terça-feira, 28 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: meditação

Crônicas de um pai: meditação

Sempre esteve lá, ando a procura desde há muito. ficava em silêncio e procurava, procurava. o vale da meditação habitado pelos pássaros de farid attar ou o do poeta místico. do livro revelado ou o do jamais escrito.

Tantos são os chamados das buzinas que, muitas muitas vezes, a voz interior fica perdida. a paternidade, bem ao seu modo, rearranja tudo e cria, com suas caras e sorrisos, a câmara atapetada ideal para uma tarde de meditação.

Crônicas de um pai: a caixa de brinquedos (em expansão)

Crônicas de um pai: a caixa de brinquedos

maria descobriu a sua caixa de brinquedos. durante semanas a caixa ficava no canto, silenciosa como quem aguarda visita. pois bem, ela chegou. maria aprendeu a revirar a sua caixa de brinquedos, busca pelo fundo para saber quem está a sua espera. não, não é simples vasculhar uma caixa de brinquedos. fica ali a lembrar de suas reinações e dos seus campanheiros de bagunças.

a caixa de brinquedos, agora, alinha-se ao universo de caixas e de gavetas, malas e mochilas. 'o que é? ' ouvimos sempre. ela deseja saber, ela precisa saber. martelos, alicates, escovas e cremes alinham-se ao lado de trenzinhos e de bonecas. a todo instante estamos a guardar  colheres e cadernos e, ao mesmo tempo, ela os convoca para o centro da sala.

estamos frente a fenômeno que não tem fim! (ainda bem!)

Crônicas de um pai: bom dia! (o primeiro de nossas vidas)

Crônicas de um pai: bom dia! (o primeiro de nossas vidas)

Não há mais segredos em nossas conversas, não há mais silêncios. Desde quando era bebê busquei por Maria desejando-lhe um bom dia. Eu saudava o dia ao seu lado. falei-lhe mesmo dos firmamentos. De tanto me ouvir, hoje, pela primeira vez ela me disse bom dia.

Definitivamente, ela é uma menina-quase mocinha. Conta-me do frio e dos pássaros que voam pela casa. Solicita ajuda e nas últimas horas surpreendeu-me ao revelar que entendia o que era 'dormi'. Agora, saúda-me.

Eu a vejo crescer!

Crônicas de um pai: mamá e mamão

Crônicas de um pai: mamá e mamão

O brincar de fazer de conta precisa de linguagens de todos os tipos. Maria conversa com as suas amigas reais e imaginárias, recria o que vive e aprende. Cacá, a fiel e estimada ovelha, troca fraldas e é alimentada, toma 'bãinho' e usa cotonetes, tudo acompanhado de frases e afagos. Pai e mãe fazem parte do universo de brincadeiras, encenam histórias e sentam-se para pintar.

Dias atrás, Vany perguntou-lhe se desejava comer mamão. Ainda pequena Maria nos revelou que o mamão estava entre as suas frutas favoritas ao lado das uvas e bananas. Lembrando disso, ofereceu-lhe mamão, todavia, Maria cresceu e nos diz do que tem fome e vontade. Recusou o mamão e pediu mamá. Ao se dar conta da semelhança fonética ficou a brincar de repetir as palavras, demonstrou o quanto havia aprendido dos nomes: mamá, mamão, mamá, mamão, mammãe.

ps. Vany chorava quando me contou isso

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: Cacá, a bomba de encher bolas e a caneta

Crônicas de um pai: Cacá, a bomba de encher bolas e a caneta

Agora está lavrado, todos os dias, depois de jantar, Maria Luíza diz o seu 'dá mão!' e me conduz para o quarto. Muitas vezes ela deseja partir antes do jantar e resmunga. Nada que não se ajeite, no final, ela aceita jantar antes de brincar no seu quarto favorito. Sim, o quarto em seu universo é lugar de enormes alegrias. Ouvirá as suas canções - do pirulito que bate ao sítio do seu lobato - acalentará a sua ovelha Cacá e muito mais. As combinações do que deseja levar para a cama-parque são as mais inusitadas. Por que vai levar a bomba de ar? A culpa foi minha, eu sei. Retirei a bomba para encher a bola de minha filha e, antes de tornar a guardá-la mostrei-lhe como funcionava, encantou-se com o movimento, achou graça e, agora, tem com o que se divertir. Há tempos ela sabe o que é o 'faz de conta' e fica ali construindo os seus mundos. Eu, pouco perspicaz aos modos de imaginar de minha filha, procuro aprender. Aproveito para também lhe oferecer algo do meu 'faz de conta'. Caramba! É divertido brincar assim! 'Filha, vamos trazer um tapete da próxima vez e o pote de doce maçãs!'.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: 'você é meu papai'

Crônicas de um pai: 'você é meu papai'

Não sabia o que dizer ou o que sentir, fiquei ali tolo e feliz ouvindo minha filha sentada ao meu lado dizer quem eu sou na vida dela. A frase era grande, cheia de palavras. Estava lá o verbo e o pronome diria o gramático. Aos meus ouvidos estava ali a menina-quase mocinha que nos últimos 21 meses e 20 dias trouxe alento ao meu mundo. Revirou vasos de flores e cultivou floradas em terras sem vida. Lá estava ela fazendo do simples algo grandioso, fazendo do gesto pequeno uma revoada de pássaros de arribação.

Sim, eu sou seu pai, seu pequeno e grande papai. Faço-me dois, três ou quantos necessários para lhe dar meu fôlego e minha carne, minha certeza de que tudo vai pelo bom caminho, há a senda da chuva e da brisa, do afago e do 'cuxo', do abraço e do regalo. Sim, eu sou, todos os dias, eu sou o seu pai.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: saudades

Crônicas de um pai: saudades

dia desses, quando voltávamos para casa, falei-lhe de minhas saudades (cheguei mesmo a falar do significado da palavra), contei-lhe algo do meu dia e pedi que me contasse do seu. a cabeça de menina-quase mocinha pendia e com enorme esforço falou-me de suas brincadeiras e de sua fome. antes mesmo de chegarmos em casa ressonava em sua língua de anjo.


Crônicas de um pai: Dia dos Pais

Crônicas de um pai: Dia dos Pais

(ela é o meu maior presente)

achegou-se e abraçou-me. sorriu a sua boca cheia de dentes e ficou a esperar que tornasse a fazer do cobertor uma cabana para as suas reinações. paralisada, aguardava o meu gesto, mantinha a felicidade em estado de suspensão. quando, por fim, viu-se coberta gargalhou e fez do quarto inteiro a alegria de uma vida.

Crônicas de um pai: quem cuida de quem

Crônicas de um pai: quem cuida de quem

Houve um tempo em que acreditei que os pais eram os cuidadores, os grandes e principais responsáveis pelo crescimento de uma criança. De fato, somos. Todavia, dei-me conta de é ela quem cuida de nós. Maria nos faz ver a vida sob perspectiva que, no final, abre os nossos olhos, nos faz repassar e reescrever as nossas vidas. Não, ela não nos redime de nossas tragédias pessoais, ela nos faz ver que a tragédia é passada e que o porvir chegará com o sol da manhã. Ela nos mostra as chaves para as portas das saudades e do amor maior. Ela nos faz lembrar, lembrar de quem somos, lembrar de nossos propósitos e de nossos encantamentos abandonados e carcomidos ao longo dos anos. Maria já não é mais uma bebê-quase menina, isso é passado, vive hoje o seu tempo de menina-quase mocinha. Maria cuida de nós, ainda que façamos o seu prato e troquemos as suas fraldas, ela redimensiona tudo sob diapasão afetivo. Não, não significa que ela comanda as ações de uma casa, ela apenas as perfuma. Tampouco quer dizer que ela faz o que quer, ela nos dá ouvidos e aceita os nossos convites e as nossas danças. Sexta última, por exemplo, aceitou viver a sua primeira Bienal do Livro de São Paulo. Divertiu-se correndo e pulando como toda menina-quase mocinha faz em sua idade. A vida é um milagre, aprende-se a meditar vendo uma menina-quase mocinha dando ouvidos e sorrindo para os pais enquanto zela pelas nossas vidas.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: ópamim

Crônicas de um pai: ópamim

Não há dia sem surpresas. Ontem depois de jantar muito bem, Maria Luíza pediu 'banana'. Acreditei que não caberia mais uma fruta, mas deixei que ela mesma decidisse. Come, come e não é que lá se foi a fruta quase inteira! Deixou apenas um naco da banana e tomou a decisão que mudaria as nossas vidas, uma vez mais, disse-me 'ópamim' - 'olha pra mim' - e quando me voltei levou a banana à minha boca. Ela já havia em muitas outras oportunidades dado de comer aos pais, mas agora pedia que olhássemos para ela e abríssemos a boca. Já vivemos as situações mais inusitadas na hora de comer, a de ontem, no entanto não tem paralelo.

('ópamim' é demais!)

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: O casamento da Bianca e do Fábio

Crônicas de um pai: O casamento da Bianca e do Fábio

Dia de festa, dia de celebrar o casamento da prima Bianco e do, agora, primo Fábio. Maria Luíza tinha tarefa importante, deveria levar a avó da noiva ao casamento, deveria levar a sua tia-avó Nadima. Sábado de chuva, sábado frio que convidava a ficar mais tempo na cama, mas era preciso sair, havia cuidados e tarefas antes do casamento dos primos.

Maria Luíza já havia provado o vestido e os sapatos novos de festa. Cheia de expectativa por rever a sua tia-avó adormeceu após o almoço, parecia pressentir que a noite seria mais longa do que o habitual e não desejava perder nada. Dormiu serena e fiquei a velar pelo seu descanso.

Vany preparava a mala de passeio de nossa pequena, que, algumas vezes  parece ter tudo que se precisa para um período não menor do que 72 horas. Detalhes, acertos e ajustes que pediram atenção.

Os últimos dias foram de lembranças e de votos, lembrei-me de minha família, lembrei-me dos meus, tudo isso misturado àquela mudança de andar representada pelo casamento. Tudo mudava, uma vez mais.

Já no casamento, minha filha quis conhecer tudo. Explorou passagens, nomeou objetos e pessoas. Caminhou e correu decidida e curiosa. Não é exagero dizer que ouvi a cerimônia mais do que a assisti. Senti-me no lugar dos pais da Bianca e do Fábio em diversos momentos, imaginei-me levando minha filha ao altar. Afinal, no tempo devido será a hora dela partir, a hora dela sonhar e criar uma família.

Bianca e Fábio estavam lindos. Havia aquela tensão nas mãos, mas, ao mesmo tempo, havia serenidade, aquela serenidade que se tem quando se sabe qual caminho se está a tomar.

Queridos primos, saibam que levaram nossa Maria Luíza a brincar como nunca, ela agradece e pede para que sejam felizes em suas viagens de Kombi.

Do altar ao jardim, da mesa ao salão, entre afagos da tia-avó, dos pais e dos primos seguimos felizes.

Crônicas de um pai: observar

Crônicas de um pai: observar

Fico a observar o meu bem e os seus jeitos. O que está a pensar? Por que cria rotinas de caminhos e os repete e repete? Por que as abandona para criar outras? Por que algumas canções persistem mais do que outras em seu universo de mocinha? Por que deixa o que está a fazer para pedir colo como se estivesse a dizer: 'estou carente, quero afago'. Por que chora como se estivesse sozinha e depois ri?

Venha, me dê a sua mão, vamos andar em seu triciclo vermelho e azul, a chuva já passou.

Crônicas de um pai: Dançar no casamento da Bianca e do Fábio


Crônicas de um pai: Dançar no casamento da Bianca e do Fábio

A pista de dança era apenas das crianças, havia jogo de luz que salpicava o chão de estrelas que rodopiavam de maneira incessante e colorida. Não tive dúvida, levei minha filha que adora cantar 'brilha, brilha estrelinha'. Eu que sempre fui tímido até os ossos, estava disposto a não permitir que minha filha padecesse dos mesmos males de seu pai.

Levei-a para passear no caminho das estrelas. Ela ficou ressabiada e me pediu alguns instantes para pensar. Ficou junto às minhas pernas, duvidosa do que se passava e aos poucos começou a caminhar, depois, correu. Após correr, olhou para o alto para descobrir a luz, julgava que as estrelas estariam no alto, mas 'por que andam tão baixo?'

Instantes depois, colocou em prática todo o seu repertório de danças de crianças. Coreografias, mãozinhas e sorrisos. Ela se divertiu, por fim, mostrou-me como é que se faz e a minha timidez, apesar de tudo, estava ali, mas não resisti e bailei com minha filha.

Houve tempo para tudo, inclusive para uma dança a três; pai, mãe e filha, ou, marido, mulher e filha. Devemos mais uma aos primos Bianca e Fábio.

Crônicas de um pai: 'ôba, escola!!'

Crônicas de um pai: 'ôba, escola!!'

Ontem, ao chegarmos à escola, Maria reconheceu o lugar e exprimiu um sonoro ôba!!, hoje, igualmente ciente do que acontecia ofereceu um êê!! Acreditamos que ela gosta da nova escola e está preparada para andar mais longe. Outro dia, era um bebê de colo e agora que ganhar o céu.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Crônicas de um pai: beijo de boa noite

Crônicas de um pai: beijo de boa noite

Dei-me conta apenas agora que ganho beijo todas as noites de minha filha. Ela estava em nossa cama e me viu ajeitar o travesseiro, cansado pela jornada deitei-me e fechei os olhos. Maria que estava no colo de sua mãe aproximou-se, mexeu em meu ombro para saber se estava de fato dormindo e como não reagi deu-me um beijo de bons sonhos. Como agradecemos ao carinho de um pingo de gente de 1 ano e 9 meses?