o nome fica mais difícil, suco é 'chuco' e o que dizer de pai que é 'papi papai papul'. É muito longo, muita mão de obra, mas eu adoro ouvir. 

Crônicas de um pai: estrela

Crônicas de um pai: estrela

Entre as canções de sucesso das últimas 48 horas está a 'brilha brilha estrelinha'. Não apenas a busca, mas Maria fica eufórica com a estrela que lhe sorri e brilha enquanto ganha os céus. Ela fica comovida ao seu jeito e busca em nós cumplicidade para as suas alegrias. Quando me dou conta estou ao seu lado de igual forma encantado com a história. Ser pai exige que a todo instante eu reveja a minha vida e, ao mesmo tempo, esqueça tudo para brincar.

terça-feira, 12 de junho de 2018

Crônicas de um pai: os bolsos

Crônicas de um pai: os bolsos

Dona Valdina ensinou-lhe que as suas calças tinham bolsos, depois disso, qualquer roupa que lhe oferecemos Maria deseja saber se há bolsas para colocar as chaves da casa e os seus brinquedos. Até então, eu e Vany jamais nos demos conta dos bolsos das roupas de nossa filha. A brincadeira iniciada pela Valdina, mãe da amiga Sônia, rendeu e rendeu. Agora ao se vestir já começa a buscar pelos seus bolsos, quando não os encontra, insiste e insiste, nossa pequena Maria não desiste facilmente.

Crônicas de um pai: as panelas da casa

Crônicas de um pai: as panelas da casa

Caminhou ligeira pela cozinha e buscou pela panela guardada no armário. Levantou-a com dificuldade em virtude do peso e a trouxe para o chão da cozinha. Sentou-se junto à panela, retirou a tampa e depositou no fundo da panela a bolacha mordida e o caqui com os quais brincava. Ficou ali a pensar na sua receita do dia, buscou pela tampa que estava bem ao seu lado e colocou-a sobre a panela. Levantou-se e ao mesmo tempo tratou de trazer a panela para junto de si. Era pesada e visto que usava apenas um braço - o outro carregava a Cacá, a sua ovelha de estimação - desistiu do movimento e sentou-se. Destampou a panela a alimentou a Cacá com bolacha e caqui ali mesmo sentada no chão da cozinha. (ela sabe que é faz de conta, do contrário, como vou explicar que ela brincava de dar de comer, pois, no final, quem comia bolacha e caqui era a nossa mocinha).

Crônicas de um pai: panelas e mais panelas

Crônicas de um pai: panelas e mais panelas

Era tarde e nos preparávamos para dormir, reuniu as suas pequenas panelas de brincar e nos chamou. Ficamos os três ali, servindo e sendo servidos. Ela queria todos à sua mesa de faz de conta. De repente, Lulu parou e olhou para a sua diminuta panela e exclamou: 'cabou'. Eu e Vany nos apressamos na busca de outra panela imaginária para abastecer a de nossa filha. Lulu olhou para o interior de sua panela e sorriu, havia comida para todos e começou a distribuir colheradas a todos.
(Até acreditamos que estava com fome, mas como seria possível depois do tanto que jantou e da manga que devorou de sobremesa)

Crônicas de um pai: viva o brócolis!

Crônicas de um pai: viva o brócolis!

Cresci ouvindo dizer que o brócolis não era bem visto por crianças, sempre estranhei, afinal minha dieta sempre foi repleta de brócolis. Maria Luíza caminha pelo mesmo caminho. Ainda pequena, criança de colo, almoçávamos na linda Holambra. Levamos a comida de Maria Luíza com esmero e cuidado, aquecemos a sua papinha e a alimentamos. Em um momento de descuido nosso, Maria Luíza agarrou pedaço de brócolis que acompanhava o peixe pedido por nós em um restaurante. Vany ficou apreensiva e tentou tirar da boca de nossa filha, afinal não era pequeno o pedaço que ela pegará. Tarde demais, nunca mais vimos a pequena árvore. Desde então, quando há brócolis em nossa casa, Lulu não se contenta apenas com o que está em seu prato, esta sempre a provar do nosso.
Viva o brócolis!! 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Crônicas de um pai: o tempo

Numa noite é o nosso bicho da seda pronto para dormir, na manhã do dia seguinte já vestida para o arraial afina a sua viola

Crônicas de um pai: paía e outros nomes

Crônicas de um pai: paía e outros nomes

paía é padaria,
ita ou tita é rita
jussaia é jussara
cabô é acabou
anja é laranja
banana é banana e, também, muitas outras frutas (palavra elástica)
vião é helicópero e avião
piupiu é passarinho
chá é chave
pufa é por favor
denti é dente
café é café e, também, em algumas situações coalhada e iogurte
ati é arte, isto é, brincar de desenhar e pintar
mamá é mamar
pepê é leite materno
tetê é mamadeira

ps. a lista é longa 

sábado, 9 de junho de 2018

Crônicas de um pai: Festa Junina

Crônicas de um pai: Festa Junina

Dia de festa, dia de celebrar nossas vidas, dia de assistir nossa pequena Maria dançar o 'cai cai balão', que tantas vezes ensaiou em nossa casa nos últimos dias. A minha celebração começou quando todos ainda dormiam, aproveitando o silêncio da casa conversei com os meus. Logo a casa ficará ruidosa e dengosa, ela irá se espreguiçar enquanto ganha maria chiquinha no cabelo. Dia de sorrir e pedir que São João nos regale com alegrias e esperanças.

Crônicas de um pai: falar com os olhos

Crônicas de um pai: falar com os olhos

Ela falava aos quatro ventos, ensaiava solfejando a sua linguagem de bebê e, agora, de mocinha. Nas últimas horas, no entanto, novo salto. Há frases e períodos nas quais ela me olha com a expressão 'você precisa me entender e me ajudar, qual é a palavra que preciso usar?'. Ela está ali entre o momento de expectativa e o de alegria pedindo que eu a entenda, ela está girando uma vez mais e crescendo.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Crônicas de um pai: Cecília Meireles e a sua avó (escolha o seu sonho)

Crônicas de um pai: Cecília Meireles e a sua avó (escolha o seu sonho)

Cancelada a minha consulta dentária resolvi visitar sebo no caminho de volta para casa. Eu lhe trouxe, minha filha, livro de crônicas de Cecília Meireles. Ela me lembra a sua avó, elas eram contemporâneas e quando leio em Cecília a descrição da luz sobre a louça azul de pronto eu vejo a sua avó, viajo em minhas memórias e caminho, uma vez mais, pela casa que ela criou feita de rendas e de louças azuis e douradas. Aprendo que a coletânea de crônicas que lhe trago era, ao tempo de Cecília, lida em programas de rádio segundo me conta a orelha do livro assinada por Carlos Drummond de Andrade. Sim, é livro das antigas, tal como os filmes que sempre estou a apresentar. Venha, vamos ler e ouvir a Cecília amiga de Dona de Nassima.

ps. beijo, mãe!

cometário extemporâneo: outrora o meu bairro era cheio de alfarrábios, eu os conhecia e visitava, agora, as lojas deram lugar a prédios e prédios. Nada a estranhar quando estamos a mudar o mundo em direção ao futuro e as louças azuis parecem coisa de arqueólogo.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Crônicas de um pai: apuullll

Crônicas de um pai: apuullll

Ela estava no alto da escada, segurava as mãos de sua professora. Ao me ver gritou e me saudou. Sorriu a sua boca cheia de dentes e queria vir ao meu encontro não fosse o portão fechado.  Quando me lembro disso, sinto-me alguém para a mocinha que vive em nossa casa. Espero que demore a chegar o dia em que crescerá e não me saudará de forma tão efusiva e emocionante.

ps. apuulll no léxico luluziano é papai

terça-feira, 5 de junho de 2018

Crônicas de um pai: as frases (ou o objeto direto)

Crônicas de um pai: as frases (ou o objeto direto)

O crescimento do vocabulário levou ao surgimento das frases. Lulu equilibra-se nas palavras que aprende. Ela chama e nomeia o seu mundo. Combina verbos e nomes, ainda deixa de fora os sujeitos. Ela caminha para escrever o haikai do dia.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

Crônicas de um pai: nariz de palhaço

Crônicas de um pai: nariz de palhaço

Sábado último, Maria foi ao aniversário de dois anos do Miguel. Vizinhos que são, vez por outra acenam na rua um ao outro. Acenos tímidos e risonhos. O terma da festa era palhaços. Ambos, Maria Luíza e Miguel fartaram-se com bonecos e caras de palhaço.
Aos amigos Francesca e Marcelo o nosso muito obrigado pelo convite e os nossos parabéns!!

ps. é pique, é pique!!

Crônicas de um pai: a amiga Sônia

Crônicas de um pai: a amiga Sônia

Entre as virtudes das redes sociais está a capacidade de nos permitir reencontrar pessoas que fizeram parte de nossas vidas e que deixaram saudades. Assim aconteceu com amiga dos tempos da Ponte Pequena. Morávamos na mesma rua e nossas mães eram boas amigas. Assim crescemos e estudamos. Passados tantos anos nos reencontramos para um lanche em nossa casa. Depois de tanto tempo, depois dos desafios, depois de sobreviver às chuvas em nosso bairro nos damos conta do quanto somos - e éramos - felizes. Sejam bem-vindos! Venham conhecer a minha família!
Filha, está é a mãe da Sônia! Ela era grande amiga de sua avó!

Crônicas de um pai: a pepê (mudança de hábito)

Crônicas de um pai: a pepê (mudança de hábito)

Apenas agora, depois de 19 meses, a chupeta ganhou espaço na vida de nossa pequena. Não é um espaço grande, tão-somente uns poucos minutos por dia. Ao acordar pela manhã fui recebido com um abraço para retirá-la da cama. Passo seguinte ela pediu a Cacá e a chupeta. Trata-se de algo novo pedir a chupeta, eu e Vany acreditamos que a dentição é a responsável pela mudança de hábito. Antes de deixar o carro para entrar no berçário perguntei-lhe se que desejava levar a chupeta, respondeu-me que não. Fácil entender, afinal  quem vai usar chupeta se há tanta coisa para contar a respeito do final de semana.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Crônicas de um pai: o sol e o vaga-lume

Crônicas de um pai: o sol e o vaga-lume

Enquanto o pequeno leão tocava violão o vaga-lume cruzou a tela da TV. De pronto, ela chamou o sol pelo nome. Não, filha, não é o sol, mas um pequeno vaga-lume. Ele brilha como o sol, ele se parece com um, mas é um inseto que ilumina.  Depois disso, ela chamou o pequeno inseto a cada vez que ele aparecia pelo nome sol. Creio que ela entendeu a história do vaga-lume, mas passou a brincar de ouvir as minhas explicações a respeito do pirilampo que brilhava como o sol.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Crônicas de um pai: brincar é coisa séria

Crônicas de um pai: brincar é coisa séria

Entrar na brincadeira pede dedicação, não se pode fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. O tempo de brincar pede que se esteja inteiro. Entrar no jogo, vestir a personagem qualquer que seja, o cavalo, ou o bem-te-vi, a boneca a ser ninada. Estar inteiro e, ao mesmo tempo, dar-se conta de que a roda gira ligeira. Deixa-se a boneca para pegar o lápis de cor e brincar de apontar, brincar de pintar a folha em branco ou a borda da agenda. As informações e os jogos são tantos que a todo instante há algo diferente para fazer. A mocinha de 19 meses e três dias tem muito a me ensinar sobre o tal tempo.

domingo, 27 de maio de 2018

Crônicas de um pai: papul, papul, papuuulll!

Crônicas de um pai: papul, papul, papuuulll!

Foi assim, à meia-noite, depois às 3 e, por fim, às 6 da manhã. Maria acordava, sentava-se sobre o seu cobertor e ficava a me chamar. Sim, durante o dia sou papai, após a meia-noite sou papul, o fazedor de mamadeiras. Aquele que cambaleia e teme ir ao chão com a filha e tudo mais. mamadeira tomada é hora de dormir, na última mamada às 6, antes de virar no berço para dormir, Maria Luíza bateu palmas de satisfação e fechou os olhos.
Durma com os anjos, minha filha! Vou colocar o meu despertador para o horário do almoço....beijos!!