sábado, 28 de abril de 2018

Crônicas de um pai: o primeiro banho

Crônicas de um pai: o primeiro banho

Ela abriu com vontade o seu sorriso de satisfação e ergueu os braços, queria alcançar a água que descia do alto. Molhou-se alegre, eu a ajudá-la em sua procura da água quente que descia e a embalava. Livre estava das ataduras, dos panos, das fitas adesivas e dos plásticos. O banho era livre.

Crônicas de um pai: as minhas mãos

Crônicas de um pai: as minhas mãos

Encantei-me sempre pela maneira como ela erguia as suas mãos e as observava. Ensaiava os seus movimentos, os pequenos dedos recolhiam o ar à sua frente e os revirava em movimentos pensados e e ensaiados. Havia ritmo ali, ela estava inteira ali.
Agora, tudo voltou. Livre da tala que a prendia pela asa, ela se vê pronta que retomar de onde parou.Ela ensaia e executa, apercebe com a ponta dos dedos o rumor do mundo e brinca.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Crônicas de um pai: livre do gesso

Crônicas de um pai: livre do gesso

Na manhã em que Maria completa 18 meses de vida há muito para se comemorar. Por fim, estamos livres do gesso após intermináveis quatro semanas. O choro de desespero para retirar a atadura de gesso deu lugar ao sorriso e trouxe de volta uma menina que deseja carregar o mundo em seu abraço.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Crônicas de um pai: peixes e araras

Crônicas de um pai: peixes e araras

Fico a pensar por qual razão os animais e plantas a cativam. Folhas e gatos, flores e cachorros são sem dificuldade a sua paixão. Ela pode estar entretida com algo em nossa casa, pode estar comendo, Maria deixará de lado o que faz e levantará o dedo indicador. Eis a sua maneira de chamar a própria atenção e a nossa para o que se passa lá longe, em nossa rua: os cães latem.
Dias atrás o mundo era cocó, hoje, peixes e araras ganham espaço. O nome da arara saiu inteiro, ao menos uma única vez, não é fácil chamar o pássaro colorido, ela já conseguiu. Nos últimos dias os peixes ganharam espaço e vida. Ainda ontem, ela reconheceu em toalha do banheiro um peixe. Declarou-se encantada e o abraçou: pexxi!

Crônicas de um pai: a lição de Marcos, o evangelista

Crônicas de um pai: a lição de Marcos, o evangelista

Educar para o voo, educar para a vida. Somos apenas a terra na qual ela cresce, vivemos a nos perguntar sobre as maneiras de dar ao terreno no qual caminha as paisagens e os afetos necessários para que crie e fortaleça a sua jornada. Território de expectativas e da certeza de que um bom início em muito ajuda, auxilia na formação moral e ética ainda que o mundo lá fora seja de lobos. Educar e esperar a semente buscar o seu sol.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Crônicas de um pai: quatro semanas de gesso

Crônicas de um pai: quatro semanas de gesso

Persiste a angústia e a dificuldade de um braço engessado, já são quase quatro semanas. Quinta próxima haverá nova série de radiografias para que possamos avaliar a evolução da lesão. Maria, à sua maneira e dentro das limitações impostas por brincar com um único braço, sorri. Maria chora, chora mais do que costumava, pede colo, pede ajuda.
Dia desses ao ouvir o processador de alimentos trabalhar começou a chorar, o ruído lembrava a serra usada para retirar o gesso.Como restaurar a paz?
Venha cá, me dê um beijo!
Nós lhe prometemos que tudo vai ficar para trás.

sábado, 21 de abril de 2018

Crônicas de um pai: três anos

Crônicas de um pai: três anos

No início de maio serão três anos desde a partida de minha mãe. Sábados à tarde trazem a sua memória. Enquanto escrevo Maria resolveu revirar, digo, arrumar a sua mochila. Fraldas e cotonetes, agenda e roupas estão em desalinho sobre o sofá. Minha mãe, estou certo, estaria aqui a brincar com a sua neta. Nos últimos três anos a casa mudou, Maria iniciou as suas reinações e Dona Nenê deu início à sua viagem. Há dias, há momentos nos quais a luz do sol traz à memória a avó que Maria não conheceu. Nessas horas fico saudoso e certo das lições que ela me ofertou. A fé cresce e ampara, dá sentido à vida e ao porvir. Minha mãe ainda viaja, sempre dá notícias aos seus.

Beijo, mãe!

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Crônicas de um pai: 'Grata, Papai do Céu!'

Crônicas de um pai: 'Grata, Papai do Céu!'

Grata pela vida e pelo dia,
grata pelo lanche, grata pelo creme de queijo e pelas mangas,
grata pelo apoio e pelo carinho que recebo de quem está ao meu redor,
grata pelas rosas brancas de nosso jardim, grata pelas violetas,
grata pelos meus avós, grata pelos meus tios e tias, primos e primas,
grata por me ensinar a sorrir e me fazer descobrir o mundo,
grata pela maciez da Cacá que embala o meu sono,
grata por cuidar de meus pais e lembrá-los que estou à espera.

Crônicas de um pai: Achooou!!

Crônicas de um pai: Achooou!!

Não me lembro quando começou, minha Maria adora esconder o rosto para depois sorrir um sonoro 'achooou!'. Há tempos brincávamos de esconder o rosto atrás de manta de nossa filha, ao nos revelarmos apenas mostrávamos expressão de felicidade.
Hoje, há algo mais. Não há hora certa, ela pode estar mamando, enrolada na toalha de banho, na cama entre os seus bichos de pelúcia, acompanhando o mundo que desfila em sua janela favorita ou explorando o quintal de casa. Amo ouvir aquela risada e ser alvo daqueles olhos apertados de satisfação. Dona Vany anda mole e sensível a tudo e a cada 'achoou' ri e chora ao mesmo tempo. Ver mãe e filha assim é algo que dá cor ao dia.

terça-feira, 17 de abril de 2018

Crônicas de um pai: não, não, não

Crônicas de um pai: não, não, não

Agora é assim, se Maria está saciada e não quer mais o que lhe oferecemos, ela tem o que dizer: 'não, não, não!'. Tudo acompanhado com o movimento negativo da cabeça. Outro dia virava o rosto, agora diz, agora comunica-se de forma clara. Permaneço longos instantes afagando a sua cabeça e procuro entender como ela aprende e apreende o mundo. Fico a me perguntar do que precisa para dar os seus saltos. Ela não é mais um bebê, Vany insiste que estou errado e a chama de RN. Maria é uma menina, ágil e dengosa, sempre a pedir atenção e cafuné. O dedo digital a buscar pelas canções que ouve. Sim, ela toma meu celular e pede os canais de músicas. Aprendeu a escolher, sabe em qual posição da tela sensível ao toque estão os comandos. Fico a observá-la, procuro entender que repertório vai se formando, apresento-lhe minhas sugestões e intercepto o lixo da rede. Cantamos juntos, apesar de Maria insistir, sobretudo, nos refrões. Ela é uma menina que ainda mama e come carne, finge que está dormindo e sorri quando lhe fazem cócegas. Maria é uma menina, a minha menina. Faço-lhe mamadeira e troco as suas fraldas, ciente de que, em breve, caminhará para longe em suas reinações. Assim é. Damos-lhe o melhor de nós para que logre ser o que começou a sonhar ainda na barriga de sua mãe.
Tenho uma filha, sou pai!
Maria é minha menina!
Grato, dona Vany!
beijos

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Crônicas de um pai: tirar o gesso


Crônicas de um pai: tirar o gesso

Dia longo e difícil. Dia de tirar o gesso e visitar a pediatra. O retorno ao ortopedista para avaliação da fratura e a visita rotineira ao pediatra coincidiram no dia de hoje. Pai e mãe andam à flor da pele com as tormentas das últimas duas semanas. Desde a quinta-feira da Semana Santa até agora sofremos as dores de uma bebê-quase menina. Logo cedo a romaria que ligava a sala de radiografias ao consultório do ortopedista e, depois, a sala de gesso. Os ossos estão se recompondo, por isso, o gesso que chegava até o cotovelo, agora, cobrirá apenas o antebraço. Serão mais três semanas de gesso. No total, minha filha ficará durante 5 semanas com parte de seu braço imobilizado por gesso. A agonia e o choro de minha filha ao retirar o gesso, rasgou-me ainda mais. Fiquei a lembrar dos últimos dias, de pessoas que são capazes de mentir para posar de responsáveis. Quantas lágrimas minha filha não derramou para pagar pela falta e descaso de outros.
Enquanto escrevo Maria dorme, depois do choro da manhã com a troca de gesso visitamos instantes atrás a sua pediatra. Ela nos acompanha desde o início, conheceu Maria miúda miúda e, hoje, a chama de amiga. O quadro geral de Maria é bom, a despeito de lhe terem tirado o sossego ao dormir, afinal dormir com o braço engessado não é a senha para uma noite tranquila. Maria e mãe aconchegadas descansam a expressão de ambas nos diz que caminhamos na direção certa.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Crônicas de um pai: infinito agora

Crônicas de um pai: infinito agora

Os dias assemelham-se a uma linha contínua. Lembro-me dela miúda, lembro-me de suas reinações das primeiras semanas, no entanto, ela parece, aos meus olhos, ter tido, desde o primeiro dia, o semblante de hoje. Ela cresce, mas não cresce, teve sempre o mesmo jeito que leva nos olhos castanhos. Vivo um infinito agora com a minha menina.
Grato, Vany!

Crônicas de um pai: frases interrogativas

Crônicas de um pai: frases interrogativas

Os jogos de palavras são nossos conhecidos, ela pode levar minutos solfejando em sua linguagem bebê-quase menina. Nomear o mundo e narrar-lhe as histórias que tem para contar, agora ganharam a companhia das interrogações. Aprendeu a entonação de frases interrogativas e se põe a apontar e a indagar. Deus do céu! Quanta coisa para saber a respeito de si mesma e do mundo que a circunda!

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Crônicas de um pai: tetê e pepê

Crônicas de um pai: tetê e pepê

Não havia me dado conta, Dona Vany foi a primeira a perceber. Maria diferencia o leite da mamadeira do leite de sua mãe, ela lhes dá nomes diferentes e, também, já se deu conta de quem são os responsáveis. Ontem ao nos deitarmos, Maria estava em nossa cama. A asa machucada pede cuidados maiores, Maria enfrenta dificuldades para achar posição confortável para a sua noite de sono. Em nossa cama encontrará braços e bichos de pelúcia para apoiar o gesso de sua dor de bebê-quase menina. Não é fácil, há manobras e acrobacias que não têm fim para embalar o sono de três e durante a noite-madrugada é possível ganhar ganchos de gesso no queixo.
Fui o primeiro a adormecer, Maria aguardava a chegada do sono. Não tardou para Maria Luíza buscar por mim e me acordar; 'Acoda, acoda!!'; ao abrir os olhos ouvi de sua boca um sonoro 'tetê!'. Ela desejava mamar e balançando de sono preparei-lhe a mamadeira. que, em instantes estava vazia. Satisfeita, agora, buscava pela mãe que tudo via e pediu com mimo 'pepê!'. Do tetê ao pepê, do leite de lata ao materno, ela domina códigos vários, bem como, demonstra ótimo apetite.
Agora, duplamente saciada pelos pais ela adormece. Silenciosos nos voltamos para os nossos travesseiros e antes de terminamos de dizer boa noite um ao outro já dormíamos.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Crônicas de um pai: cuco e cócó

Crônicas de um pai: cuco e cócó

Os dias seguem e a asa quebrada pede paciência e cuidado, Maria caminha e corre. Ela nomeia e sorri para o mundo. Por falar em asas, tudo que tem bico e asa é cócó. O casal de sabiás que nos visita todos os dias, a rolinha que vem ao nosso jardim buscar sementes, o cuco de nosso relógio, as maritacas que conversam em nossa rua são cócós.

Crônicas de um pai: o que fazer?


Crônicas de um pai: o que fazer?

A semana última foi repleta de interrogações temperadas com sofrimento. Pai e mãe sentiram as dores da asa quebrada. Apressaram-se em oferecer as próprias mãos para que ela caminhasse em segurança. Perguntaram-se como e quando ela quebrou a ponta da asa. Estamos aqui exauridos e, agora, crentes que será preciso oferecer ao anjo que mora em nossa casa lugar adequado às suas demandas e necessidades. Hora de oferecer-lhe algo mais, espaço maior aos seus passos, adequado à sua percepção de firmamento. Oxalá a escolha dos pais seja a certa. Decide-se muita coisa ao escolher uma escola. Ando a flor da pele nos dias que seguem, quase chorei ao ver foto de alunos do ensino médio do novo colégio, nos rostos jovens reconheci o de minha pequena Luíza, vi o meu tesourinho ali, crescida e feliz.