sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: os pedidos

Crônicas de um pai: os pedidos

Dominando a linguagem e as situações surgem as demandas mais engraçadas e inusitadas. Nada a estranhar se em uma mesma frase Maria disser:

'Papai, mamãe quero irmãozinho e quero chocolate'.

é o poder ultra jovem....

Crônicas de um pai: de repente, 2

Crônicas de um pai: de repente, 2

Dois anos atrás estávamos em maternidade de São Paulo aguardando o nascimento de nossa primeira filha. Antes de nos internarmos visitamos Santa Teresinha que, nos últimos 70 anos, tanto atendeu minha família. Meus avós chegaram ao bairro ainda nos 40 do século passado e ali os seus filhos ganharam asas na metrópole.

Imaginávamos e esperávamos que o parto fosse natural, mas Lulu não queria dar o ar de sua graça. Esquivava-se e nos demos conta de que não era possível esperar mais. A mãe era exigida, estava no limite de suas forças, mas permanecia disposta.

Leopoldo, chefe da equipe de médicos seria o responsável por cuidar de minha família. Nos falamos enquanto nos preparávamos para entrar na sala de cirurgia. Vesti-me de atendente e aguardei. Os minutos eram longos e a expectativa densa. Lá estava eu aguardando a revelação ao mundo de uma filha. Soubemos apenas poucas semanas antes que seria uma menina. Lembro-me de que ao sair da clínica fiquei algum tempo olhando para o firmamento e liguei para a minha madrinha, tia Nadima, a primeira a saber que eu seria pai de uma menina.

Quando fui chamado à sala de cirurgia, Vany estava sob efeito da anestesia. Ela estava feliz e falante, mais do que o habitual. A cirurgia havia começado e ela não se dera conta. Sentei-me ao seu lado em um banco do tamanho de um prato de sobremesa. Estávamos emocionados e preparados. Dividia-me entre olhar e afagar a mãe e espiar por cima de lençóis para saber por andava a nossa Maria.

Ela surgiu, zangada e incomodada. 'O que estão fazendo?! Eu quero a minha mãe!'. Maria berrava, mostrou-nos os seus pulmões. A equipe julgou que ela queria ser cantora. Tão pequena e já decidida do que ser.

Foi pesada e aproveitou para fazer xixi no equipamento hospitalar. Chorava ainda quando a peguei pela primeira vez. Estava embrulhada e assustada. Ainda sentado naquele banco de crianças eu a tomei e a trouxe para junto da mãe. Ao se dar conta da voz de Vany ela serenou e deu-se conta de que não estava sozinha. Ela era linda!
Vany chorava tudo e algo mais.

As roupas ficaram curtas, as latas de leite foram embora, a expectativa deu lugar à certeza serena de que vamos bem. (As rosas brancas da entrada de nossa casa não cessam de nos lembrar de que os tempos são de ouro)

E, hoje, dia 26 ela completa 2 anos. (24 + 9 = 33 meses). Ela está bem, ainda acorda chamando por nós cheia de dengo. Ela pede abraços e diz o 'obrigada, papai' mais doce de minha vida. Toda menininha ganhou a sua primeira pulseira colorida depois de Vany se cansar de vê-la usar as suas maria-chiquinhas nos pulsos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: achar graça

Crônicas de um pai: achar graça

Não sabemos quando começou. Há tempos Lulu abriu espaço em seu repertório para desenhos e quadrinhos. Aos poucos compreende o que assisti e acompanha e, agora, aprendeu a achar graça. Ri do tropeção, ri da dissimulação, acha graça de uma cena, Maria aprendeu o sentido da graça, não mais aquela simples que buscava fazê-la sorrir quando bebê, falo daquela que pede discernimento. Ela é uma menina quase mocinha, sem dúvida.

Crônicas de um pai: hospitais

Crônicas de um pai: hospitais

Eu os detesto! A sensação desconfortável de que algo saiu da linha, de que uma bactéria está descontrolada e causando mal, de que ossos estão quebrados. Sim, dores dizem que há algo fora do lugar e que, de alguma forma, deixei a porta aberta ao risco. Ninguém dirá que está adoentada a pequena Maria querendo descobrir o que há além de cada porta de vidro.
Há a girafa, nome que domina bem, inclusive o fonema que tanto trabalho lhe dá. Quase noventa centímetros, 'Deus do céu! Quanta menina em meus braços!' A sala da pediatra de plantão nos aguarda, de tão atento me torno desatento ao suco que levo nas mãos e o deixo cair. Não chego a molhar a mãe e a médica. Nem uma, nem outra riem da minha situação patética, apenas minha Lulu, ela está bem. Medicada e de volta para casa.

ps. Adeus, hospital! Grato!

Crônicas de um pai: conversas com o pai

Crônicas de um pai: conversas com o pai

'papai, o que cê tá fazendo'

estou fazendo a sua mamadeira

'papai, o que cê tá fazendo'

estou fazendo a sua mamadeira

(ela tornará a perguntar com o mesmo gesto
de inquietação, parará apenas quando eu lhe oferecer
a mamadeira dizendo

'eeebaaa! qui delícia'

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: conversas com a mãe

Crônicas de um pai: conversas com a mãe


'Mamãe, quê ce tá fazendo?!'

lavo louças, minha filha

'dá mão, vem comigo'

do que precisa meu amor

'pega chave, passea'

filha, está chovendo

'pega meu chuva, cadê meu chuva'

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (3)

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (3)

Passo a ouvir 'papai' dezenas de vezes ao longo do dia e fico a lembrar das primeiras palavras e de como nos perguntávamos quando o vocabulário dela despertaria. Quando as meias encurtam e as marcas dos calcanhares ficam no meio da sola do pé, aliás, o macacão de dormir usado ainda ontem é bom exemplo: as pernas mal cobrem as canelas.
Quando ela segue o familiar hábito diário de chocolate e, de repente, diz 'chocolate, papai!, qué chocolate'! Outro dia, mamava e agora diz o que tem vontade de comer. Você se dá conta de que ela cresceu quando ela nomeia o mundo de acordo com os usos que lhe dá. O triciclo ora é 'velocípe', ora 'abacaxi'; sim, abacaxi, por que ela roda pela casa cantado 'piui abacaxiii'.
Sim, ela cresceu quando ao chegar à casa do Padrinho ela se põe a procurá-lo e lá pelas tantas levanta os braços e diz: 'cadê o padinho?!'

Crônicas de um pai: por que assim?

Crônicas de um pai: por que assim?

Não deixo de me surpreender com Lulu. O riso grande e farto, a disposição e a alegria para o que há além da porta de seu quarto, ela me comove. No dia de seu batizado ganhou um pequeno terço de sua madrinha, cada vez que pede para brincar em seu quarto, antes de iniciar as suas reinações solicita o tercinho para usar entre os seus dedos. Mãos levantadas e sorriso largo para exibi-lo e saudá-lo. Lulu está feliz, chama pela mão para brincar - dá mão!' -, quer todos juntos e ao seu redor. A vida é um milagre!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: a última viagem

Crônicas de um pai: a última viagem

A última viagem de minha mãe foi uma visita a Aparecida. Ela contava mais de 90 anos e a sua mobilidade estava comprometida. Caminhou feliz e sentou-se em bancos de tijolos como se fosse ainda jovem. Nada queria perder, tudo desejava tornar a fazer. Por razões várias, o dia da Padroeira é de Dona Nassima, também.

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (2)

Crônicas de um pai: você se dá conta de que ela cresceu quando (2)

Após o banho do final da tarde ela se antecipa e lhe diz 'qué papa', ainda ontem você a chamava para comer, agora, algo mudou. Quando ao comer ela diz o nome de cada alimento, se deseja o que lhe é oferecido retribui com os polegares bem junto ao rosto em sinal de positivo, se não, virá o rosto e diz 'não'.
Você se dá de que ela cresceu quando leva para o banho a boneca e lhe pede sabão para lavá-la. Quando ela aprende a dizer que sente dor e diz como aconteceu o machucado. Quando ela reconhece caminhos e lugares. Sabe dizer quando entrou na rua de casa e quem são os amiguinhos que encontrará em sua escola.
Quando ela entra no banho e se coloca a dizer 'qui delícia' e você se lembra dos primeiros dias quando dava banho em uma menininha que ficava apoiada sobre o seu braço o tempo todo de tão pequenina.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: thumbs up

Crônicas de um pai: thumbs up

Agora é assim, o quibe abriu a refeição de Lulu. Ganhamos o primeiro thumps up da noite, depois disso, o espaguete rendeu-nos o segundo. Não estou certo de como tudo começou, mas estamos nos divertindo. Ela traz os polegares bem junto ao rosto e sorri.

Crônicas de um pai: mudanças

Crônicas de um pai: mudanças

O apetite cresceu e mudou. Afinal não é possível esperar que aos dois Lulu banqueteie-se tal como fazia seis meses atrás. Ainda é boa de garfo, mas agora alterna boas refeições e outras sofríveis. O problema são os pratos cozidos, há dias em que diz não frango e ao arroz, no entanto, frutas e legumes a salvam. Fico a imaginar aquela pequenina e as mudanças todas que enfrenta. Outro dia mal andava e agora caminha pulando. Não é fácil crescer, não é fácil ouvir as sinapses estalando estrelas e fogos.

Crônicas de um pai: o jacaré

Crônicas de um pai: o jacaré

A paixão da vez são as canções que trazem jacarés. Galinhas e corujas, cães e sapos estão fora do jogo. E lá vamos nós procurar as canções, saltamos páginas e no caminho bloqueamos alguns entulhos. Descoberta a canção do jacaré que come o dedão do pé a farra está feita. Ela ri satisfeita e feliz. (Eu rio feliz com a alegria dela.)

sábado, 6 de outubro de 2018

Crônicas de um pai: receita certa, as panquecas da mãe

Crônicas de um pai: receita certa, as panquecas da mãe

Os últimos dias foram exaustivos, afinal criar cardápios não é tarefa simples. Lulu sempre foi boa de garfo, comia de tudo e pedia mais. Cremos que o resfriado que persiste a deixa incomodada a ponto de alterar o seu apetite. O jantar de ontem foi uma dessas ocasiões nas quais tentamos e tropeçamos. Do prato inicial, Lulu não deu a mínima ao seu amado brócolis que ficou perdido no meio do prato. Voltou-se para o ovo cozido que devorou. No entanto, o sucesso que habilitou, uma vez mais, a cozinha foi a receita de panquecas de carne moída de Dona Vany. Ufa!!! Pobre Vany, dormiu a pensar na mistura de hoje..

Crônicas de um pai: quase dois

Crônicas de um pai: quase dois

Em breve serão dois anos, dois anos em sua companhia, dois anos de aventuras luluzianas, dois anos nos quais eu e Vany aprendemos e, agora sei, nos tornamos ainda mais próximos, mais amantes, afinal, criamos a nossa pequena grande família.

Crônicas de um pai: areia e aveia, em casa

Crônicas de um pai: areia e aveia, em casa

Refeita das reinações em seu tanque de areia, alimentada e banho tomado é hora de dormir. Descansa e de tão fatigada sequer vira de lado, dorme sono profundo e distante agarrada à ovelha fiel. Ao acordar Lulu é manhosa. Ronrona ao sentar-se na casa, pede colo, solicita mais do travesseiro e da cama. Levantar-se é processo lento e preguiçoso. Calçada e no chão, há muito a fazer, percebe os rumores da cozinha e caminha aos pulos para saber o acontece em sua casa. Dona Vany prepara um bolo de aveia. Lulu fica confusa com as palavras, tão parecidas e diferentes. Digo-lhe que pode comer, que deve experimentar a textura da aveia. De forma lenta a pequena mão acaricia e experimenta a aveia. Empolga-se e sorri para as suas reinações.

Crônicas de um pai: areia e aveia

Crônicas de um pai: areia e aveia

Já houve tempo em que Maria caminhava pelas nossas mãos até o gramado do parque. Ela gostava de sentir os pés descalços roçando a grama úmida do sereno da manhã. Sentava-se no chão e procurava 'fozinhas' (florzinhas). Criava pratos imaginárias e fartava-se de tanto comer e dar de comer aos pais. Agora, tudo mudou. Na última vez em que chegou ao parque havia em seus gestos uma terna resistência. Quando se percebeu descalça começou a caminhar para sair do parque e buscar o tanque de areia. Não houve conversa, queria 'binca nareia'. Não havia choro de manha, apenas a expressão de uma vontade, a necessidade de correr na areia e criar as suas construções (criar e desmanchar). Eu e Vany mudamos os planos, deixamos a grama e fomos para a areia. Fomos felizes, nossa menina-quase mocinha de forma espontânea nos contava do que precisava.

ps. francamente, por que não percebemos antes? afinal, quando dirigíamos até o parque nossa Lulu de sua janela favorita reconheceu a paisagem dos caminhos que levam ao parque e gritou 'binca nareia'.