segunda-feira, 1 de julho de 2019

atualizações do blog

atualizações do blog,

por ora, as atualizações - crônicas de um pai e demais textos - serão publicados no meu site

http://josiasabdalladuarte.com.br/

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Santos Dumont (5): o balão e a tempestade

Santos Dumont (5): o balão e a tempestade 

O que o movia? O que sentia o nosso voraz leitor de Júlio Verne? Declarou certa vez que
deu-se conta de que a navegação aérea colocava desafios que a literatura ficcional do romancista não
permitia entrever. Os registros e livros deixados por Santos Dumont nos revelam algo
de suas expectativas e aventuras. No livro 'Os meus balões' retrata algo do que experimentou
a bordo do Balão Brasil durante voo noturno. Vale conhecer, a tradução do francês para o português
é de A. de Miranda Santos:

"Não atendendo a ninguém parti conforme havia deliberado. Em breve, lastimei-me da minha temeridade (...)
Achava-me só, perdido nas nuvens, entre relâmpagos e ruídos de trovões; e a noite se fechava em torno de mim.
Eu ia, ia, nas trevas. Sabia que avançava a grande velocidade, mas não sentia nenhum movimento. Ouvia e recebia
a procela e era só. Tinha consciência de um grande perigo, mas este não era tangível. Uma espécie de alegria selvagem
dominava os meus nervos (...) Lá no alto, na solidão negra, entre o fulgor de relâmpagos que a rasgavam e
o faiscar, eu me sentia como parte integrante da própria tempestade (...) falo desta aventura porque foi objeto
dos comentários dos jornais, e porque serve para mostrar que a aeroestação à noite é perigosa mais na aparência
do que na realidade"
(Santos Dumont. Os meus balões. Trad. A. de Miranda Santos. Guanabara: Ed. do Exército, 1973, pp. 102-03)

O episódio narrado teve lugar em 1900, estávamos frente a uma grande virada. Desde as grandes navegações dos séculos
XV e XVI, as narrativas de viagens fizeram do mar o grande desafio: História Trágico-marítima de Gomes de Brito ou Moby Dick
de Herman Melville, entre outros. Agora, às portas do XX, o ar (o céu) abria-se à aventura. A viagem acima retratada foi
feita a bordo do pequenino balão esférico que iniciou a vida areonáutica de Dumont - o Brasil - agora, era preciso
deixá-lo para trás e começar os trabalhos que culmirariam na dirigibilidade plena.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Crônicas de um pai: assediada

Crônicas de um pai: assediada

roteiro tantas vezes repetido:
escritora fala sobre si mesma e o seu trabalho, utiliza as redes sociais para os seus registros.
expor-se a coloca como alvo de comentários de todo tipo, entre outros, os assédios.
lá pelas tantas, a escritora solta o verbo e responde, ou melhor, chuta o balde na cabeça do agressor,
com isso, expõe a agressão. entre nós expor a o gesto deseducado e moralmente recriminável é muitas vezes tratado como algo pior do
que a atitude do agressor.
não é está nota sobre uma escritora em particular, mas sobre todas as escritoras vítimas de
homens machistas e vulgares que usam a rede (distância e anonimato) para dizer e revelar o quanto são tolos
(para dizer o mínimo).
se a mulher expõe a agressão sofrida, triste escolha, ela será recriminada por chutar o balde.
o silêncio é o que se deseja da pessoa agredida, já que o agressor - físico e virtual - anda impune e
acaba de tomar o elevador do condomínio.
minha doce lulu, minha querida vany, o mundo está doente. estou aqui e vou fazer como nossa filha tantas vezes pede: 'liga para a doutora'. Enquanto conversava com a doutora camila, rabisquei meu silêncio aqui.

Crônicas de um pai: a médica, a girafa e o hipopótamo não tomam banho

Crônicas de um pai: a médica, a girafa e o hipopótamo não tomam banho

a mãe: filha, vamos tomar banho!
a menina: não, não quero tomar banho
a mãe: nada disso, ontem já não quis tomar banho.
a menina: não, porque a médica, a girafa e o hipopótamo não tomam banho, tomam quinta-feira
a mãe: não sei se não tomam banho, mas você vai tomar
a menina: socorro! socorro!
ps. ambas tomaram banho, já a médica, a girafa e o hipopótamo fugiram apressadas
quando ouviram a água do chuveiro cair

História do Automobilismo Brasileiro (4): Chico Landi e Manuel de Teffé

História do Automobilismo Brasileiro (4): Chico Landi e Manuel de Teffé
Os nomes de alguns pilotos ficaram registrados, seja nos jornais e revistas da época ou nos
registros dos organizadores (Clubes de Automóveis). Nossos historiadores do automobilismo nacional são poucos, poucos mas notáveis
em seus esforços. Entre outros, registro aqui o nome de Paulo Scali que em seus livros (Chico Landi de ponta a ponta) ou Circuito da Gávea com grande
esforço reune informações e fotografias que nos permitem rica aproximação do que foi o automobilismo no Brasil nas primeiras
décadas do século 20.
Há sim uma vontade grande por parte de muitos apaixonados pelo esporte a motor no Brasil que de maneira solitária
reúnem informações em arquivos e registros pessoais. O desafio, por um lado, é incentivá-los para que persistam em seus
trabalhos de pesquisa, não desanimem frente aos desafios e ao descaso e, torcer, para que no futuro tais arquivos sirvam à organização de registros justos e fieis aos pioneiros (pilotos, mecânicos, patrocinadores, organizadores e aficcionados).
(por Jorge Dabuz)

Ramón Otero Pedrayo

Ramón Otero Pedrayo: velho como a terra

A singularidade de sua maneira de experimentar a sua terra conferiu à sua escrita personalidade.
A língua escolhida para dar voz aos seus personagens e tramas aos poucos recuperava o fôlego
literário que tivera noutros tempos. Desde a unificação dos reinos ibéricos na Idade Média
o castelhano, língua de Castela, coroa do Reino da Espanha, ganhara primazia régia frente aos demais
reinos e as suas línguas. A Galiza de Otero Pedrayo aos poucos desaprendeu o galego. De tanto caminhar
pelos interiores do seu mundo, de tanto ouvir os seus moradores e as suas falas, decidiu-se
que lhe cabia dar letra às vozes que conhecia e amava. Escrita amorosa.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Crônicas de um pai: dois anos e oito meses

Crônicas de um pai: dois anos e oito meses

ela anda chorosa, há um dente que a incomoda. mais do que isso, creio que os anos já pesam. deu-se conta de que o tal do crescimento e das mudanças envolvidas não são nada fáceis.
ela é uma menina-quase mocinha. interessa-se por tudo, se há estrelas no céu ou maçã em sua fruteira. chamou-me ontem à noite para brincar em sua casa de bonecas. vive a dizer que as suas bonecas estão doentes, mamadeiras e remédios imaginários estão por todo lado. deixou-me feliz quando reuniu o casal que mora em sua casa de bonecas e a filha para um abraço.
pediu-me skate do homem-aranha (a mãe surtou, pelo pedido e por eu ter aceitado). anda agarrada às suas amigas. cacá, sempre ao seu lado, agora é acompanhada ora de um coelho, ora de um porquinho. o círculo de amizades cresce. subindo escadas de casa, parou quando percebeu que das frestas do degrau brotava uma flor amarela, tão grande quanto a unha de seu mindinho. colheu a flor e voltou a subir. enquanto buscava as chaves para abrir a porta a menina-quase mocinha olhou para o alto, sorriu para mim e disse: ' você está alto, papai!'. dito isso ofertou-me a flor que colhera: ' para você, papai'. depois de receber presente tão grande agradeci. 'de nada, papai!'.

Crônicas de um pai: cacá, homenagem

Crônicas de um pai: cacá, homenagem

sou grato, imensamente grato. quando chegou em nossa casa, confesso, mal nos falamos.
fui negligente ao deixá-la sozinha e abandonada em um canto da casa. estava atarefado com
outras coisas, não lhe dei o devido valor. 
dois anos e oito meses depois, eu me rendo. reconheço a sua sabedoria de gestos e de silêncios. sou grato pela paciência e carinho enormes que reservou para a nossa filha. outrora, você acompanhou a mãe de lulu na adolescência, não faz muito, mas hoje você reverencia outro membro da família.
não é possível falar de lulu sem falar de cacá, são gêmeas. inseparáveis nas reinações, infinitos os cuidados (nos últimos dias cacá usou mais o termômetro do que qualquer outro membro da casa no último ano). 
cacá revelou-se a primeira grande parceira. os braços, sim, aquela doce e suja figura tem braços que nossa filha adora torcer enquanto mama ou pouco antes de adormecer.
lulu sabe que sua amiga precisa de banho e aprendeu que cacá usa a máquina de lavar para os seus banhos. ainda fica impaciente quando encontra a ovelha pendurada no varal e se põe a gritar: 'socorro, a cacá tá presa'. depois e toda sorrisos e a mostra a todos dizendo que sua ovelha está 'perfumada de banho'.
grato cacá!

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Crônicas de um pai: o léo foi ao médico

Crônicas de um pai: o léo foi ao médico

menina: papai, você me ajuda?!

pai: sim, meu tesouro

menina: preciso...

pai: você precisa...

menina: o menino caiu...

pai: caiu na escola?

menina é, não, você me ajuda? ela caiu dárvore

pai: quem caiu da árvore? você caiu da árvore na escola? você está bem?

menina: caiu e foi médico, você me ajuda?

pai: filha, não estou entendendo. quem caiu?

menina: o léo

pai: quem é léo? coleguinha da escola?

menina: você me ajuda? (empurra o celular na direção do pai)

pai: é um desenho? léo é um desenho?

menina: sim, ele caiu e foi ao médico

pai: léo foi ao médico! (fala ao sistema de busca do aplicativo). Você o reconhece?

menina: não, papai! não é!

pai: vamos tentar de novo 'léo caiu da árvore'

menina: nãão, papai! (o tom é de quem está a perder a paciência)

pai: vou tentar de novo

menina: aqui ó!

pai: filha, léo é um caminhão de brinquedo?

menina: sim, caminhão caiu da árvore e foi ao médico

pai: meu amor, caminhões vão mecânico, meninas vão ao médico!

menina: sim, papai! você liga para a doutora camila?! obrigada, papai


ps. há melhor maneira de passar a tarde?

Crônicas de um pai: golpe de mestre (I e II)

Crônicas de um pai: golpe de mestre (I e II)


(I)

a menina: (geme de dor, a entonação é dramática) 'papai, papai, por favor, me dá remédio para a garganta, tá doendo'

o pai: 'sim, meu amor!'; 'alô, doutora! bom dia! lulu está doente, a garganta dói, o que devo fazer?'

a menina: (sussurrando): 'dá bolacha recheada!'

o pai: 'ah, sim doutora!'

a menina: (ao ver a bolacha ela exclama) 'ooohhh! remédio!'


(II)

a menina: (volta a gemer) 'papai, ainda dói, mais remédio, por favor'

o pai: 'se você comer as metades das bolachas que deixou no prato, eu lhe dou
mais remédio'

a menina: (resmunga inconfrmada e começa a comer tudo que deixou para trás)

o pai: (em silêncio traz mais remédio)

domingo, 23 de junho de 2019

Crônicas de um pai: dançar rock com o giancarlo

Crônicas de um pai: dançar rock com o giancarlo

ela dança, ela ama dançar. desde pequena a musicalidade fez parte de suas expressões e diversões.
encontramos gaita dos meus tempos de menino e ela aprendeu a tocar, ou a brincar de tocar. pandeiros e
violinhas, flautas e pianos virtuais estão ao alcance de suas mãos.
ela acompanha os sons, quer saber o que são. pode ser o seu jorge em comercial de mercado, música eletrônica
de comercial de sabonete ou concerto do moricone ao ar livre, nada lhe escapa.
hoje, foi dia de rock. ainda na barriga da mãe aprendeu a ouvi-los ao mesmo tempo de descobria palavra cantada
e rá-tim-bum. tudo ao seu alcance, é claro, desde que traga selo de qualidade.
hoje, ouviu rock como nunca. ganhou a sala da casa de giancarlo chiarelli para pular e fazer solo de canções.
alegre, feliz e pura energia, rock na veia!!
(grato gian!!)

Crônicas de um pai: as maçãs mordidas da fruteira (maçã nossa de cada dia)

Crônicas de um pai: as maçãs mordidas da fruteira (maçã nossa de cada dia)

aos poucos aprende a distinguir sabores e faz as suas escolhas, define combinações de cores
e de aromas. gosta de saber o que são, aceita experimentar e quando muito diz 'é diferente!'.
começou ainda bebê a comer maçãs, raspadas ou cozidas à maneira da família. sempre as
apreciou, mas agora algo mudou. passou a comer de três a quatro por dia. faz as refeições
de forma habitual e se antes comia uma ou duas, passou a outro nível de consumo.
em virtude da idade e para facilitar a sua vida trocamos a fruteira de lugar, se antes ela
se esticava para alcançá-las, agora estão à mão.
temos muito a aprender, minha filha a começar que frutas mordidas não voltam para a fruteira, 'nos as entregamos
aos pais ou as deixamos sobre a mesa'. ela ainda resiste, prefere guardá-las na fruteira
para logo mais saborear a sua maçã.
mudamos nossos hábitos, a começar pelo número de maçãs que compramos todas as semanas.
se alguém nos visitar, por favor, releve se descobrir frutas mordidas em nossa fruteira,
acontece que nem sempre nossa filha morde a mesma fruta. estamos trabalho nisso, mas
o sucesso de nossa empreitada ainda levará alguns dias.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

História do Automobilismo Brasileiro (3): Automóvel Culb do Brasil e a Prova de São Gonçalo

História do Automobilismo Brasileiro (3): Automóvel Club do Brasil e a Corrida de São Gonçalo

As associações e clubes de automóveis, nas primeiras décadas do século XX, tiveram importante participação no desenvolvimento da cultura automobilística. O Automóvel Club do Brasil, fundado em 1907, com sede na cidade do Rio de Janeiro organizou corrida automobilística em São Gonçalo no ano de 1909.
À época as corridas ocorriam em ruas e montanhas (subida), entusiastas das provas de automóveis encontravam, cada vez mais, resistências das autoridades públicas para a realização dos eventos. A prova de São Gonçalo é bom exemplo, sabe-se que deveria ocorrer na Floresta da Tijuca e devido a proibições foi transferida para São Gonçalo.
O curioso sobre a prova é que dispomos de umas poucas (e raras) imagens que nos permitem conhecer algo sobre a prova, os carros e o público que assistia aos eventos.

ver a propósito a página do Automóvel Club do Brasil
http://www.automovelclubedobrasil.org.br/

(por Jorge Dabuz)

Crônicas de um pai: 'o pássaro tá gritando'

Crônicas de um pai: 'o pássaro tá gritando'

o quintal exerce forte atração sobre maria luíza, há animais, plantas e o céu. desde pequena, aprendeu a saudar o seu quintal, agora, é ela quem me lembra da saudação diária. leva a minha lupa para buscar caracóis e minhocas,. minhocas, aliás, são o bicho da semana. o calor excessivo dos últimos dias deixou uma minhoca pequenina em apuros. lulu a apelidou de minhoca bebê. quando a descobriu pela primeira vez, tinha o nome na ponta da língua. ficou triste ao se dar conta de que ela morreu.
deu-se conta de que há aventuras diferentes em seu quintal, reinações para os diferentes períodos do dia. ir ao quintal à noite reserva-lhe um céu nem sempre estrelado. infelizmente, já aprendeu o que é poluição. dias atrás a lua cheia explodia na linha do céu e lulu gritava de satisfação.
muitas vezes eu a observo de longe, ouço os seus diálogos com a cacá, a fiel amiga de todas as horas. aprendo sobre o que conversam as duas mocinhas e fico a par das novidades do dia. hoje, eu tomava café em nossa cozinha enquanto minha filha começou a conversar com os pássaros.
um bem-te-vi que por aqui passava respondeu aos rogos de luíza e logo conversavam sobre árvores e frutas. lulu convidou-o para a visitar a mexeriqueira do pátio de sua escola e, não resistiu, correu para me contar do pássaro que gritava em seu quintal.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Santos Dumont (4): as lições do Balão Brasil

Santos Dumont (4): as lições do Balão Brasil

A fabricação do Balão Brasil diz muito sobre as maneiras do jovem Dumont estudar
e trabalhar. Sabemos pelo próprio Santos Dumont que ao chegar buscou em livrarias
tudo que havia sobre engenharia de motores e de aeronáutica. Contratou professores
que pudessem ser de alguma ajuda para em sua formação.
Ele tinha certeza que a vida na sua fazenda do pai cafeicultor não era suficiente.
Se cedo sabia como funcionavam máquinas de ferro que levavam o café de uma área a
outra, se a sua família estava entre as primeiras proprietárias de carro a combustão
no Brasil. Tudo isso, sabia muito bem, o capacitava, mas era preciso saber mais.
Santos Dumont queria aprender e o seu método era a aplicação aliada à disposição
livre de amarras, sabia que no campo da engenharia de motores e da aeronáutica, rever e reavaliar
de forma constante os projetos era indispensável.
Santos Dumnont nadou contra a corrente do estabelecido naqueles dias e colheu os frutos
de suas visões e projetos. A sua maneira de trabalhar revelou-se acertada e proveitosa.
O Brasil, país natal, não sabia ler, aliás, ainda não gosta de ler. O livro 'Os meus
balões', escritos em francês, em 1904, revela muito do homem e do inventor, do sonhador
e do empreendedor. Por que escreveu em francês? Estavam ali os seus ajudantes e os seus
professores, as oficinas e os mecânicos, os campos de pouso e as escolas aeronáuticas.
O Brasil pouco ou nada lhe oferecia. Certa vez, já piloto e inventor consagrado,
em conversas com autoridades aéreas do país indicou-lhes questões a serem tratadas para cuidar do futuro
da aviação no país. Santos Dumont reconhecido mundialmente não era voz ativa nas rodas
brasileiras. A primeira edição francesa de 1904 foi seguida de outra, ainda no mesmo ano,
em língua inglesa. Não à toa, França, Inglaterra e Estados Unidos, voltaram a sua atenção
para o lugar da aviação no século XX e o reinventaram. Eles entenderam a revolução que estava em curso, o Brasil traduziu  o livro que revolucionou a maneira de pensar a conquista do ar em 1938.

Santos Dumont (2): O Balão Brasil, o laboratório

Santos Dumont (2): O  Balão Brasil, o laboratório



De estudante a inventor, de homem devotado à pesquisa e à experimentação ao título de pai da aviação, esta é a sua trajetória em terras brasileiras e francesas. O percurso de nosso engenheiro nos ares começa com um balão de tipo esférico, usual naqueles dias. Balão de seis metros de diâmetro e carregado de hidrogênio, realizou o seu voo inaugural no dia 4 de Julho de 1898, foi batizado por Santos Dumont com o nome de Brasil. Serviu como escola para o nosso inventor, o Brasil realizou mais de 200 ascensões nos meses seguintes. O Brasil permitiu o estudo de correntes de ar, dinâmica de voo e aerodinâmica. Santos Dumont aprendia a voar.



(continua)

Crônicas de um pai: a minha foto

Crônicas de um pai: a minha foto

no país da burocracia (kafka e bergman adorariam), aprendi que certo órgão público que emite registro de identificação
não aceita o registro que emite e exige que seja apresentado registro de identificação de outro órgão público.
(não cabe explicação, apenas transpiração entre filas de atendimento e a sensação de precariedade).
concluído o périplo entre mesas e telas gigantes dizendo que corredor buscar chego ao derradeiro passo da via burocrática:
tirar foto para o registro. Assustei-me, eu havia perdido cerca de 10 anos desde que cheguei ao prédio.
os cabelos brancos estão mais brancos, a testa pesada e cansada traz mais rugas, o olhar perdeu muito do viço e traz olheiras
que não tinha ao chegar.
saio mais velho de minha desaventura. ainda estou assustado com a minha foto, com o meu registro. perdi minha vida entre mesas.
será que serei reconhecido em casa? lulu ainda vai sorrir depois de tantos anos? vany ainda me espera?

Crônicas de um pai: a caixa de roupas

Crônicas de um pai: a caixa de roupas

aos dois anos e quase oito meses comprar roupas não é mais a mesma coisa.
quando maria luíza percebeu que sobre o sofá havia caixa trazida pelo carteiro,
revelou a sua curiosidade: 'o que é isso?'
quis abrir a caixa, aliás, vive a sua curiosidade abrindo e explorando tudo.
não há gaveta ou caixa, armário ou sacola livres de suas observações.
assim foi, caixa aberta e lulu começou a série de exclamações.
usou e brincou com os adjetivos que conhece: linda! bonita! chique!
não bastasse isso, quis usá-las.
'filha, precisamos lavá-las antes'
'preciso, não consigo, me ajude'
escolheu peças e definiu combinações.
brincou e, sobretudo sorriu feliz.
escolhida as peças, entrou na caixa na qual as roupas estavam.
pediu ajuda, 'papai, por favor, quero navegar' e lá fomos nós arrastando uma
caixa que mal comportava maria luíza pelas águas dos mares da sala e da cozinha.

Santos Dumont (1): o motor de combustão interna

Santos Dumont (1): o motor de combustão interna

O homem de gênio sabe valer-se daquilo que tem ao alcance de suas mãos. O motor de combustão interna transformava a sociedade, tratava-se de um motor pequeno se comparado aos movidos a vapor e aos elétricos, no entanto, se era menor revelou-se mais forte. O chamado motor de combustão externa, a partir de agora, veria o seu uso ser reduzido.

Santos Dumont não era o seu inventor, todavia, percebeu que as dimensões menores e a capacidade de força do motor de combustão interna poderiam servir aos propósitos das máquinas de voar.

A percepção aguda e a disposição para criar eram a sua natureza.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Crônicas de um pai: não há segredos

Crônicas de um pai: não há segredos

as conversas dos pais não guardam segredos há tempos,
ela fica a nos ouvir com a sua expressão de curiosa
aguardando apenas o momento de entrar e resolver tudo.


a saída encontrada, não sei quanto tempo vai durar, é soletrar.
(pais são ridículos, por isso são divertidos!)
ficamos a imaginar o dia em que maria luíza, participará
do jogo de soletrar e nos deixará sem ação.


(e quando ela se der conta do mundo que vê passar
ao longo de sua janela favorita? e quando perceber
a dor e as mazelas do mundo?)

segunda-feira, 17 de junho de 2019

Crônicas de um pai: a lupa e o quintal

Crônicas de um pai: a lupa e o quintal

meses atrás monstrei-lhe a minha lupa, era parte de nossas brincadeiras no quintal de casa.
aos poucos entendeu que a melhorava as suas observações, não demorou e a lupa ganhou inesperados empregos.
a formiga que caminha sobre a mesa, folha perdida no chão da cozinha, a parede rabiscada de giz de cera.
a tela do computador, as calças de maria luíza. tudo ao seu redor é indagado pela lupa.
nas últimas horas, a lupa voltou ao chão e a moldura que segura a lente tornou a quebrar.
tornou a quebrar porque dias atrás durante uma de suas reinações a lupa voou longe e o primeiro estrago aconteceu.
eu lhe disse que ela estava quebrada e era preciso consertar a moldura da lupa, falei-lhe usaríamos cola.
enquanto estudava maneira de recuperar a lupa duplamente quebrada, lulu trouxe a caixa de ferramentas.
na sua maneira de pensar se a lupa estava quebrada bastava usar o martelo e o alicate e teríamos a lupa
pronta para reinações.
expliquei-lhe que o caso era para a cola, prestou atenção e fez caras lindas.
já é de buscar a lupa, estou certo que já secou, maria luíza precisa de seu brinquedo de ver o mundo.
beijo, luu

Crônicas de um pai: pintar as unhas

Crônicas de um pai: pintar as unhas

final de semana, é hora de pintar as unhas. dona vany habituou-se e criou a sua rotina e tempo certo. não contava que teria ajuda, não esperava que a sua filha de dois anos e (quase) oito meses quisesse também pintar.
não me lembro mais da primeira vez, lá se vão três meses ou mais que o ritual de pintar as unhas começou. os movimentos coordenados são surpreendentes, o silêncio e a dedicação.
fã das tintas, nossa lulu descobriu que o mundo pode ser mais divertido com as unhas pintadas. cores de mocinha, cheias de brilhos que mais lembram as bolhas de sabão que tanto pede.

Crônicas de um pai: tetê de papai

Crônicas de um pai: tetê de papai

depois de longa espera eis que na manhã de sábado minha filha resolveu me homenagear,
pediu tetê de papai. pelo menos sou top 100. a lamentar ter ficado atrás de todos os cães e gatos que são amigos de minha filha. mas, por fim, estou lá na galeria de lembranças.
no mesmo dia, para desfazer a minha alegria, a mamadeira da tarde julguei, ingenuamente, que ainda seria de papai. ledo engano, ao entregar a mamadeira, maria luíza disse que era tetê de mamãe.
(é a vida!)

domingo, 16 de junho de 2019

Crônicas de um pai: 'você consegue, é assim ó'!

Crônicas de um pai: 'você consegue, é assim ó!

lulu tem as suas frases, tão pequena e já podemos falar de algumas de seus jeitos.
'você consegue, é assim ó'! é daquelas que te viram de cabeça para baixo.
ela vive a sua confiança e quer compartilhá-la, ela quer ensinar e demonstrar como se faz.
ouvir o 'você consegue' é um regalo, daqueles que levamos e ao longo do dia usamos.
querida maria luíza, você conseguiu de novo.

Crônicas de um pai: medos imaginários

Crônicas de um pai: medos imaginários

eles acompanham nossa filha. ao longo do dia diversas vezes somos chamados
a enfrentar lobos, bruxas e monstros. maria luíza aproxima-se falando baixo.
deseja que nos aproximemos para ouvir o que tem a dizer, quase sussurrando
diz que está com medo e pede a nossa mão para enfrentar quem a assusta.
passos lentos e coreografados, eu e a vany a acompanhamos. lulu aponta
para a porta da sala e volta a sussurrar: 'o lobo tá entrando'. nós a
defendemos e a paz volta ao reino. as fronteiras seguem íntegras e
temos histórias para contar ao redor da fogueira da noite.

(lulu, felizmente, brinca com tais medos. ela segue corajosa
e meiga)

História do Automobilismo Brasileiro (2)

História do Automobilismo Brasileiro (2)

O automobilismo de competição entre nós é anterior à chegada das montadoras. Se a Ford e a Chevrolet
aqui chegaram, respectivamente, em 1919 e 1925, desde as primeiras importações podemos dizer revelamos
o desejo da corrida. Sim, os primeiros veículos de rodas que cruzaram em competições as nossas vias foram
as carroças.
São Paulo crescia de forma acelerada, não era mais capital de província, mas uma metrópole. As ruas da cidades
traziam línguas e práticas de outros países. Imigrantes italianos formados em escolas e na prática de
motores alimentavam entre nós a a paixão pelas máquinas e pelos motores.
Os grupos de amigos e de mecânicos deu lugar, em 1908, à fundação do Automóvel Club de São Paulo. Passos importantes
para o fortalecimento da cultura do automóvel na cidade e, ao mesmo tempo, do automobilismo de competição.
Hoje quando falamos de competições, pensamos em autódromos, nos primeiros anos eles não existiam. O autódromo
pertence à fase seguinte quando as cidades não comportavam mais competições em suas vias públicas. Nos primeiros anos
improvisavam-se circuitos a partir das vias disponíveis. Os traçados eram criados quando da realização das provas,
significa que a cidade convivia com as corridas.

(Jorge Dabuz)

sábado, 15 de junho de 2019

Crônicas de um pai: jogar tênis

Crônicas de um pai: jogar tênis

não tínhamos raquete em casa, apesar disso, minha filha improvisou.
buscou a raquete de matar mosquitos e a pequena bola de fisioterapia da qual
se enamorou quando visitou a farmácia recentemente.
gritava como maria sharapova, fazia caretas como djokovic, perdia-se em
cacoetes como nadal e era toda maria luíza em cada saque.
vibrava a cada ponto vencedor e a cada bola perdida.
balançava a cabeça e trazia a raquete para junto do peito.
ela era autêntica tenista, esqueci-me da raquete para matar mosquitos
havia apenas o jogo.
'depressa, papai! mais rápido!'
(as bolas voavam pela cozinha)

Crônicas de um pai: o 'quarto do pula-pula'

Crônicas de um pai: o 'quarto do pula-pula'

de tanto falar, de tanto dizer o que sente e o que deseja surgem frases deliciosas.
hoje foi a vez do 'quarto do pula-pula'. isso mesmo, o quarto dos pais foi eleito por
maria luíza como o quarto de uma de suas diversões favoritas: pular e saltar.
'filha, mas a cama é para dormir'
'não, papai, é pula-pula da manu'
'e dormir?!'
'não, papai, agora não, manu quer se divertir'

(quem sou eu para dizer não, a mãe está inconformada)

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Ramón Otero Pedrayo, o olhar

Ramón Otero Pedrayo, o olhar

As viagens de carruagens deram lugar aos caminhos de ferro. Em um par de anos os viajantes
cruzavam territórios. Olhares atentos e o desejo de descobrir as gentes e os lugares. Escritores
como Goethe e Herculano, o Alexandre, combinavam em suas viagens Arte, História e Arqueologia.
Otero Pedrayo, em larga medida, pertenceu ao mundo dos autores de 'Viagem à Itália' e 'Lendas e
Narrativas'. De tanta correr o seu chão galego ganhou mesmo das companhias de ônibus o direito
de viajar quantas vezes desejasse. Se Goethe rememorava lugares que conheceu em seus livros e Herculano inventariava vestígios e edifícios perdidos, Otero Pedrayo encantava os seus caminhos. O Mapa de Fontán foi apercebido como representação do mirabilis galego (assim mesmo, o verbo aperceber que não é o mesmo que perceber e o mirabilis dos medievos). Compreensível quando nos damos que a sua sociedade foi palmilhada e sacralizada pela literatura do Códice Calistino.

(continua)

Crônicas de um pai: nhenhenhêz

Crônicas de um pai: nhenhenhêz

nunca fui dado a conversas naquela língua estranha,
falada por seres bobos que aninham as suas crias
entre flocos de algodão com purpurina.
quando muito abri espaço para algumas palavras no
diminutivo, entendi que alguns
objetos serviam melhor aos dedos de lulu
se fossem diminuídos.
não, não a vi como humano pequeno, mas como criança
que pede a minha mão para crescer e caminhar pelo
mundo. aprendemos a conversar. frases simples - sujeito,
verbo e predicado - e tudo mais veio com o tempo.
dia desses vibrei quando a ouvi usando gerúndio.
ela se deu conta de que na frase que construía cabia
gerúndio. ela conseguiu.
nada de nhenhenhêz, nada de nhenhenhêzando

Crônicas de um pai: 'quero ver desenho, papai!'

Crônicas de um pai: 'quero ver desenho, papai!'

qual, lulu?
aquele dos cachorrinhos...
dos cachorrinhos?!
é, dos cachorrinhos, assim ó!
não sei qual é o desenho, meu anjo.
é o dos cachorrinhos, por favor, papai!
cachorrinhos?! será a patrulha canina?!
sim, a patrulha caninha, patrulha canina, patrulha canina!!

ps. o diálogo foi exatamente o descrito, nada diferente. por vezes, muitas palavras
causam confusão e dificuldades, mas a cada dia a conversa fica mais divertida

Crônicas de um pai: 'mais esfihos'

Crônicas de um pai: 'mais esfihos'

havia uma ou outra pendência para resolvermos em santana.
(assim mesmo, aprendi com a sua avó nassima que há santana, o bairro residencial,
e a santana de lojas e escritórios. a avó dizia: 'hoje preciso ir a santana'. hoje
fomos a santana, estranho, mas funciona)
depois de resolvermos, apresentei a vany e luíza um dos meus lugares favoritos.
tempos não visitava, tive medo que tivesse fechado. é uma casa de comidas árabes.
doces, pães e tudo mais que faz a nossa alegria.
amaram as esfihas, as minhas mocinhas. luíza comeu e cantou. aproveitou-se do espelho gigante para
cantar e brincar. moveu o garfo como se fosse brinquedo para as suas festas ao
mesmo tempo em que comia e comia.
'quero mais, quero mais esfiho' sentenciou minha filha.
quando lhe trouxeram a nova fornada, disparou 'põe, põe muito, muito!'

ps. tempos não voltava, costumava comprar esfihas para a minha mãe.

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Santos Dumont (3): O Balão Brasil

Santos Dumont (3): O Balão Brasil

O jovem Dumont, emancipado pelo pai e com recursos que lhe permitiam viver, estudar e contratar serviços na cidade de Paris,
preparava-se para voar. A Paris dos primeiros anos do século XX tinha os céus povoados de balões, era possível alugar balões
e realizar passeios. O jovem Dumont chegava encantado com a literatura de Júlio Verne e julgava que encontraria sociedade que
comungava das mesmas expectativas, logo percebeu que Verne era notável romancista e havia distância considerável entre a narrativa
do mundo de máquinas submarinas e aeronátucas descritas por Verne e o mundo real de oficinas e de experimentos.
Deu-se conta de que havia muito trabalho para que os voos fossem populares e seguros. Graças aos recursos que trazia começou os seus estudos.
Balão Brasil foi a sua primeira criação. Logo estranhou-se com os fabricantes da época. Era possível contratar a fabricação de balões, todavia,
logo os fabricantes perceberam que Santos Dumont era estudioso e não tinha medo de refazer e recriar as suas ferramentas, conceitos e projetos. Preparou-se,
estudou e pediu que lhe construíssem o Brasil. Rompeu regras estabelecidas e encomendou balão de dimensões tão pequenas que muitos
recusaram-se à fabricação, afirmavam que o balão não voaria. Outros, o ridicularizaram, viam o diminuto balão como exotismo do
jovem brasileiro.

(continua)

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Crônicas de um pai: 'quero o colo da mamãe'

Crônicas de um pai: 'quero o colo da mamãe'

começou assim o dia dos namorados, 'quero o colo da mamãe',
ao voltar da escola, tudo era novo e lulu pediu 'quero o colo da mamãe',
depois de repousar no meio da tarde, luíza lembrou-se e cantou 'quero o colo da mamãe'
e, após o jantar de macarrão, chorou pedindo morangos e o 'colo da mamãe'.
feliz dia dos namorados, vany'

História do Automobilismo Brasileiro: as primeiras corridas (1)

História do Automobilismo Brasileiro: as primeiras corridas (1)

As primeiras corridas entre nós revelavam o fascínio pelos motores, motores a combustão interna, ou como se dizia
motor a petróleo. As revoluções que trouxeram o motor a vapor e o motor elétrico, agora davam novo salto. (Noutro momento trataremos disso).
Cidades brasileiras cresciam e recebiam imigrantes e migrantes, as carroças davam lugar aos bondes e aos primeiros carros. Imigrantes, muitas vezes,
traziam em suas bagagens a cultura da engenharia de motores que transformava o mundo.
As corridas de carroças já não satisfaziam mais, havia o motor a petróleo que recriava a maneira de construir os carros. Veículos e seus motoristas, bólidos e pilotos.
Os veículos que chegavam, o Brasil não era sociedade dedicada à fabricação (projeto, desenvolvimento e construção) eram poucos.
Custavam caros e importá-los era operação onerosa e demorada. Os poucos veículos tinham à sua disposição cidades que cresciam de forma acelerada, havia ainda grandes áreas livres.
Carros e grandes áreas somadas ao desejo de aventurar-se na batalha de motores era tudo de que precisavam os primeiros motoristas que se aventuravam no campo da velocidade.

(continua)

(por Jorge Dabuz)

Crônicas de um pai: bolha de sabão

Crônicas de um pai: bolha de sabão

foram inúmeras as tentativas, assoprava e nada. a distância e o movimento não estavam certos.
ontem, tudo mudou. o dia que nascia entre neblinas reservava a maior das alegrias para maria luíza: a sua primeira bolha de sabão.
gritou e pulou de alegria quando se deu conta que sabia fazer as suas bolhas. ainda lambuzou a boca algumas vezes e limpou tudo com o dorso
das mãos. estava feliz.
esticava as mãos para pegá-las, os pequenos dedos suspensos no ar as chamavam. quando atendiam os seus pedidos, nova explosão de felicidade.
se não, reclamava: 'volta aqui, bolha de sabão, volta aqui!'.
foi assim que uma borboleta negra e amarela nos encontrou, veio saber o que se passava naquele jardim de flores e bolhas. voejou ao redor de pai e filha e veio pousar em
minha perna. lulu estava maravilhada.
aproximou-se e ficou a observá-la. não desejou tocá-la como se bolha fosse. queria perceber as asas coloridas. senti a força de seus pequenos braços agarrando a minha perna.
ergui-me para vê-las melhor. numa perna a nossa borboleta, noutra, minha filha.

domingo, 9 de junho de 2019

Lições de História: a chamada educação 4.0

Lições de História: a chamada educação 4.0

não é bonita a expressão, mas não está em questão.

a referida educação, a rigor, considera as revoluções tecnológicas e informacionais. noutro momento tratarei disso, por ora, basta registrar que as tais transformações são parte do que chega, ou seja, são parte das linguagens e as maneiras de ser dos próximos anos. precisamos aprender a empregá-las.

quero aqui fazer um reparo que, após acompanhar o que se diz a respeito da educação baseada nas revoluções do tempo leio e ouço de forma regular. a educação pode, ao empregar os recursos à disposição, acompanhar melhor a maneira de aprender e oferecer meios apropriados a cada aluno/aluna.

nossos gestores, todavia, carecem de formação de conjunto e, via de regra, postulam a educação que respeita a individualidade, mas não a compreendem. antes de tudo, a falta de formação ampla os leva a entender as ciências como um conjunto homogêneo. desta forma, julgam que o que serve para uma ciência servirá para a outra.

daí resulta uma confusão e estresse desnecessários. confusão porque baralham os saberes como se não houvesse distinção epistemológica entre conceito e experimento, análise e narrativa, pesquisa e conclusão. as ciências em suas idiossincrasias transformam-se em um amálgama indigesto. se não as entendem, resolvem a sua ignorância sugerindo os mesmos receituários mal compreendidos.

no final, tão importante quanto respeitar a maneira de aprender é urgente dar-se conta de que as ciências devem ser vistas nas suas particularidades. lembro aqui da primeira enciclopédia, do esforço francês (iluminista) de organizar o conhecimento. definia-se, ou antes, redefinia-se o que eram os nossos campos de conhecimento. é fato que ao longo dos anos nossas definições foram revistas e reelaboradas. todavia, urge perceber que de nada adianta as disposições, aliás boas e necessárias disposições para as novas tecnologias se não entendermos o que é que estamos ensinando.

tão importante quanto saber como ensinar é saber o que ensinar. boa ação seria pedir que os gestores soubessem e aprendessem (de cor, de coração) o que cada ciência faz.

Crônicas de um pai: vivemos às turras

Crônicas de um pai: vivemos às turras

brigamos várias vezes ao longo dos dias, rimos e fazemos as pazes. declaramos nossos sentimentos e nossa necessidade do outro. nossa independência e a urgência de descobrir o que há além da porta fechada. inventamos pedidos estapafúrdios para acompanhar com olhos encantados o outro. ralhamos e sorrimos ao mesmo tempo.
o mundo às vezes cabe em uma canção.

Crônicas de um pai: um tetê de borboletas para a cacá

Crônicas de um pai: um tetê de borboletas para a cacá

não me lembro quando começaram as mamadeiras de sabores. não há nada de diferente, o leite e as medidas são os mesmos, apenas acrescentamos sabores imaginários. perdemos a conta das variações e das homenagens feita ao longo dos dias. (fico apenas preocupado ao perceber que não fui lembrado, só me restar preparar as mamadeiras e aguardar a minha vez). o de hoje, domingo, é para a cacá. fiel amiga desde os tempos em que era menina de colo e de berço, a ovelha cacá voltou ao seu convívio. ontem, dia de dançar a festa junina em seu colégio, maria luíza, de forma inesperada, deixou a cacá em sua cama e chamou para a festa o seu coelho. estranhamos, mas era a escolha de nossa pequena. hoje, lulu e cacá estão um grude. já lhe dei colo para que assistisse desenho e, agora, minha filha pede que prepare uma mamadeira de borboletas para a sua amiga. fico a imaginar o bater nas asas na imaginação de lulu. 'pronto, minha filha, aqui está o tetê de sua amiga'.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Crônicas de um pai: ela se dá conta de que cresceu

Crônicas de um pai: ela se dá conta de que cresceu

ontem lulu ganhou uma casa de bonecas, ela está mudando. outrora divertia-se com tartaruga que puxava pelas mãos e, de quando em quando, parava para encaixar quadrados e triângulos nas costas do nosso simpático e sorridente quelônio.
ela ainda se diverte com a tartaruga, mas não mais do mesmo jeito. a casa de bonecas com as suas mobílias e moradores a cativaram mais do que tudo. passou longo tempo brincando e montando, ajudada pela mãe na brincadeira esqueceu-se do tempo e ali ficou (ficaram).
aproveitei-me da situação e separei alguns brinquedos, ou melhor, eu os aposentei. julguei aqueles que aos meus olhos não eram mais da idade de luíza. mas o crescimento tem lá os seus jeitos, a cada três brinquedos que eu aposentava lá ia a nossa filha recuperar ou me mostrar que um ou outro ainda lhe serviam, ainda a enchiam de entusiasmo.
por vezes, o brinquedo recuperado não resistia muito em suas mãos de mocinha e logo caía, voltava à caixa dos aposentados. ela não hesitava, queria mesmo a casa de bonecas, mas quem sabe se brincar só um pouco mais com o primeiro brinquedo de encaixe de figuras geométricas de sua vida.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Crônicas de um pai: a cacá tá doente

Crônicas de um pai: a cacá tá doente

cacá, a fiel e inseparável amiga, está doente. a ovelha acompanha maria luíza desde os primeiros dias. é compreensível que em meio a onda de espirros e de gargantas inflamadas cacá adoeça (quem se salva?).
movimento a movimento, lulu reproduz os cuidados que recebe. ontem, repreendeu cacá que queria correr descalça pela casa. deu-lhe xarope, limpou o nariz da pequenina e cobriu-a para não se resfriar.
(aliás, maria luíza, por que o cobertor da cacá é parecido com o pano que uso para desembaçar o vidro do carro?!)

terça-feira, 4 de junho de 2019

Crônicas de um pai: o dente

Crônicas de um pai: o dente

após tantos meses, eis que as dores de dente estão de volta.
notamos leve inchaço do rosto, alteração de comportamento,
de apetite e, por fim, dona vany abriu a boca de nossa pequena
e disse: é dente!
explica muita coisa, explica a dificuldade de comer, explica o desconforto,
mas, alto lá, maria luíza:
'não quer dizer que vai jantar batata todo dia! maria luiza! estou falando com você, olhe temos arroz, ovo de codorna que você adora...brócolis...nem o brócolis?!'

Crônicas de um pai: quero descer, quero sair

Crônicas de um pai: quero descer, quero sair

a cadeira de maria luíza no carro tem formigas, muitas formigas. mantê-la sentada é mais difícil a cada dia. 'quero sair', 'quero dirigir com o papai'. outrora a sua janela lhe permitia tudo, agora não basta. é preciso sair,  descer o vidro e esticar a mão para o mundo que palpita lá fora. dizer olá e perguntar sobre o barulho - 'o que é isso?'.

Crônicas de um pai: brincar de sentir medo

Crônicas de um pai: brincar de sentir medo

por que o medo? por que lulu adora sentir medo e pedir ajuda?
ora é o monstro, ora o lobo e por aí vai, lulu me chama e me toma pelas mãos para enfrentá-los.
eu os enfrento e ouço lulu ralhando contra os medos imaginários. o mundo fica seguro e ela pode voltar a dançar as suas canções.
eu a deixo em suas brincadeiras e volto a ler lovecraft e penso, melhor esperar um pouco mais antes de apresentá-lo à minha filha, ainda não sou capaz de enfrentar o que há ali.

domingo, 2 de junho de 2019

Crônicas de um pai: 'quando era bebezinho'

Crônicas de um pai: 'quando era bebezinho'

o berço, a saga, as noites mal dormidas e a redenção.

quando o compramos optamos pelo tal do berço americano. nos primeiros meses e anos pode ser usado como berço, depois, bem, pode ser uma cama.

vinte e sete meses depois e tudo o que fizemos foi descer o estrado quando nos demos conta que ela já era capaz de pular as grades e ganhar o mundo.
é
hoje, tudo mudou. vany partiu decidida para cima do berço. dedo em riste deu-lhe bronca e o mandou para outro cômodo. exigiu que ele, berço, fosse mais aconchegante.

minutos depois, ele estava aos pedaços, desparafusado e a caminho de outro espaço. lulu assistia a tudo e dizia 'vou ajudar'. trazia pedaços de madeira e parafusos, travesseiro e parafusadeira.

à certa altura vany lhe perguntou: 'por que não quer dormir em seu berço?'

lulu, sem titubear, respondeu: 'porque é de bebezinho'.

enquanto escrevo, ela está lá em seu novo velho colchão. o berço, agora cama. parece ter sido aprovado. ela dorme, ela dorme o sono de mocinha, afinal, ela não é mais o bebezinho e nos lembra disso. ela sabe quem é.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Lições de História

Lição de História

Notas dedicadas aos interessados em História (todos os interessados e não apenas os que trabalham na área). O conceito e a prática de sala de aula e de biblioteca são aqui redefinidos. Não significa dizer que a sala de aula ou a biblioteca deixarão de existir, mas sim que seus papéis e a sua natureza vai mudar.
Traremos sugestões e propostas para a recriação da arte da História e a aprendida. Não, a História não mudou apenas, obviamente está a mercê de transformações e criações de conceitos e de análise e de interpretação.
Para tanto, é necessário aproximar-se da Ciência da História disposto a dar-lhe atenção diferente da usual, distinta da comum. Antes de mais nada, falamos de ciência pois tratamos com a arte de criar e de representar, de analisar e de interpretar o passados aos homens e mulheres de tempos presentes.
Passo seguinte, perceber que o século XXI está a exigir que os meios e recursos tecnológicos que as revoluções comunicacionais e de entretenimento so século XX sejam efetivametne empregadas. Desafio maior é entender o que são e de que maneira os historiadores podem empregá-las.
Importante: fazer uso implica em transformar o próprio gênero discursivo em outras possibilidades. Parece complicado, mas não é. Sabemos fazer, pois já fazemos. Não nos damos conta e, muitas vezes, faltam-nos referências e técnicas apropriadas para que consigamos elaborar texto/vídeo satisfatórios, isto é, correto de acordo com a sua natureza tecnológica e informacional, e, correto como historiografia.
()


roteiro:
Apresente aos alunos tema da historiografia, por exemplo, a inconfidência mineira. Ofereça indicações bibliográficas. Feito isso, peça que os alunos agrupem-se para discussão e a realização dos trabalhos. Proponha que a partir do tema Inconfidência Mineira os grupos o apresentem.
Cada grupo criará fazendo uso de diferentes campos de conhecimento e empregando técnicas próprias ao campo epistemològico (de conhecimento) escolhido. Assim:


1o. grupo - elaboração de vídeo
2o. grupo - pintará um mural
3o. grupo - escreverá um ensaio
4o. grupo - criará um diálogo dramático (teatro)
5o. grupo - escreverá uma canção

O que se deseja?


Está em questão proporcionar situação na qual cada aluno e grupo reflitam, dsicutam e elaborem trabalhos de história em formatos diversos (campos de conhecimento distintos). Todos farão uso, certamente, em um primeiro momento da biblioteca e de suas redes disponíveis.


Itinerário apresentado aos alunos


1.) estudar o tema nas bibliotecas, redes (computadores, amigos e criadores)


2.) estudar o que é a ciência da História e quais diferenças guarda em relação ao que devo fazer, isto é, qual a natureza da dramaturgia? o que é e como a dramaturgia pode falar e fazer História.

Crônicas de um pai: escovar os dentes

Crônicas de um pai: escovar os dentes

dias atrás compramos nova escova de dentes para maria luíza. de fato, era a segunda em poucos dias. julgamos que por ser de cor e tema diferentes da que ela usava poderia ser estímulo à escovação. jamais imaginamos que lulu passasse creme dental nas duas e fizesse a sua higiene bucal usando de forma simultânea ambas as mãos. 'olha, papai! fazê epuma (espuma)!'
eu era menino quando descobri o poder ultrajovem nas leituras de carlos drummond de andrade. pai e filha à mesa e as discussões sobre massas...agora, auxiliando uma mocinha que escovava os dentes cheios de espuma azul ouço voz que sussurra 'vem aí, o poder ultrajovem das duplas escovas!'

Crônicas de um pai: quero colo

Crônicas de um pai: quero colo

ela anda e corre pelos mundos que avista, mas ainda engatinha.
digo-lhe para me aguardar em sua cama enquanto preparo a mamadeira.
'você está descalça e ainda tosse, fique aqui'.
mal chego à cozinha e vejo minha maria em meu encalço, ela engatinha e joga os
pezinhos para o alto.
ela sorri e me mostra que não está pisando no chão.
eu me aproximo e ouço o pedido dengoso: 'quero colo'.
a mesma menina que anda a brincar de aviões, saias e foguetes pede para ser carregada nos meus braços.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Crônicas de um pai: garganta inflamada

Crônicas de um pai: garganta inflamada

voltamos ao pronto-socorro, nós e outras tantas crianças. as reclamações assemelhavam-se, diferente apenas o comportamento de cada uma. algumas quietas, outras brincando.
lulu brincava, difícil acreditar que é a menina que sofreu tanto com a garganta na noite passada. diagnóstico nas mãos e receita saímos satisfeitos, mais leves.
o apetite para comidas anda torto, a dificuldade para engolir pede reformas no cardápio. o gosto por iogurte de morango segue firme.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Crônicas de um pai: andar de triciclo

Crônicas de um pai: andar de triciclo

manhã de domingo, manhã preguiçosa de domingo. noite serena, o xarope ajudou maria luíza a repousar e os efeitos do outono-inverno sobre a sua garganta foram controlados.
manhã de domingo, dia de demorar na cama antes de fazer a feira. 'papai, quero andar de abacaxi'; 'quer comer abacaxi?'; 'não, papai! quero andar de abacaxi na feira!'.
faz sentido, em algum momento a mocinha que vive a cantar fez de canção que falava de abacaxis o nome de seu triciclo.
lá vamos nós, agasalhados e preparados para a nossa jornada. a rua exigiu muito da suspensão de nosso veículo, mas sobrevivemos. músicas e mais músicas, paradas para descobrir flores, pássaros e borboletas.


feira preguiçosa e de poucas barracas. o outono-inverno não os deixou sair de casa pensamos. os preços dos tomates (horríveis) nos espantaram e fomos para outros lados buscar legumes de preços razoáveis, assim começa a sua educação financeira de lulu.
é hora de saltar do triciclo, deixar o abacaxi e caminhar. maria luíza caminha decidida. o sol a cumprimenta e ela devolve com singela reverência. iniciamos o caminho de volta, há almoço para se preparar e uma tarde de brincadeiras e canções.


(tarde de domingo)

Crônicas de um pai: o apetite (expressionista)

Crônicas de um pai: o apetite (expressionista)

dias de dores de garganta e o apetite muda. ora franco e escancarado, de tudo e mais alguma coisa, ora, 'tá diferente...não quero!'
há exceções, ofereça-lhe bala ou chocolate e o sorriso volta ao rosto.
a propósito, lulu gosta de exagerar nas caras. lembra-me filme expressionista alemão, gestos de espanto e de medo que gritam e tomam a cena...

Crônicas de um pai: a linguíça cozida no feijão

Crônicas de um pai: a linguíça cozida no feijão

há batalhas por batatas que definiram os rumos da civilização, há outras que apenas agora descobrimos os vestígios e registros: são as disputas da linguíça do feijão.
em nossa casa, maria luíza zela pelas que estão em seu prato e busca com garfo e colher o que está além de suas fronteiras.
pede e chora, intensidades variadas e conquista. vence a batalha civilizacional e garante para o seu prato o fruto alheio. ri satisfeita e orgulhosa.
o tempo passa e as batalhas mudam, outras mulheres e homens, lembro-me do dia em que o brócolis era o prêmio - ainda é, depende do dia e da estação - mas hoje a primazia é da linguíça do feijão.

Crônicas de um pai: praia

Crônicas de um pai: praia

apesar de nunca ter visto o mar - prometi-lhe que a levarei em breve - lulu adora deitar no tapete e olhar o céu. conta que está na praia e narra o que acontece com riqueza de detalhes. fala de conchas e de peixes, barcos e árvores.

Crônicas de um pai: 'cadê o peixe?'

Crônicas de um pai: 'cadê o peixe?'

crescida, ela reconhece os lugares. sabe quais mercados fazemos e o que compramos em cada um. eis que precisamos visitar o que vende peixe fresco.


'papai, eu preciso, eu preciso'


'o que aconteceu?'


'ver o peixe, cadê o peixe?! papai, não consegue, me ajuda'


'olha o peixe grande!!'


'quero tocar!, papai, cheira o meu dedo de peixe!'


(e eu cheiro e faço careta e ela ri o mundo inteiro nos meus braços)

sábado, 25 de maio de 2019

Crônicas de um pai: o olhar

Crônicas de um pai: o olhar

'nããão, papai!'

ela precisa correr, me convida para brincar de pega-pega, ou será esconde-esconde? foge ligeira com passadas firmes, esquiva-se da geladeira, passa a milímetros da quina da mesa e segue. esconde-se no seu lugar favorito, atrás das cortinas. aperta os olhos querendo sorrir ao mesmo tempo em que os cobre com as suas mãos marcadas pelas reinações com tintas.
ela me aguarda, eu a procuro sem achar até que percebo as ondulações das cortinas. lento eu me aproximo e ofereço meu maior sorriso de amor. maria luíza grita como se o seu lobo acabasse de sair da floresta ou quando a lua vem trazer-lhe a sua luz branca.
'agora é a minha vez', grita lulu e se põe a correr. faço o mesmo, vamos de um cômodo ao outro, trocamos de brincadeiras mil vezes, eu busco em silêncio o fôlego deixado para trás, lulu já conhece a próxima arte. 'vamos correr, veeemmm papai!' lá vou eu, correr ao lado do meu benzinho. preciso dela, preciso do seu sorriso.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Crônicas de um pai: os musicais

Crônicas de um pai: os musicais

confesso, gosto de musicais. confesso, alguns estão entre as coisas mais tediosas que já vi. confesso, já quis pular sequências para não assistir chatices cantadas. confesso, amo mesmo os musicais.
(bom saber que billy wilder não os apreciava e tirou todas as canções de irma la dulce para levá-la ao cinema, mas como seria a versão cantada?)


contradições à parte, reconheço em maria luíza alguém que faz uso de canções de forma constante. passeia cantando, brinca embalada pelas trilhas que adora, visita quintais e parques levando no gesto e na voz as suas músicas. associa e busca em seu repertório o tema adequado à situação vivida.
ela não vive sem cantarolar. mistura versos e canta. outro dia, seu jorge virou hit em casa. ela queria apenas um verso. aquele que ouviu em gravação de comercial de super mercado, lá vai o seu jorge cantar felicidade mais uma vez.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Crônicas de um pai: cirandar na cama

Crônicas de um pai: cirandar na cama

era tarde, maria luíza tinha fôlego e determinação para brincar e ser feliz. quando
percebeu que a cama dos pais estava arrumada não pensou duas vezes.

escalou a cama alta como uma montanha e de lá de cima começou a dançar e pular,
ofereci-lhe minha mão para que não perdesse o equilíbrio.

entendeu meu gesto como convite e levou-me para a cama, estamos os dois a cirandar quando a mãe nos surpreende.

antes que dissesse algo a trouxemos para a ciranda cada vez maior na cama desalinhada.

todos riam e cantavam, a ladainha de anjo da mãe era a mais alta: 'deus, proteja a minha cama! deus, proteja a minha cama!'

(a cama parece inteira, melhor não abusar)

Crônicas de um pai: cabanas, foguetes e praias

Crônicas de um pai: cabanas, foguetes e praias

as brincadeiras e os espaços mudam.

o cobertor de luíza vive dias de cabana e de foguetes, basta trazê-lo sobre a cabeça e pronto, a cama agora é uma nave barulhenta ganhando os céus ou a cabana dos sonhos.

carrega com grande esforço o tapete, instantes depois está de volta para levar o travesseiro com cara de sapo. arrumação concluída deita-se para olhar o céu e nos diz que está na praia.

vive os seus dias de recriar os lugares, busco pelos seus olhos para me lembrar do faz de conta, eles brilham o seu sorriso de descoberta de uma menina quase mocinha que chegará nos próximos dias aos 31 meses.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Crônicas de um pai: dar cambalhotas

Crônicas de um pai: dar cambalhotas

definitivamente, o tempo das cambalhotas chegou.

(vany, por favor, não leia o que segue)

nos aproveitamos que a mãe está em outro cômodo e treinamos cambalhotas na cama. maria luíza ri como se estivesse frente ao seu prato favorito.

há hesitação, saudável na medida certa e uma vontade enorme de se lançar, de viver a sua cambalhota como se o mundo inteiro permitisse que durante algumas horas do dia todos caminhassem dando cambalhotas.

(o mundo é melhor ao seu lado, minha filha)

Crônicas de um pai: vamos voar

Crônicas de um pai: vamos voar

dia desses, estava no quintal entretido quando maria luíza parou ao meu lado e me convidou para voar com ela e a borboleta, mais, voar também com o passarinho.
disse de pronto que sim e busquei em seus olhos e jeito o que tinha em mente. era uma de suas reinações fabulosas.

sábado, 18 de maio de 2019

Lições de História: o quebra-cabeça (1)

A Ciência da História é ciência da análise e da interpretação, da criação de imagens e de narrativas que nos permitam vislumbrar outra época, outros lugares, outras sociedades.

Crônicas de um pai: me conta uma história

Crônicas de um pai: me conta uma história

chegamos aos dias em que lulu pede para ouvir histórias. diverte-se e interage. as histórias, por ora, são muito parecidas. ela as escolhe, diz quem está na história e o que acontece e como acontece. as ações são bem conhecidas. muitas vezes não faz uso apenas dos seus livros, mas de todos que encontra. já imaginou receber de sua filha o livro de receitas de tortas e junto o pedido para ouvir a história do gato branco?! é assim, isso nos dá a deixa para criarmos as histórias. não há limite, o sorriso da menina-quase mocinha é compensador.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Crônicas de um pai: dia de pediatra (olá, doutora hamster!)

Crônicas de um pai: dia de pediatra (olá, doutora hamster!)

dia de pediatra, dia de encontrar a doutora camila. a partir de hoje, camila hamster! ela riu quando soube de sua especialidade.

lulu está bem, aos 2 anos e seis meses, tem pouco mais de 90 cm e 13 quilos. a pediatra que a acompanha desde o nascimento mostrou-se feliz.

'venha cá, vamos ouvir o coração! você sabe onde fica o coração?'

'sim, no pijama!'

'você ouve o coração de suas bonecas?'

'sim, das bonecas...ai, tá gelado!'

saímos de lá tranquilos. tudo segue bem. a doutora hamster, digo camila nos ajudou a chegarmos até aqui com maria luíza.

há desenho que lulu gosta de assistir que tem personagem de nome doutora hamster. em algum momento, lulu reuniu a sua pediatra de coração ao personagem de animação.

grato, doutora camila!!


terça-feira, 14 de maio de 2019

Crônicas de um pai: 'pronto, acordei!'

Crônicas de um pai: 'pronto, acordei!'

não há limite para a invenção e a molecagem. eu lhe dizia: 'lulu, é hora de dormir! você precisa descansar, precisa repousar para voltar a brincar com todo fôlego'. ela me dava ouvidos, fazia a sua melhor cara 'de prestar atenção'.
ainda sentada na cama, sem aceitar o travesseiro, fechou os olhos durante alguns segundos para depois abri-los ainda mais vivos do que antes e disparar: 'pronto, papai! eu já acordei!'

(estou sendo enrolado!)

Crônicas de um pai: ninar em sueco

Crônicas de um pai: ninar em sueco

não foi a primeira que maria luíza ofereceu aulas de sueco, cantou-me canção de ninar bem conhecida e que lhe segredei algumas vezes para que adormecesse, mas havia algo de diferente...eu não entendia as palavras ainda que luíza escandisse com clareza os versos.
perguntei-lhe quando aprendera e ouvi: ' imã iolanda'. são velhas conhecidas e vivem a trocar palavras e, agora sei, canções noutras línguas.

grato, irmã iolanda!

sábado, 11 de maio de 2019

Crônicas de um pai: 'não, papai! é assim ó!!'

Crônicas de um pai: 'não, papai! é assim ó!!'

aprendi a brincar com massinha, não mais as de farinha que rodavam a mesa quando minha mãe preparava massas e que enchiam os meus olhos de criança.
as massinhas de hoje são coloridas. amarelas e vermelhas. coloco-me ao lado de lulu e aprendo a brincar. minhas técnicas são outras. ela se empolga e pede que eu prove da comida de massas que preparou em seu prato de brincar.
aprendo e amo aprender com ela.

beijo, filha!

Crônicas de um pai: as cabanas

Crônicas de um pai: as cabanas

desde ontem, a cabana foi montada no corredor de plantas que leva à cozinha. na semana passada a cabana ficava junto à mesa de jantar. elas mudam de endereço, a decoração segue a mesma. ainda usamos lençóis para a cobertura e as laterais. a invenção de vany faz enorme sucesso, lá estão mãe e filha com panelas reais e de brincadeira preparando a comida. lá estão com a lente de aumento a buscar pequenos animais ou a contar de histórias de florestas (o desconhecido).

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Crônicas de um pai: 'o carro do ovo chegou!'

Crônicas de um pai: 'o carro do ovo chegou!'

não há tempo ruim, vamos colorir o mundo, assim é uma criança. nossa rua é regularmente visitada por toda sorte de vendedores. ambulantes ou motorizados, vendedores de cândida ou serviços de jardinagem, nos visitam para oferecer os seus produtos e ofícios.
entre outros está o carro do ovo. tornou-se um hit em casa. ‘o carro do ovo chegou! venham, venham, 30 ovos por 10 reais’. maria luíza está encantada com a entonação do locutor de ovos, fascinada pelo som que chega da rua e sente-se convidada a buscar as chaves para ir ao encontro do carro. somos chamados por lulu a comprar ovos várias vezes durante a semana.  ao cair da noite, nossa filha se lembra e pede: ‘mamãe, onde está o carro do ovo?’

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Crônicas de um pai: eu preciso

(eu preciso)
ao longo do dia são dezenas de situações nas quais ouvimos o conhecido 'eu preciso' de maria luíza. após tantos e acompanhando de perto o seu jeito de crescer nos demos conta de que a maior parte guarda não o desejo de algo, mas o sincero pedido de carinho.
pede atenção aos seus passos, pede companhia em suas reinações, pede parceria para suas bolhas de sabão.
não, não quer isso ou aquilo, só quer estar ao lado. o 'eu preciso' é a maneira da menina-quase mocinha dizer que está crescendo e quer ouvir os segredos do mundo.

ps. beijo, mãe!

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Crônicas de um pai: o último leitor

Crônicas de um pai: o último leitor

estava longe de casa quando o telefone tocou. velha amiga falava da alegria de assistir entrevista veiculada pela televisão francesa com escritor libanês. contava admirada o que ouvira e acreditava, assim confessou, que gostaria também. eu conhecia o escritor há tempos , já circulavam no brasil desde os anos 80 alguns dos seus trabalhos. depois, mais calma, falou de sua decepção. (alegre e decepcionada ao mesmo tempo, assim era a minha amiga) saiu pelas ruas e o buscou na livraria de sua predileção. a leitura a acabrunhou. não gostou, queria a entrevista. contou-me que ainda tinha os livros nas mãos, que o comprara para mim, mas desistira do presente, acreditou que não valeria.
ao desligarmos eu ainda tentava entender tudo o que acontecera. Era sábado eu acordara tarde, minha amiga e eu estávamos longe de casa, longe do brasil. separados pelos pirineus resolvi visitar as minhas livrarias prediletas. encontrei versão castelhana e após o jantar voltei para casa. era noite quando voltei ao quarto e sentei à mesa de estudos.
li e chorei. não me lembro de ter chorado tanto. nem mesmo quando descobri goethe e os seus monstros. não parei de ler. quando muito eu o fechava e o deixava repousar ao mesmo tempo que me perguntava sobre o mundo que ele colocava em revolução dentro de mim. eu era o leitor daquele livro. conhecia as histórias. eram histórias de famílias e de partidas. eu as reconhecia. eram velhas como as canções e os brinquedos que nos acompanharam na infância. e, pior, conferiam sentido a peças que eu não sabia encaixar em meu quebra-cabeça. li e o repudiei. o que se passa? nos dias seguintes, ao entrar no quarto, as dezenas de livros que coloriam minha estante e mesa eram nada. só havia ele. marcado por um sem número de papeletas que mostravam meus rastros de leitura e as minhas perturbações.
voltei. voltei semanas depois ao brasil. trouxe o livro das minhas perturbações. jamais me esqueci daquela experiência. ainda choro ao me lembrar da leitura. minha amiga partiu. as dores a derrotaram. ainda vivo o luto de sua partida. deixou-me as saudades e a lembrança do livro que tanto me perturbou. o livro que comprou e jamais me entregou, mas me deu presente.


quinta-feira, 25 de abril de 2019

Crônicas de um pai: observações de bichos ao pé da cama (ou a jam session de pai e filha)

Crônicas de um pai: observações de bichos ao pé da cama (ou a jam session de pai e filha)

há palavras lindas, no caso, é uma expressão: jam session. adoro a ideia de músicos tocando sem saber o que vão fazer, mas certos de que querem tocar juntos. foi assim mesmo, nos posicionamos em nosso posto de observação na cama e ficamos a acompanhar os animais que estavam pelo chão do quarto. binóculos imaginários criados com as palmas das mãos dobradas nos permitiam descobrir a vaca que pastava, a formiga que cavalgava a minhoca, o sapo que deixou a lagoa para passear na floresta, a aranha que comia maçãs e o jacaré que mordia o meu pé.

ao me dar conta da alegria de minha filha entendi que nossa jam session está perfeita, falta agora pedir que a mãe nos acompanhe.