domingo, 31 de julho de 2016

Crônicas de um pai: saber lá no fundo (fé)

Crônicas de um pai: saber lá no fundo (fé)

Não nos programamos para a nossa gravidez, a ganhamos de presente, nossa grande bênção. Há, no entanto, um episódio curioso. Em fevereiro fomos ao cinema, compramos nossas entradas e como havia tempo visitamos um livraria. Na ocasião dei de presente um livro para Vany, até aqui nada demais. Acontece que quando escolhi o livro eu pensava em um bebê, imaginava que um dia uma criança teria aquele livro nas mãos. Tamanha era a sensação, que, no dia seguinte, escrevi longa carta para a criança que ainda não havia nascido. Era uma dedicatória, declaração de amor a alguém que, um dia, esperávamos. Poucos dias depois, descobrimos que estávamos grávidos. O episódio do livro e da carta ganharam nova dimensão.

Crônicas de um pai: o enxoval contado

Crônicas de um pai: o enxoval contado

Entre as tarefas do dia estava a contabilização do enxoval. O nascimento requer planilhas, sim, isso mesmo, planilhas. Funciona, mais ou menos assim, a mãe organiza listas de roupas necessárias de acordo com o número de semanas. Nada pode faltar. A partir disso, checagens regulares são realizadas para se ter certeza de que nenhum item foi deixado para trás. A mãe faz isso com um habilidade assombrosa, creio que há uma programação prévia para o desenvolvimento da função. O pai ajuda a separar peças por tamanho e formato. Sim, o pai chama de formato o que a mãe nomeia como pagão, macacão etc.. etc..É uma maneira de em família ensaiar e viver a experiência da chegada de uma menininha.

sábado, 30 de julho de 2016

(II) Notas de um restaurador de carros: as cores

(Nimbus vai além de um blog, dará origem a site/ revista eletrônica. Reunirá amigos interessados em diversos temas. Aqui trago Caram Dabuz Abdalla que falará de uma de suas paixões: os automóveis)

(II) Notas de um restaurador de carros: as cores

Antes, algumas palavras sobre o nome 'restaurador'. Creio que aqueles que se dedicam aos carros tomaram a expressão dos artesãos que se ocupavam da recuperação de obras de arte. Se assim é, cabe bem. O restaurador de um automóvel é antes de mais nada alguém encantado com a obra de engenharia presente em um veículo. Ele resume e revela a história do pensamento mecânico e estético de nossas gerações. Impressiona a variedade e elasticidade de paixões - e confusões de comportamento rsrs - que o automóvel consegue provocar nas pessoas. O que se deseja falar aqui é sobre a maneira como entre os apaixonados com a engenharia e estética automotiva nasceram os que querem recuperar a história do automóvel. Falamos, portanto, de pessoas que fazem da memória de uma indústria, um ofício. Memória da indústria automobilística e, também, necessário acrescentar do automobilismo. Qual a diferença? Automobilismo fala de nossos carros de competição, de nossas corridas....ou, como diriam os antigos: nossos bólidos e pistas...

As cores usadas pela indústria automobilística ao longo das décadas acompanharam e criaram modas, ou, como se diz hoje, tendências. Quando temos em nossas mãos um veículo fabricado décadas atrás e desejamos recuperar um pedaço da memória automobilística começa a nossa jornada arqueológica. Sim, arqueológica, trabalharemos com fragmentos. Felizmente, a cultura do antigomobilismo tem crescido no Brasil e a cada ano nossa literatura (manuais e livros de história) e os nossos artistas (artesãos, pintores e mecânicos) são cada vez em maior número. Alguém pode estranhar o fato de eu chamar um mecânico de um artista, nosso tempo separou ciências, gosto aqui de pensar como pensavam os renascentistas, apreciava-se Leonardo Da Vinci quando este pintava ou quando construía uma ponte. Não havia, acreditavam os homens e mulheres dos dias do Renascimento, diferença. Nosso tempo, criou as diferenças, esqueceu-se de ver a beleza do engenho.

(continua)




Crônicas de um pai: o aniversário da mãe

Crônicas de um pai: o aniversário da mãe

Ao entrarmos na 27 a. semana, nossa mamãe faz aniversário. Ouvi-la dizendo que o bebê a ajudou a preparar o bolo que hoje provamos revela muito da maneira como a mamãe vive a maternidade. As conversas constantes, as reações aos menores movimentos, a linguagem dos gestos. A mãe, aos olhos do pai, é expressão máxima do milagre que é estar vivo, do milagre que é dar a vida. Tudo mais é menor. Nossa Maria.
Parabéns, Vany! Feliz Aniversário!

Crônicas de um pai: sentar-se no parque

Crônicas de um pai: sentar-se no parque

Caminhadas descompromissadas por entre as árvores não são mais as mesmas. O que vamos fazer quando o bebê nascer é o assunto constante. Casais com filhos passam a ser parte da paisagem que buscamos. Ser pai de uma menina transforma todas as meninas que estão ao seu redor em objeto de atenção. Elas se transformam na pequenina Maria Luíza que aguardamos e acalentamos. As árvores em sua majestade plena, a composição dos galhos, os ipês, que, nesta época do ano oferecem tapetes de flores que colorem nossos caminhos; em seus balanços ao vento rememoram o ciclo de nascimentos e mortes. Estamos nascendo, silenciosos, estamos morrendo.
(Arrastar ainda uma vez as folhas do outono do chão com pés, sentir a sua maciez)

A Beleza da Física: ressonância

(O blog Nimbus integra projeto que inclui site, newsletter e outras redes e mídias sociais. Revista eletrônica que reúne colaboradores de diferentes áreas e ofícios. Vânia Scott, física e matemática de formação é a colaboradora de hoje)

Um motor, o vento, a voz e o sentimento. O universo das vibrações nos cercam.

Ao fazer a opção pelo bacharelado em Física, a minha motivação era explicar as pequenas ações que me rodeavam. Desde um simples andar ou escorregar até a complexidade da Física atômica. Por exemplo, sabe quando você está no carro, com o motor ligado e uma parte do carro começa a vibrar? Bom, é isso. Tudo tem uma frequência própria,  chamada frequência de ressonância. No caso do carro, o motor está exatamente na frequência daquela parte do carro. E o que isso pode ter de interessante? Aí é que está a graça, é possível explicar como uma frequência de voz pode quebrar taças de cristal ou, ainda, mais surpreendente, como a ponte de Tacoma (1940) entrou em colapso e caiu (veja o vídeo) simplesmente porque o vento permaneceu exatamente na frequência da ponte por horas resultando na queda. A frequência tem, ainda, outras aplicações. E porque não pensar em medir a frequência de um tumor em um corpo e emitir exatamente essa frequência na pessoa? O corpo permaneceria intacto e só destruiríamos a parte indesejada. Ou, divagando ainda mais, podemos encontrar pessoas com afinidade, ou seja, com frequência muito próximas a nossa. Pois até sentimentos geram vibrações físicas específicas em nosso corpo o que nos faz sentir atrações pelo semelhante. Enfim, não percebemos claramente, mas as vibrações nos rodeiam e tem alguma explicação. E certamente muitas outras a descobrir. É a beleza da Física.  

(Por Vânia Scott)

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Crônicas de um pai: a herança da avó

Crônicas de um pai: a herança da avó

No ano passado, minha mãe partiu. Partiu 'na esperança da ressurreição'. Fico a me perguntar como oferecer as heranças deixadas pela avó, oferecer a esperança, a crença e as virtudes. Imagino-me segurando minha pequena, quase adormecendo e eu a contar histórias da avó. Espero que adormeça ouvindo histórias, espero que sorria feliz.

Cinema de Animação: o 2D está acabando?

(Blog Nimbus é parte de projeto maior que inclui várias redes sociais - site, facebook, newsletter etc etc - teremos colaboradores de áreas diversas que escreverão sobre os seus ofícios e artes. O colaborador de hoje é o artista Rui Joazeiro)

Cinema de Animação: o 2D está acabando?

A constante evolução das técnicas cinematográficas está fazendo mais uma vítima, a animação 2D. A arte de desenhar o filme quadro a quadro, exibido numa velocidade de 24 quadros por segundo, está chegando ao fim? Com as novas tecnologias estamos assistindo animações cada vez mais realistas, no sentido de aplicarem ao personagem e aos cenários efeitos, texturas, pelos  etc, tudo para que se obtenha o melhor e mais real resultado. Ok, fantástico!. Mas e a arte? O que acontece com os artistas que executavam o desenho, a pintura de personagens e cenários com maestria e elevavam nossa imaginação? Às vezes eu me via "entrando" no desenho de tão compenetrado que ficava ao assistir clássicos da Disney como Branca de Neve, a Bela Adormecida e Fantasia, este último o meu preferido, que transforma música em cenas belíssimas de animação, um trabalho primoroso que mostra todo o talento dos animadores da época, que eu considero particularmente os melhores de todos os tempos. Hoje, é raro assistirmos animações 2 D nos cinemas, a própria Disney já acabou com a área de animação 2 D. Vamos torcer para que os estúdios olhem com carinho para esta nobre arte e façam mais trabalhos de qualidade, aliando tecnologias atuais com as técnicas tradicionais para que se mantenha viva esta grande arte, caso contrário veremos a animação tradicional ter o mesmo fim do cinema mudo, ou de stop motions utilizados em filmes como os clássicos King Kong, Jasão e o Velo de Ouro e Simbad.

(Por Rui Joazeiro)

Crônicas de um pai: um exame para saber do coração de Maria Luíza

Crônicas de um pai: um exame para saber do coração de Maria Luíza

Voltamos instantes atrás de novo exame, precisávamos saber se o desenvolvimento do coração de nossa pequena estava dentro do esperado. Formação, batimento e andamento. Graças a Deus, tudo segue bem. A avó paterna dela, lá do céu, ajudou como sempre. Eu olhava para a tela buscando entender aqueles movimentos e tons de cinza, a mãe não tinha visão das imagens que o médico capturava de nossa pequena, a expectativa fez com que lágrimas se formassem em seus olhos. Tudo terminou em um suspiro de alívio quando o médico disse que estava tudo bem. As lágrimas serviram para molhar o sorriso.
Ao sairmos do consultório, Vany perguntou-me qual a posição do nosso bebê, de que lado estava, de pronto, respondi-lhe: todas. Disse-lhe que nossa pequena executará cambalhotas, estrelas e tudo mais. Novo sorriso e a mãe respirou serena.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Crônicas de um pai: reeducar-se constantemente

Crônicas de um pai: reeducar-se constantemente

Sentir o sol aquecendo a sua face, encantar-se com o sapatinho holandês todo em flor no mês de julho, se o mundo exala encantamentos e milagres, a gravidez é o maior dos perfumes. O nascimento transforma tudo, a esposa transcende o tempo e recria tudo ao seu redor. Nada fica igual.

Crônicas de um pai: arrumar a casa

Crônicas de um pai: arrumar a casa

O quarto pede nova pintura, alguém chegará em breve. O guarda-roupa muda de lugar, roupas de bebê ocupam gavetas. Tudo caminha em nova direção. A casa aos poucos prepara-se, vive novo andamento, expectativa. Perdi a conta do sem número de ações, ajustes que fizemos e refizemos desde que em fevereiro último soubemos da gravidez.
Confesso que tenho receio, à esta altura, da mãe caminhando por espaços públicos. Receio de acidentes, receio de que mãe e filha se machuquem. Estou certo que à medida que os dias seguirem, que o mês de nascimento - outubro - se aproximar, o receio aumentará. Ao mesmo tempo sou tomado de uma certeza e esperança de que caminhamos bem. Ouço uma prece que acalenta o meu coração e adormeço.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Crônicas de um pai: era uma vez uma vegetariana

Crônicas de um pai: era uma vez uma vegetariana

(Isso vai dar briga!)
Minha esposa era vegetariana, sim, vegetariana. Por convicção moral e satisfação, deixou as carnes vermelhas. De alguma maneira, a nova condição - a gravidez -  pediu mudanças e, agora, alimenta-se de carne. Assumir a mudança não foi fácil. Era uma quarta-feira, lembro-me, ao retornar para casa no início da noite eu a encontrei apreensiva. Disse-me que precisávamos ir ao mercado, estava com vontade de comer carne e nunca antes entrara em uma fila de açougue. Lá fomos nós. Esta é a minha vegetariana que adora fazer hambúrgueres de soja.

Crônicas de um pai: escolher o amor

Crônicas de um pai: escolher o amor

O caminho é incerto. As dúvidas e as dificuldades quotidianas. Levantar cedo, levantar mais cedo ainda, comprar batatas, o preço subiu, o governo subiu no telhado, e, em meio ao vendaval, um alento, um sopro de vida, uma menina para que cuidemos. Se a dor cresce e parece consumir a nossa coragem, o caminho do afeto, do amor incondicional, do zelo é o que nos redimi.

O olhar intencional: o visível e o invisível na urbe.



(Blog Nimbus é parte de projeto maior que inclui várias redes sociais - site, facebook, newsletter etc etc - teremos colaboradores de áreas diversas que escreverão sobre as suas praias...o segundo a se fazer presente é Kauê Vinicius que falará sobre o olhar, ver e não ver)

Assim como a linguagem, a percepção do olhar é algo totalitário. Não há como ficar sem ver o que se busca. Ao menos, tenta-se, em situações por vezes constrangedoras, tentar não ver o que se mostra, mas de qualquer forma, temos a inclinação de sermos guiados pela experiência do olhar interessado. Perceber tal condição é um exercício interessante. Na cidade de São Paulo, onde a vida passa e nós pouco a vemos, torna-se algo de difícil astúcia. No entanto, diante de um mar de gente que se colide diariamente, diante de um caleidoscópio arquitetônico que se faz presente diretamente, ou diante de máquinas que correm e cortam espaços de convício próximo, lá está ele, o olhar intencional, aquele olhar que se torna caçador de algo que buscamos inconscientemente, algo digno dos mistérios das sereias ou coisas desta natureza, um olhar atento, mas que se perde em si mesmo, criando o visível e o invisível diante de nós, buscando sentido possível no cotidiano urbano.

(Por Kauê Vinicius) 

Crônicas de um pai: o que a pequenina está a pensar?

Crônicas de um pai: o que a pequenina está a pensar?

Ouvir o coração, acompanhar o movimento e criar as paisagens nas quais ela crescerá. E ela? O que ela está a pensar? O que acha de tudo que se passa ao redor do ventre em que habita? O que ela acha do quibe feito pelo pai? Quais histórias ela gosta de ouvir? E músicas? Um sem número de vezes cogitei das reações dela, conversando com a mãe descobri que ela se faz as mesmas perguntas. Acima de tudo, um pai e uma mãe curiosos e preocupados com as reações e impactos que nossas maneiras de trabalhar e de viver causarão na nova vida que desponta.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Crônicas de um pai: O Holandês Voador

Crônicas de um pai: O Holandês Voador

Confesso, imagino-me muitas vezes pensando nos livros que vou lhe comprar, nas paisagens que colocarei frente aos seus olhos, nas canções que vou lhe oferecer. Coitadinha, nem nasceu e estou cá preocupado com os mundos que vou lhe dar. Desenterrar da gaveta de tesouros aquele libreto da primeira ópera que assisti: O Holandês Voador de Richard Wagner.
Não há como não sorrir ao imaginar que minha pequena pode me dizer em alto e bom som: Papai, prefiro Aerosmith. Meu mundo caiu.

Crônicas de um pai: o bebê soluça

Crônicas de um pai: o bebê soluça

Pequenina, ainda por nascer e nossa Maria Luíza soluça. O ventre, a ligação entre mãe e filho é de tal ordem que Vany sabe distinguir o movimento do soluço de outros. Eu pai, estou longe de tal sensibilidade e afinidade, como disse antes, nós pais prosseguimos tentando aprender. (melhor deixar tudo e reler o 'O homem que sabia javanês'...)


25 de Julho, dia de São Tiago de Compostela

Tiago, apóstolo, de acordo com a tradição, levou a fé cristã à Península Ibérica. Séculos depois, no século XII, o Arcebispo Gelmires realizou grande reforma na catedral da cidade de São Tiago e, também, fomentou a peregrinação ao sepulcro do apóstolo. Séculos depois, agora no XX, a peregrinação declinará, a memória do santo padroeiro era, sobretudo, restrita ao território do Reino da Espanha. No XX, o escritor Ramón Otero Pedrayo empenha-se e auxilia na redescoberta dos caminhos de fé e de peregrinação. A cidade de São Tiago renasce. Trago aqui, para fazer memória de São Tiago, trecho de Otero Pedrayo tratando do Arcebispo Gelmires. O texto que vamos ler está escrito em língua galega: "A Catedral crecía como unha fermosa roseira sobre a tumba. Xelmírez erigiu primeiro o maravilloso altar do Apóstolo".
(falar disso nesta semana, me faz voltar aos dias em que lá estudei e perambulei entre bibliotecas; grato por tudo São Tiago)

segunda-feira, 25 de julho de 2016

História da arquitetura colonial brasileira: balcão de rótulas

Historia da arquitetura colonial brasileira: balcão de rótulas

Sobraram poucos, ao tempo do Brasil dos séculos XVIII e XIX, os balcões de rótulas eram comuns e populares, eram parte da paisagem de nossas cidades. Os balcões de rótulas nasceram nas sociedades que circundavam o Mar Mediterrâneo Oriental, chegaram à Península Ibérica e, de lá, cruzaram o Oceano Atlântico para fazerem a América. Eram parte da paisagem da América Ibérica, portugueses e espanhóis, apreciavam a maneira como as tranças de madeira permitiam a circulação de ar. As rótulas eram solução mediterrânea que respondia de forma satisfatória às estações quentes e úmidas da América portuguesa e espanhola. Os balcões mediterrâneos transformaram-se em balcões americanos. O carro da História, sobretudo depois das revoluções industriais, trouxe novas práticas e materiais. Logo o ferro e o vidro tornariam os balcões de rótulas reminiscência de um tempo distante.

Crônicas de um pai: ouvir a mãe

Crônicas de um pai: ouvir a mãe

Uma das situações mais saborosas é ouvir a mãe conversando com o bebê. Ela se propõe a explicar o que acontece, quem são as pessoas que o bebê ouve e pressente. O pai a acompanha, sim, o pai apenas a acompanha. Se o pai e a mãe são de primeira viagem, tal é o nosso caso, a mãe leva vantagem, ela responde e pensa com o coração cheio de graça da vida. O pai, por seu lado, segue claudicando, aprendendo aos tropeções. O ventre ensina.

Talvez o título apropriado para a crônica devesse ser 'prestar atenção na mãe', enquanto o pai escrevia a mãe comeu todos os sonhos do lanche da tarde.

domingo, 24 de julho de 2016

Notas de um restaurador de carros: as cores

(Blog Nimbus é parte de projeto maior que inclui várias redes sociais - site, facebook, newsletter etc etc - teremos colaboradores de áreas diversas que escreverão sobre as suas praias...o primeiro a se fazer presente é Caram Abdalla que falará sobre história do carro e do automobilismo)
Ao ler sobre cores, lembrei-me das palhetas de fabricantes de carros e as suas improváveis denominações. Alguém já viu um opala amarelo candeias ou um fusca bege alabastro? Pois bem, a Chevrolet e a Volkswagen, nos anos 70, chamaram, desta forma, algumas das cores que empregam em seus veículos. As cores invocam personagens e paisagens, fácil entender a razão, afinal de contas, fabricantes vendem mais do que formas de locomoção, vendem sonhos. Resolvi falar disso a partir do momento vivido pelo Josias, depois de rir do drama resolvi lhe sugerir usar o rosa pantera que a Chevrolet usou nos anos 70 no Opala: rosa pantera.
(por Caram D. Abdalla)

Crônicas de um pai: sites de gestantes

Lembro-me que anos atrás gestantes compravam livros, hoje, os doutores estão na rede. Estamos cadastrados em sites do tipo. Hoje, por exemplo, soubemos que está soluçando. Curiosa ciência e rede que nos conta sobre o que nossa bebezinho está a fazer. Melhor acariciar a barriguinha da mamãe e fazer uma prece. Deus lhe proteja, pequena Maria Luíza!

Crônicas de um pai: ouvir o coração

Sim, você sabe que o bebê segue bem, que a gestação e a mãe estão bem e isso lhe enche o coração de um sorriso sem fim. No entanto, você ouve o pequenino coração bater, a chave gira e você passa a um outro patamar. Quando eu o ouvi pela primeira vez deixei a sala zonzo, queria abraçar minha esposa e ao mesmo tempo falar para todos sobre o que acontecia conosco. Enquanto minha esposa tratava junto a atendente de agendamento de exames, fiquei a olhar para a rua, pensando longe, olhar perdido. Definitivamente a paisagem havia mudado e não voltaria a ser a mesma.

Crônicas de um pai: rosa que te quero rosa

O casamento altera a nossa palheta de cores, de uma certa forma. A esposa traz consigo uma palheta com cores, variações e nomes impensados. Sim, eu sabia o que era o rosa, mas desconhecia que o rosa tinha tantos matizes e particularidades. É possível mesmo escrever um catálogo.

sábado, 23 de julho de 2016

Olimpíada do Rio de Janeiro: a equipe de refugiados

Instituições esportivas, ao longo do mundo, mostram-nos de forma constante a face torta da corrupção e de desvios de propósito. Não é esta uma nota sobre a contramão da cidadania, mas como em meio a tantas vozes mal-intencionadas surge o que parece ser um alento. As Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016) contarão com uma equipe de refugiados. Quenianos, sírios, congoleses e sul-sudaneses estão entre os selecionados para compor a equipe. Utilizarão a bandeira do COI - a dos arcos coloridos - e desfilarão antes da equipe brasileira na cerimônia de abertura. A equipe em questão chama a atenção das sociedades para uma Terra em conflito. Guerras que levam milhares de pessoas todos os anos a buscar abrigo, asilo e exílio. Estamos doentes e a equipe nos lembra de nossa tragédia. Para além dos maus usos de eventos esportivos, da ambição de mandatários, a equipe de refugiados merece atenção redobrada pelo sinal que carrega: a das nossas culpas e a nossa esperança.
(colaborou Vany Abdalla)

Crônicas de um pai: o tempo e o cálamo

Crônicas de um pai: o tempo e o cálamo
Ontem pela manhã, em celebração de Missa, o querido Padre Luís Erlin, ofereceu-nos duas expressões: a imposição do tempo próprio e o amor persistente. Impor o tempo próprio nomeia todas as vezes nas quais somos devorados pela ansiedade e frustração. Ansiedade que nos leva a desejar que o mundo atenda e corresponda às nossas expectativas e planos, somos, a partir desta perspectiva, zelosos dos caminhos e roteiros que decidimos viver. Frustração é o resultado das respostas negativas do mundo ao nosso enredo, afinal, viver em sociedade significa estar rodeado de pessoas. Falar de tal imposição do tempo, vale com certeza, para um sem número de situações quotidianas, aqui, no entanto, diz respeito de forma particular à espera do bebê. Esperar e escrever roteiros nos quais definimos e construímos os trilhos. De tal lugar para tal lugar, de uma casa à outra, de uma cidade à outra. Quais são os limites? Se precisamos da organização e da referência dada pelo nosso enredo, a rigidez - a imposição do tempo - pode transformá-lo em em um pesadelo. O amor persistente baliza nossas ações e nos capacita a verdadeiramente ouvir quem está ao nosso lado, o roteiro ganha novas mãos. Ufa! agora, são três - logo mais, quatro, cinco... - pessoas a brincar e a rabiscar, o mundo é maior do que o imaginado.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Crônicas de um pai: o bebê se mexeu

Crônicas de um pai: o bebê se mexeu
Sim, sabemos que ele está bem, os exames, os médicos e os assistentes dizem e mostram imagens. Nada, no entanto, se aproxima do toque na barriga de sua esposa acompanhado das respostas do bebê. Ele se mexeu. Milagre da vida é expressão que, em virtude do uso constante, esvaziou um tanto da magia e do encantamento contidos na afirmação. A vida se renovando, a vida seguindo curso maior do que nós, maior do que os nossos medos, vida que recria os nossos pequenos roteiros (do que esperar). A pequenina e forte vida que pulsa no ventre do amor exige que, de forma regular, este pai revisite a sua própria história. Minhas memórias passam a jorrar em um fluxo perturbador, revejo-me um sem número de vezes ao longo do dia. Episódios cristalizados intimamente fervilham e pedem que eu os reviva. À medida que o bebê cresce no ventre, o pai é chamado a responder questões sobre si mesmo. O melhor, no entanto, é descobrir que pode responder, agora, de uma nova forma. A força da vida renovada, lhe diz que pode fazer tudo de um outro jeito, sempre de um outro jeito.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Crônicas de um pai: a esposa, a mãe e Nossa Senhora de Fátima

Esperar, gestar e sonhar a vida. A esposa ao engravidar transforma-se, ela é banhada pela transcendência.. Amorosa, mais amorosa ainda. Sensível e atenta como nunca antes, ao ser tocada pela criação o afeto e o carinho são redimensionados. Agora, ela guarda e gesta a vida. Assim, a esposa e a mãe são aos olhos do pai alguém diferente da pessoa com quem ele se casou. (dá vontade mesmo de ter filhos todos os anos em virtude das mudanças). Esperamos uma menina para o mês de outubro, rogo a Nossa Senhora de Fátima, devoção de minha mãe - Dona Nassima Abdalla - que ela sorria feliz e encantadora.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Crônicas de um pai: 24a. semana

Não, não é sobre um filme ou uma caminhada pelo parque. É uma crônica sobre a gestação, estamos na 24a. semana, sabemos que é uma menina. Pensar em voz alta - e escrever - permitirá que homens e mulheres que me leem possam reunir pistas para saber o que se passa na vida de um homem que está a esperar o nascimento de uma filha. Dizer que tudo muda é pouco. Passamos a caminhar pelas ruas e pela casa recriando intimamente a paisagem que nos rodeia. Pintar parede é nada, embora, aos olhos alheios de familiares pareça ser tudo que cabe fazer. Em silêncio, busco imagens e letras. (pausa na crônica: a esposa empolgada com programas de culinária acaba de oferecer para degustar um mimo de guloseima de cenoura e chocolate; depois de limpar educadamente o prato, retorno). Falava de imagens e de letras com as quais quero povoar o seu horizonte. Deixá-las lá para que esticasse (ou não o braço) para tocá-las. A paisagem emocional criada intimamente por um pai passa por aqui, passo a passo, partilha-as e descobre as desejadas pela mãe. As paisagens são recriadas, a experiência acaba por gritar que o sonho engendrado sempre sempre sempre ganhará contornos não cogitados. Não, ela, a pequena por nascer, descobrirá por si própria o que deseja e apresentará a todos os sinais e imagens não percebidos. Pedirá ao pai cuidados e sopros de vida, que, ignorante o pai oferecerá com gosto. No final, rendido sobre o tapete aprenderá a brincar de bonecas enquanto conta as venturas  de um homem que acreditou descobrir o Elmo de Mambrino.