domingo, 18 de setembro de 2016

Crônicas de um pai: a ficha caiu

Crônicas de um pai: a ficha caiu

A cada dia, a cada peça de roupa lavada, a cada movimento do bebê ainda na barriga da mamãe, abro os meus olhos. Percebo, ou melhor, apercebo - assim mesmo, um daqueles verbos que ficaram para trás, caiu em desuso - o lugar do qual eu falo. Apercebo o fluxo de tempo, abri portas das quais apenas sabia da existência, hoje, falo a partir de uma casa que ousei tocar, falo a partir de casa cujos encantos me foram oferecidos.
Viver em tal casa, pela primeira vez, me faz lembrar de minhas primeiras letras. A paternidade me leva de volta às histórias do Antigo Testamento e das Mil e uma noites. Lembro-me de ouvir e de ler as minhas primeiras histórias - e revelações - aí. De alguma forma, o olhar do menino ressurge, lembranças de pessoas que partiram, reminiscências. O fluxo ligeiro pede muito de mim, pede que me lembre que não sou mais o menino, mas o homem, pede que reconheça que agora estou por minha conta, pede que olhe de forma cúmplice, solidária e amorosa para a minha esposa. A vida corre, o rio procura o mar. A ficha caiu.

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