sábado, 26 de maio de 2018

Crônicas de um pai: mais ou menos assim

Crônicas de um pai: mais ou menos assim

Sentada levanta os braços para saudar e chamar pelo cuco que dorme dentro do seu relógio favorito. Passo seguinte esparrama-se no sofá e se põe a pedir tetê, ajeita-se e traz o pé calçado para junto de si para abrir o velcro com a ponta dos dedos. Volta-se para a claraboia que traz a luz da tarde e lhe permite ver a cor de outono das samambaias rendadas que aos poucos retornam do longo silêncio depois da partida de Dona Nassima. Na rua, cães latem e Maria ergue o dedo para chamar a atenção. Tetê pronto, mama como se o mundo estivesse ali. Saciada é hora de dançar a 'dona borboletinha'. Incansável deixa o sofá para buscar a caixa de brinquedos, sai de lá com uma boneca que precisa ser trocada e ninada. Onde estão os cremes? 'Abri abri'. Como se diz? 'por favor', lá vai ela lambuzar a mão de creme e encantar de aromas a sua boneca. A Goiaba descascada - e sem sementes - é devorada e os dedos pequenos são degustados como se de açúcar fossem. As chaves, as chaves. Ela aponta para as chaves da casa que estão penduradas na parede. Ela deseja sair, quer cuidar das plantas, sobretudo depois que ganhou um regador. Gato! Gato! há que se encontrar tempo para atravessar a rua e cumprimentar os gatos de nossa vizinha. Tantos são, mas há apenas um que atende aos seus rogos e chamados e se esparrama no chão para receber carinhos. Hora de voltar para casa, hora de descansar um pouco, de dormir um pouco. O sono a invade, Maria resiste o quanto pode. Procura repetir o seu repertório de reinações, mas aos poucos ela se rende. Encanta os travesseiros e as cobertas com a sua presença. Descanse meu amor, logo mais nos vemos, estaremos aqui.

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