Agora é sério, todas as tardes eu e Maria Luíza brigamos.
Para deixar tudo bem organizado nossas brigas ocorrem sempre no mesmo horário e
lugar: a saída do berçário. Não há festa ao me ver, apenas para a mamãe e para os
que estão ao meu redor, sou ignorado. Não ganho abraços e sorrisos. Ela não me perdoa por deixá-la logo cedo e partir. Protesto de
forma veemente e sou de forma completa abandonado. Não há lugar em seu momento de euforia para um
pai à saída da escola. Os olhos grandes e castanhos não me buscam e, tampouco, oferecem repouso.
Estamos brigados, eu a deixei e agora ela demonstra o seu desconforto. Tomado
pela calma digo: “Vai voltar caminhando para casa, não tem carona”. Ela me
ignora, aliás, eu mesmo não levo a sério a minha mágoa. Agarrada ao colo de
Vany, minha Luíza entra resmungona no carro como se estivesse a protestar
contra algo. Dura pouco a perturbação, logo Maria Luíza está a rir e a acenar
para o mundo que vê de sua janela favorita. Satisfeita acha jeito de esticar o
braço para me tocar. Sinto os dedos da bebê-quase menina pedindo atenção e
sorrisos. Digo-lhe, ainda bravo, que não quero saber de papo. Ela insiste e eu aceito
fazer as pazes. O meu mundo volta a sorrir a
sua boca cheia de dentes no banco de trás.
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