quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Crônicas de um pai: fazer as pazes

Crônicas de um pai: fazer as pazes


Agora é sério, todas as tardes eu e Maria Luíza brigamos. Para deixar tudo bem organizado nossas brigas ocorrem sempre no mesmo horário e lugar: a saída do berçário. Não há festa ao me ver, apenas para a mamãe e para os que estão ao meu redor, sou ignorado. Não ganho abraços e sorrisos. Ela não me perdoa por deixá-la logo cedo e partir. Protesto de forma veemente e sou de forma completa abandonado. Não há lugar em seu momento de euforia para um pai à saída da escola. Os olhos grandes e castanhos não me buscam e, tampouco, oferecem repouso. Estamos brigados, eu a deixei e agora ela demonstra o seu desconforto. Tomado pela calma digo: “Vai voltar caminhando para casa, não tem carona”. Ela me ignora, aliás, eu mesmo não levo a sério a minha mágoa. Agarrada ao colo de Vany, minha Luíza entra resmungona no carro como se estivesse a protestar contra algo. Dura pouco a perturbação, logo Maria Luíza está a rir e a acenar para o mundo que vê de sua janela favorita. Satisfeita acha jeito de esticar o braço para me tocar. Sinto os dedos da bebê-quase menina pedindo atenção e sorrisos. Digo-lhe, ainda bravo, que não quero saber de papo. Ela insiste e eu aceito fazer as pazes.  O meu mundo volta a sorrir a sua boca cheia de dentes no banco de trás.

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