segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Crônicas de um pai: prova de amor

Crônicas de um pai: prova de amor

Maria me ama, não tenho mais dúvida a respeito. O grude com a mãe não mudou, no entanto, posso ficar tranquilo e certo do afeto de minha filha. Dias atrás, Maria estava adoentada, estava febril e incomodada. Apesar do desconforto mamou e agora reclamava de sono, não era possível oferecer-lhe o meu colo eu dirigia. O resmungo de sono deu lugar ao primeiro choro, aquele choro leve que ainda guarda o resmungo mas não traz lágrimas. Foi aí que me vi em uma situação limite, daquelas que exigem solução corajosa. Eu cantei para ela.

Quando criança adorava cantar, os dias longos sem sol me fizeram calar. A falta de prática e a timidez operaram o resto. Hoje, sou um péssimo cantor, desafino e não tenho ritmo. Meu metrônomo interno tem a precisão e o andamento de uma árvore sob o efeito de uma tempestade tropical. Irregular e indefinido.

Cantei para ela. O cenho franzido de Maria poderia sugerir que ela não apreciava a barbárie que lhe chegava aos ouvidos. Seria a febre que causava alucinações ou o seu pai cantava aos tropeços?

Todavia, Maria adormeceu.

Fiquei a me perguntar se dormiu tranquilizada por meu gesto ou se de tédio para não me ouvir mais.

Tudo foi esclarecido logo mais, ao acordar Maria abriu o seu sorriso. Olhou-me e sorriu. Perdoou a minha falta de ritmo e de ouvido.

Grato, minha pequena!

ps. Se as redes sociais que tudo querem tornar público trouxerem imagens de motoristas dançando e cantando ao volante e, se por acaso, algumas imagens lembrarem do meu semblante de pai da Maria declaro que é montagem.

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