segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Crônicas de um pai: fuligem

Crônicas de um pai: fuligem

A arte que tomei como minha foi a da ciência da História. Ciência, que, desgraçadamente depois da Segunda Guerra serviu e, ainda serve, mais aos idiotas do que aos homens de bem. Ciência desconstruída para servir aos arautos da demagogia. Acompanhei, infelizmente, a arte da História servir à desonestidade intelectual.

A perda de um acervo consumido pelo fogo é a nossa cara, os comentários das últimas horas reforçam a nossa cultura do descaso e a sanha de culpar o vizinho. Somos uma sociedade pequena, quantas das vozes das últimas horas não estão entre os responsáveis pela tragédia?  Nossos índices de educação se comparados com os de outros nações caem de forma regular e, ainda assim, nos vangloriamos. (do que mesmo?)

Fico a pensar em como lhe dizer tudo isso, minha filha, como contar sobre a mediocridade do mundo no qual nasceu?. Melhor trabalhar, melhor permanecer na senda e mostrar que o talento serve ao nosso propósito. Já lhe contei da biblioteca de livros raros da Universidade de Santiago de Compostela?

Venha vou lhe falar de minhas aventuras naquelas terras. Conheci, certa vez, um geógrafo de Trasalba que falava da perda de uma velha senhora. Mulher que reunia em suas roupas as histórias e falares de imensa área rural. Mulher que sabia cantigas de Santa Maria de cor e a todos reverenciava em sua língua dos interiores da Galiza. Ao morrer o mundo ficou menor, mas quem se dava conta?

Nossa história é cinza, não porque foi incinerada em nossas tragédias, mas sim porque é o quanto valemos todos nós.

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