sexta-feira, 6 de julho de 2018

Crônicas de um pai: a kombi faz 'vruumm'

Crônicas de um pai: a kombi faz 'vruumm'

Sentada, a cabeça descansava sobre a mão esquerda enquanto observava o que se passava ao seu redor. Súbito decidiu-se por nova brincadeira, era hora de pular, ela dizia algo que eu não entedia, assemelhava-se a uma canção, havia ritmo e fonemas que iam e vinham. Compartilhei de sua dança e quando nos demos conta já estávamos em nossa quintal, mal chegamos e ela buscou pelas vassouras, ela adora varrer e, mais ainda, quando tem companhia. Algumas vezes senta-se no degrau da escada e põe-se a apontar: aqui, aqui. Tão pequena e já toma decisões. Entre as artes do quintal está a de regar as plantas. De fato, tanto quanto regar as plantas, Maria aprecia o movimento da água no chão, os caminhos e as poças. Encanta-se com a poça e pratica a sua arte de sapatear. Ri e sapateia. Molha os pés feliz e encantada com tudo quanto há ali, não há o escorregador do parque, mas inventa com os objetos que ele estão ao seu alcance. Roupas molhadas e um sorriso estampado em suas feições, há que se trocar meias e calças e lá vamos nós. Aproveita-se a situação e a fralda também é trocada. Maria resmunga, não gosta de interromper as suas reinações para as trocas, 'estou a perder tempo'. O repertório muda a todo instante, os brinquedos e a forma de brincar, também.

Relaxa não sem antes espernear um pouco, agradam-lhe as cócegas nos pés feita com lenço umedecido. Sossega ao perceber que é acarinhada. Pronta para novas brincadeiras busca o chão. 'Não, lembre-se de como descemos, de costas, desça escorregando o corpo, descer de frente vai machucá-la'. Ela me ouve e suspende o movimento, dá-me ouvidos e escorrega do sofá para o chão. Agora é preciso correr, correr da cozinha para a sala e da sala para o quarto. Ela resmunga, tudo o quer quer, tudo o que pede é 'deita', que, em seu léxico é pedido para ocupar o berço. Ela deseja ouvir as suas canções e brincar com os bichos de pelúcia. Cacá, a ovelha, a fiel escudeira é a primeira a chegar. Aproximam-se Pingo, o elefante, Tatá, o urso, Ararara, a arara, Lota, a ursa branca e quem mais couber no berço de dois alqueires. Encontrou o mosquiteiro e interessa-se pela maneira como toca a sua pele, Maria cobre o próprio rosto como se o seu mosquiteiro véu fosse - receio que ela se machuque, mas está tudo bem - e ri, ri sincera e satisfeita. Quanto de sua vida e experiência não estão cheias de contentamento sincero? Recolho parte de seus amigos e os reconduzo aos outros  cômodos com o propósito de liberar espaço em seu campo de brincar e de faz de conta, a kombi rosa está em suas mãos para que brinque e faça 'vrruummm'. Ela a deixará cair displicente no chão para que venham brincar com ela. De brinquedo em brinquedo, de invenção em invenção ela leva horas de felicidade a todos que estão ao seu redor.

(a pedagoga visionária que dizia blá blu assessora o gato russo que prevê resultados da copa de futebol, estão bem ouvi dizer)

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