sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Crônicas de um pai: certo dia

Crônicas de um pai: certo dia

Certo dia a pequena Maria tomou em seus braços a sua amiga de brincadeiras e a ninou. A sua linguagem bebê servia-lhe para acalentar a fiel escudeira. Ficamos encantados com a cena de um bebê embalando de forma carinhosa a pequena ovelha Cacá. Eu e Vany nos demos conta que havia ali um salto. Os dias e as cortinas voam, Maria cria frases cada vez mais longas, períodos completos. Os jogos de ninar são acompanhados de declarações e de votos, Maria é uma menina, pequena e encantadora. Reúne brinquedos e objetos para viver as suas cenas. Teatro de criança, teatro no qual ensaia e sonha a sua vida. Fico ali, sou parte de seu palco: ‘dá mão’, ‘senta', ‘abriu, pufavô', ‘onde se vai?'. Ausentar-se não é o meu desejo e se a máquina de lavar chama por mim Maria deixará tudo para estar ao meu lado. Ouvirei os seus passos de menina que dança ao caminhar embalada pelas suas canções infantis, nadando como o peixinho dourado ou girando como as rodas do ônibus. Não preciso voltar para trás para saber que o pequeno milagre que nasceu em minha casa está bem ali, sorrindo a sua felicidade de menina que caminha no novo mundo. Quando paro dou-me conta de que já está junto às minhas pernas, ela quer colo. Como o marinheiro da gávea aponta – ‘pra cá!’ – as direções que devo tomar em nossas navegações. Lá vamos nós! Ela se despede de mim todos os dias, vai mais longe, caminha mais segura. Vivo do sorriso que me oferece quando chego ao berçário para buscá-la. Abre os braços e sorri minha vida inteira!

Os cabelos são longos, ainda vejo o rosto da menina que segurei, certo dia, na sala de cirurgia de um hospital de São Paulo. Pouco mudou, ainda aperta os olhos em suas saudações. Eu a vejo caminhar rua acima, antes de dobrar a esquina volta-se para acenar o seu até logo. Ela cresceu e não a vejo mais, agora, ela voa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário