terça-feira, 27 de março de 2018

Crônicas de um pai: dicionários

Crônicas de um pai: dicionários

Dicionários e enciclopédias eram mundos encantados. Lembro-me de uma edição do Lello Universal em dois volumes - gigantescos - que me auxiliaram muitas vezes em minhas tarefas de escola. O mundo que escapava do meu alcance estava ali, colocado em meu colo pelo Sr. Benedito de Moura. Verbetes, ilustrações, capitulares e a certeza de que eles sempre tinham algo mais para me mostrar. Os volumes nasceram, acreditava, noutro mundo, distante e virtuoso. Eu era um menino. À mesma época lembro-me de ouvir minha mãe e a tia Lídia, certa vez, a conversar sobre dicionários, é minha memória mais antiga do assunto. Minha mãe dizia que eu lhe fazia perguntas e que ela não sabia respondê-las, tia Lídia sugeriu um dicionário para o problema da irmã. Dias depois, dicionário encapado de um quadriculado branco e verde foi me dado de presente, pertenceu aos meus primos e agora era a minha ajuda para descobrir mais. Meu primeiro dicionário. Ando às voltas com isso para contar-lhe, minha filha, que você já tem um dicionário. É pequeno e adequado ao tamanho de seus dedos ágeis e molhados. Sei que é cedo, mas apaixonado que sou pela beleza desses volumes não resisiti. Mais tarde, em nossa biblioteca você encontrará outros, descobrirá as nossas edições do Caldas Aulete, do Elucidário de Viterbo, do Laudelino Freire da José Olympio - aquele que dicionarizava nomes que o Mário de Andrade rabiscava -, do Houaiss, do Aurélio Buarque e dos dicionários ilustrados da Melhoramentos. É pena que com o passar do tempo dei-me conta de palavras e verbetes que falam de nossa barbárie e dor, mas olhe com atenção minha filha há mais palavras bonitas do que feias.

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